A questão oriental

Publicado no JC, Opiniões, 25/12/2016 - Edição de Natal.

José Maria Nóbrega Jr.

A jihad é um tema bem delicado e costuma deixar os ânimos bastante alterados quando se emplaca nessa discussão. Na Universidade brasileira é praticamente um tabu falar de Israel, e a Palestina é vista sempre como vítima de todo o processo, o lado fraco que precisa de defensores, sobretudo a esquerda intelectual de historiadores e sociólogos de plantão. Vamos entrar um pouco nessa seara delicada tendo como condutor do pensamento o ex-secretário de estado norte-americano Henry Kissinger.
Israel nasceu numa região inóspita e de pequena extensão territorial. A comunidade árabe viu o surgimento de Israel como uma ofensa. A existência de Israel e suas façanhas militares foram sentidas no mundo árabe como uma humilhação.
Duas gerações de árabes foram formadas com a convicção de que Israel é um usurpador ilegítimo do patrimônio islâmico. Em 1947, os árabes rejeitaram um plano da ONU para a participação do protetorado britânico na Palestina em dois Estados separados. A liga árabe foi contra a formação de dois estados.
A questão é que os árabes, sobretudo os islâmicos ortodoxos, não seguem o modelo de ordem internacional ocidental, que tem suas bases nos princípios vestfalianos de estados soberanos e laicos. O líder egípcio, Anwar Sadat, até tentou superar a ordem do Islã e seguiu os princípios conceituais de ordem internacional vestfaliana, mas terminou sendo assassinado. O mesmo aconteceu com o ex-premiê Yitzhak Rabin, assassinado por um judeu radical religioso.
Nos últimos vinte anos Israel viu surgir organizações que tem como principal motivo de sua existência exterminar o estado judeu. No Líbano, na Síria e nos territórios palestinos – especialmente em Gaza – uma força política e militar exercida por islamistas radicais – Hezbollah, Hamas e o Estado Islâmico -, proclama a jihad como um dever religioso para pôr fim ao que é em geral denunciado como a “ocupação sionista”.
Não há acordo próximo para uma ordem internacional de equilíbrio de poder entre árabes e judeus. A ordem vestfliana não é aceita pelos árabes. Israel sabe disso, portanto não acredita em nenhuma possibilidade de paz e com as ameaças constantes sofridas pelos seus vizinhos radicais, fica difícil o recuo. É importante destacar que o único modelo de democracia é Israel.


José Maria Nóbrega Jr. é cientista política da Universidade Federal de Campina Grande, PB.

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