Apenas o Rio separa nas estatísticas os encontros de cadáver e ossada


Paola Serra - Jornal Extra 

A Secretaria estadual de Segurança do Rio tem comemorado a diminuição expressiva dos homicídios dolosos (quando há intenção de matar) no estado — julho apresentou a menor taxa desde 1991. Além disso, o chamado índice de letalidade violenta — que inclui homicídio doloso, roubo seguido de morte, mortes em confronto com a polícia (o chamado auto de resistência) e lesão corporal seguida de morte — também caiu: foram 2.767 vítimas de janeiro a julho de 2012, contra 3.084 no mesmo período do ano passado.
Mas há outros índices relativos a morte escondidos nas estatísticas: os encontros de ossadas e de cadáveres já somam 334 ocorrências até julho deste ano, número equivalente a 13,9% dos homicídios ocorridos em 2012. São índices que apenas o Rio divulga em separado. São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul também divulgam estatísticas de criminalidade, mas não separam os números de corpos e ossadas encontrados.
Para José Maria Pereira da Nóbrega Júnior, coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade Federal de Campina Grande e estudioso do assunto há dez anos, o problema está na falta de investigação da polícia — que impede que os índices provisórios, como os encontros de cadáver, sejam analisados enquadrados ou não como homicídios:
— É uma forma de camuflar os dados, ajudar os números. Seria conveniente que tivéssemos bancos de dados criminais completos. O mínimo seria saber se esses encontros de cadáveres foram ou não homicídios. Mas o ideal seria encontrar os autores dos crimes.
Em São Paulo, por exemplo, tais dados não são divulgadas enquanto não há a certeza da procedência do corpo — se foi vítima de morte natural ou homicídio.
Para o sociólogo e pesquisador da UERJ Glaucio Soares, que estuda homicídios desde 1972, os encontros de cadáver são quase sempre vítimas de homicídios:
— Mas não há camuflagem dos números. Essa separação ajuda, inclusive, nos estudos. No caso do encontro de ossada não dá para saber quando a pessoa foi morta.
Para especialista, melhor controle
Para a antropóloga e professora do Instituto Universitário de Pesquisas (Iuperj) Jaqueline Muniz, que coordenou a Secretaria de Segurança na época da reformulação das estatísticas, em 1999 — quando passaram a ser divulgados os encontros de cadáver e de ossada — as mudanças implantadas serviram para controlar melhor as mortes violentas. Segundo ela, o Rio é o pioneiro na divulgação desses dados:
— Os outros estados não têm cobertura plena (dos dados divulgados) e as estatísticas criminais não são abertas à sociedade.
Outro índice que pode embutir homicídios é o de pessoas desaparecidas. Apenas entre janeiro e julho deste ano, foram 3.407 casos, número superior ao das mortes. Jaqueline Muniz explica que, como grande parte dos parentes dos desaparecidos nem retorna à delegacia para notificar o encontro da pessoa, a ocorrência fica em aberto. Nesses casos, precisam de checagem interna.
— Só camuflam os dados se quiserem.
Por meio de nota, a Secretaria de Segurança informou que, como os índices de letalidade violenta são um indicador estratégico da secretaria, as ocorrências de encontro de cadáver e encontro de ossada recebem mais atenção da Corregedoria Interna da Polícia Civil (Coinpol) e também pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) e, assim, é muito difícil que esses casos não resultem numa investigação.


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