Estatuto do Desarmamento

José Maria Nóbrega Júnior
 Publicado no Jornal do Commercio, Recife. PE. Em outubro de 2016.

No final do ano de 2003, através de decreto presidencial, foi criada a Lei nº 10.826, mais conhecida por “Estatuto do Desarmamento” (ED). Em 2005 a população brasileira foi às urnas e mais de 59 milhões de cidadãos votaram contra a proibição da venda de armas e munição no Brasil. Mesmo a população rejeitando tal proibição, o governo brasileiro impôs mais regras restritivas ao porte e posse de arma de fogo.

Os defensores do ED trazem argumentos interessantes a respeito da eficácia deste dispositivo no controle da criminalidade violenta, sobretudo os homicídios. Por exemplo, Gláucio Soares e Daniel Cerqueira – renomados e experientes pesquisadores da violência -, testaram a disponibilidade de arma de fogo em sua correlação às taxas de homicídios provocadas por arma de fogo no Brasil. Chegaram à conclusão que entre 1980 e 2003 o número de homicídios perpetrados por arma de fogo aumentou de 6.104 para mais de 36 mil, com aumento de 8,3% ao ano. E de 2003 a 2013 o crescimento foi menor com percentual médio anual de 0,53%, o que evitou que mais de 121 mil pessoas fossem assassinadas no Brasil.

Observando os dados de números absolutos de assassinatos provocados por arma de fogo na região Nordeste do Brasil - utilizando o mesmo número de anos no comparativo ‘antes e depois’ de entrar em vigor o ED, ou seja, oito anos antes e oito anos depois - entre 1996 e 2003 o crescimento percentual foi de 56% saltando de 5.476 homicídios para 8.555 mil perpetrados por arma de fogo.  O que resulta num aumento de 7% ao ano. De 2003 a 2011, saltou de 8.555 para 14.572 óbitos provocados por arma de fogo na região, resultando em 70% de crescimento e/ou 8,75% ao ano.

O que houve com o Nordeste para que o Estatuto do Desarmamento não funcionasse? Por que os homicídios perpetrados com arma de fogo cresceram em maior proporção no período pós-Estatuto? Onde essas vidas foram salvas colegas Soares e Cerqueira? No Nordeste não foram!

O ED não funcionou, e foi justamente com a sua entrada em vigor que os assassinatos se tornaram mais frequentes na região nordeste. O estado brasileiro restringiu o acesso às armas no intuito de “controlar” os assassinatos, mas parece que o tiro saiu pela culatra...


José Maria Nóbrega Júnior é cientista político da Universidade Federal de Campina Grande, PB.

Comentários

  1. A resposta está no livro "Mentiram pra mim sobre o desarmamento", de Bene Barbosa. Forte abraço! Prof.Fábio Correia - editor do blog: wwww.filosofiacalvinista.blogspot.com.
    Me convide quando for fazer algum debate sobre o tema.

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