Uma mulher é morta a cada duas horas


Publicado em 18.07.2010


Números deixam Brasil no 12º lugar no ranking de homicídios femininos. Maioria das vítimas tem de 18 a 30 anos, faixa etária de Eliza Samudio

Tatiana Farah
Agência O Globo

SÃO PAULO – Uma mulher é assassinada a cada duas horas no Brasil, deixando o País em 12º no ranking mundial de homicídios de mulheres. A maioria das vítimas é morta por parentes, maridos, namorados, ex-companheiros ou homens que foram rejeitados por elas. Segundo o Mapa da Violência 2010, do Instituto Sangari, 40% dessas mulheres têm entre 18 e 30 anos, a mesma faixa de idade de Eliza Samudio, 25 anos, que teria sido morta a mando do goleiro Bruno Fernandes.

Entre 1997 e 2007, 41.532 meninas e adultas foram assassinadas, segundo o Mapa da Violência 2010, estudo dos homicídios feito com base nos dados do Sistema Único de Saúde (SUS). A média brasileira é de 3,9 mortes por 100 mil habitantes e o Estado mais violento para as mulheres é o Espírito Santo, com um índice de 10,3 mortes. Dados do Disque-Denúncia, do governo federal, mostram que a violência ocorre na frente dos filhos: 68% assistem às agressões e 15% sofrem violência com as mães, fisicamente.

No Rio, o 8º mais violento, a taxa é de 5,1 mortes. Em São Paulo, onde Eloá Pimentel, 15 anos, foi morta em 2008 após ser feita refém pelo ex-namorado em Santo André, a taxa é de 2,8. O Estado agora acompanha o desfecho do assassinato de Mércia Nakashima.

O sociólogo Julio Jacobo Waselfisz, responsável pelo levantamento do Mapa da Violência, criou um ranking das cidades com maior incidência de homicídio feminino em relação à população de mulheres. Dezenove municípios têm incidência de assassinatos maior que o país mais violento do mundo para as mulheres, El Salvador, com 12,7 mortes por 100 mil habitantes. Em Alto Alegre, Roraima, e Silva Jardim, Rio, a taxa chega a ser 80% maior. Nos últimos cinco anos, o índice foi de 22 e 18,8 mortes, respectivamente.

Outras nove cidades do Rio estão entre as 30 mais violentas: Macaé (7º lugar), Itaguaí (14º), Guapimirim (19º), Saquarema (22º), Rio das Ostras (23º), Búzios (27º) e Itaboraí (29º). Entre as 30 mais violentas, oito são capixabas, incluindo Vitória, com 13,3 mortes por 100 mil habitantes. Duas são paulistas, Itapecerica da Serra e Monte Mor, esta em 6º lugar, com 15,2 mortes.

“A impunidade é o maior instrumento de incentivo à violência. A lei da selva impera em detrimento da educação, numa sociedade que exalta a violência. É preciso criar uma cultura da tolerância e da aceitação das diferenças”, diz Waselfisz.

Segundo dados divulgados pela ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, ao jornal O Globo, os chamados do Disque-Denúncia passaram de 46 mil em 2006 para 401 mil em 2009. No primeiro trimestre deste ano, o serviço cresceu 65% em relação a igual período do ano passado.

Os relatos de violência triplicaram: de 9.300 para 29 mil. As mulheres agredidas têm entre 20 e 45 anos (62%), e nível médio de escolaridade. E 40% das assassinadas tinham de 18 a 30 anos. Os agressores têm entre 20 e 55 anos. Segundo Nilcéa, os crimes ocorrem quando elas terminam o relacionamento violento ou decidem ter um filho.

Autora do livro Assassinato de mulheres e direitos humanos, Eva Blay diz que há um padrão de agressores. Em sua pesquisa, de cada dez mortas por conhecidos, sete foram assassinadas por companheiros ou ex. As vítimas são de todas as classes sociais: “Para os assassinos, a noção de serem proprietários das mulheres começa muito cedo”.

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