COVID 19, epidemia ou surto?

Por José Maria Nóbrega, cientista político, em 15 de abril de 2020 às 17h



No mundo mais de 2 milhões pessoas foram infectadas pelo novo corona vírus (COVID19). A taxa de letalidade foi de menos de 10%. No Brasil, o registro superou as 23 mil pessoas, com mais de 1.500 mortes, uma taxa de letalidade que não ultrapassa os 7%. A taxa epidemiológica para qualquer doença, segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID), é de 10 indivíduos mortos para cada grupo de cem mil habitantes. A taxa mundial de contaminação é de mais ou menos 28 mil pessoas por cada grupo de cem mil habitantes, mas a taxa de mortalidade é de 1,66/100 mil. No Brasil, a taxa de contaminação é de 12/100 mil e a taxa epidemiológica é de 0,72/100 mil. Nem a taxa mundial, nem a brasileira, são epidemiológicas, segundo a CID.

Vamos nos dedicar a analisar os índices brasileiros entre os dias 30 de março, quando começa os casos a ficarem mais acentuados, e o último dia de dados consolidados, 14 de abril. O que percebemos analisando os dados nacionais, é que o dia de pico até agora foi o dia 08 de abril, com 2.210 casos registrados de infecção. Os dias subsequentes foram de tendência decrescente. Como podemos ver nos gráficos abaixo:


Fonte: https://covid.saude.gov.br/

Os estados com maior número de casos registrados e mortes são os apontados na tabela abaixo, e que correspondem a 81% dos dados de óbitos do país, com destaque a São Paulo com cerca de 45% das mortes.

Fonte: https://covid.saude.gov.br/

Os dados regionais mapeados mostram a supremacia da região Sudeste, como podemos ver na ilustração abaixo:

Com toda essas diferenças regionais e concentração de óbitos e casos em cerca de 19% das unidades federativas, estranha a tomada de decisão uniforme dos governos, que em sua maior parte adotou a política de isolamento social radical, na qual impõe, muitos através de decretos e cerceamento individual por parte de suas instituições coercitivas, às pessoas a quarentena buscando, a partir de dados e estudos contestáveis (a maioria dos estudos sobre a relação positiva entre quarentena e controle viral mostra pobreza em modelagem estatística inferencial, a exemplo do estudo do Imperial College (https://www.imperial.ac.uk/), controlar o que parece ser incontrolável.

Analisando a curva normal, a tendência que essa política pode resultar é num retardo do vírus em sociedade, ou seja, um maior tempo do vírus no meio social.  Observando o gráfico abaixo, a curva mais vertical (azul) aponta para o maior número de casos em sociedade em menor tempo, com a sua base mais curta no que diz respeito ao tempo do vírus no meio desta. Políticas de isolamento, que podem diminuir o pico, mas prolongar o vírus letal, podem ser hipotetizadas nas linhas coloridas, conforme:



Além do país está adotando a política mais radical, como outros países também estão adotando e só retardando o vírus em sociedade, a epidemia não foi confirmada segundo o indicador da CID. Estamos com um dado inferior de mortes por cem mil habitantes de um indivíduo por cem mil (0,72). O que há no país é o estrangulamento do sistema de saúde pelas más gestões.

Só a título de exemplo, mais de 160 municípios da Paraíba solicitaram “calamidade pública”, alguns deles sem ao menos um caso de óbito por COVID19. Sabemos o histórico de muitos municípios brasileiros, sem plano diretor (a metade deles), sem poder arrecadatório, dependente de recursos federais, mal geridos e com vários escândalos de corrupção e contas não aprovadas pelos tribunais de conta. A tal “calamidade pública” veio “bem a calhar”.

Do dia 30 de março até 14 de abril, tivemos uma média de 1.313 casos registrados com 1.532 óbitos, com uma taxa de 0,72/100 mil e com a supremacia dos dados no Estado de São Paulo que computou mais de 690 mortes, mas com uma taxa de 1,57/100 mil, o dobro da média nacional, mas ainda inferior ao dado epidemiológico da CID.

Acredito que ainda temos muito o que analisar a respeito desse fenômeno. Mas, devemos refletir sobre o que estamos fazendo. O isolamento radical em todo o território nacional me parece equivocado. Quanto mais retardarmos o vírus na sociedade, mais tempo ficaremos expostos a ele (vide gráfico da curva normal). O normal seria a contaminação pelo maior número, com o arrefecimento do surto em menor tempo. Continuaremos a acompanhar com atenção os fatos, os dados e os políticos.

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