Criminalidade, violência e falta de estado, eis a realidade do sistema penitenciário brasileiro

» ANÍBAL BRUNO
Detentos baleados em motim
Publicado em 12.05.2010

Três presos foram atingidos por disparos possivelmente efetuados por PMs, que tentavam apartar briga. Quarenta apenados acabaram sendo transferidos

Três presos foram baleados ontem durante motim no Presídio Aníbal Bruno, no Sancho, Zona Oeste do Recife. Policiais militares passaram a atirar dentro do presídio para conter briga generalizada, que teria começado por causa da atuação de milícia em um dos pavilhões. Depois do tumulto, que durou duas horas, 40 detentos foram transferidos.
A confusão teve início por volta das 9h, quando presos do pavilhão J, pertencentes a uma milícia, espancaram um detento do pavilhão B. Os detentos de quatro pavilhões, que tomavam banho de sol, resgataram o homem que apanhava e resolveram revidar as agressões que dizem ser cometidas com frequência pelos integrantes da milícia.

Os criminosos trocaram pedradas e pauladas no pátio da prisão. “A Polícia Militar disparou vários tiros para acalmar os presos”, afirmou o gerente-executivo da prisão, Geraldo Severiano. Ainda não se sabe, porém, se os disparos que acertaram três detentos saíram de armas dos policiais ou se algum outro detento possuía arma de fogo. Também será apurado por que os PMs usaram armas letais, em vez de balas de borracha. “Quem estava no momento achou necessário usar o armamento letal. Isso varia muito. Não posso dizer que foi certo ou errado. A unidade dispõe de armamento não letal, bala de borracha”, afirmou o superintendente de Segurança da Secretaria-Executiva de Ressocialização (Seres), Isaac Wanderley.

O preso Alan Arruda Guedes, 31 anos, acusado de assaltos e homicídio, foi baleado na cabeça. Internado no Hospital Otávio de Freitas, segundo a Seres, ele estava consciente. Familiares do detento afirmaram que ele apresentava sinais de cegueira. Os outros atingidos pelos disparos foram Marcone dos Santos Gouveia, 28, preso por assaltos, baleado no pé, e Rinaldo Luiz de Oliveira, 26, acusado de tráfico de drogas e tentativa de homicídio. Ele levou um tiro no braço.

O Batalhão de Choque da PM entrou no presídio para acompanhar a retirada dos presos que seriam transferidos. Mesmo com a entrada dos policiais, alguns detentos continuaram brigando. Nas torres de vigilância do presídio, policiais deram tiros de advertência.

CHAVEIRO

Novamente, a figura do chaveiro – preso que tem entre suas funções abrir e trancar celas – está envolvida em um motim. Cheios de privilégios, os chaveiros, segundo outros presidiários, abusam da autoridade repassada pela direção das unidades prisionais. A medida gera descontentamento entre os detentos. Mesmo proibidos pelo o juiz titular da 1ª Vara de Execuções Penais, Adeildo Nunes, os chaveiros permanecem no presídio.

O líder da milícia denunciada por outros detentos é o preso Antônio Luiz Cabral, Tonho da Moto, 45, acusado de vários homicídios e suposto justiceiro. Ao notar a presença de fotógrafos, outros presos fizeram uma faixa pedindo a transferência dele do Aníbal Bruno. O pedido foi atendido. No fim da tarde, 40 presos do pavilhão J, entre eles Tonho da Moto, foram encaminhados para as unidades prisionais Ênio Pessoa Guerra, em Limoeiro, no Agreste, e Barreto Campelo, em Itamaracá, Grande Recife.

Disponível em: http://jc3.uol.com.br/jornal/2010/05/12/not_376729.php