Homicídio de Taxistas


Gláucio Soares - Sociólogo e Cientista Político


Em vários países do mundo, os taxistas têm uma taxa alta de vitimização por furto, roubo, latrocínio e homicídio. Em 2010, nos Estados Unidos, a taxa de vitimização de taxistas por homicídios foi de 7,4 per 100,000 taxistas, muito mais alta do que a de outros profissionais em outras ocupações, que foi de 0,37. O dinheiro fácil que a vítima com frequência carrega, o fato de que o próprio taxi pode ser usado para escapar, e a existência de taxis na rua a, praticamente, qualquer hora, são incentivos importantes. No período, houve mais de mil e cem homicídios de taxistas naquele país, com a média de 38 por ano.


Como lidar com esse chamariz?

A pesquisa de Chaumont Menéndez e sua equipe usou dados comparativos, referentes às cidades americanas que implementaram e às não implementaram legislação tornando compulsória a instalação de câmaras fotográficas ou filmadoras no carro, demonstrando que essa medida é eficiente.

A pesquisa acompanhou as tendências das cidades divididas nesses dois grupos durante 15 anos. A redução no homicídio de taxistas foi três vezes maior no grupo de cidades que ordenaram a instalação das câmaras. A pesquisa, de caráter exploratório, analisou os clippings do noticiário e outros tipos de dados de 26 cidades. Essa experiência sugere que, nas condições americanas, as câmaras salvam vidas, mais do que as divisões à prova de bala usadas em muitos taxis.

O efeito da legislação sobre a redução na taxa de homicídios pode ser aquilatado comparando o período anterior à instalação das câmaras com o período posterior: a taxa depois da instalação compulsória é sete vezes menor do que antes.
Além disso, a estória dessas mudanças, estimulada, pesquisada e documentada pelo National Institute for Occupational Safety e pelo Health's Division of Safety Research mostra que políticas públicas baseadas em conhecimento sólido podem reduzir dramaticamente a violência e o crime.

Há outros dados que podem ajudar: Charles Rathbone analisou cerca de seiscentos homicídios de taxistas nos Estados Unidos e no Canadá de 1980 a 1994. Há uma lista de regularidades nesses homicídios que podem embasar a formulação de políticas públicas: em 94% dos casos, o ataque fatal ocorreu com o taxista dentro do carro; 85% foram com armas de fogo (que podem ser detectadas por um “pica-pau”, um detector de metal).

Há um horário da morte - as noites são muito mais perigosas: mais de quatro em cinco ocorrem à noite. Se pensarmos em taxas, talvez as diferenças sejam ainda mais impressionantes, porque há muito menos taxis circulando à noite do que durante o dia.
Os assassinos sabem onde atirar: ¾ dos ferimentos que levaram às mortes são na cabeça e no pescoço. A cabeça é particularmente vulnerável, uma vez que duas entre cada três mortes foram causadas por tiros na cabeça.

E os assassinos? O que sabemos sobre eles? Dois em três têm menos de vinte anos e 47% atuaram sozinhos. Um em quatro estava fora do carro. Cuidado, portanto, com as paradas na rua, além do que não podemos descansar quando o passageiro sai.

Esses dados podem contribuir para treinamento de taxistas para trabalhar com mais segurança. Não sabemos como são no Brasil e não saberemos até que a grande maioria de nossos professores pesquise os problemas do país, contribuindo para a formulação de politicas públicas que salvam vidas. Até lá, só podemos trabalhar com dados importados.
É possível: aqui, no Distrito Federal, o Paz no Trânsito reduziu as mortes no trânsito à metade em quatro anos.

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