Por que não devemos fazer greve

Gostaria que fossem consideradas as ponderações seguintes sobre a oportunidade da greve de docentes decidida recentemente por uma assembleia da ADUFF.

1. A greve é extremamente prejudicial aos cursos de Graduação. Interrompe as aulas, desfaz o acúmulo pedagógico registrado, suspende avaliações. Sejamos claros: arrebenta os cursos. Mesmo quando as aulas são repostas – o que nem sempre acontece – é impossível imaginar que os cursos, depois de uma greve, não sofram  gravíssimos prejuízos.
2. A greve  é extremamente prejudicial aos cursos de Graduação. Não afeta o conjunto do trabalho acadêmico  dos professores e estudantes de pós-graduação, cujas pesquisas, estudos, cursos, preparação de artigos, participação em congressos, viagens, reuniões, etc., continuam tranquilamente.
3. A greve é politicamente desastrosa porque esvazia a universidade. De fato, e apesar das conclamações da ADUFF, a quase totalidade de estudantes e professores deixam de vir à universidade. Esvaziada, a universidade perde força de pressão. A greve poderia vir a ser  um instrumento de luta  se ela se limitasse a interromper as aulas em determinado dia para que as pessoas que assim desejassem  pudessem se manifestar nas ruas. No passado recente, pudemos constatar como determinadas manifestações de rua tiveram êxito – na luta contra a construção da suspeita “rua-rodovia” e contra o aumento das passagens das barcas. Tais manifestações só se tornaram viáveis porque a universidade estava em funcionamento. Se ela estivesse em greve, vazia, nada poderia ser feito. A paralisação da Universidade é um mimetismo inconsequente em relação às lutas de trabalhadores. Quanto estes paralisam o trabalho, fazem cair os lucros dos patrões.  Não é o que acontece quando a universidade entra em greve. Os únicos prejudicados são os próprios grevistas, ou seja, nós mesmos, professores e estudantes, em particular, os de graduação.
4. A greve é insustentável do ponto de vista ético, porque os professores continuam ganhando seus proventos no fim do mês. Em nenhum lugar do mundo, nem no Brasil, salvo na função pública, grevistas ganham salários. Isto se deve, evidentemente, ao descaso do governo em relação à prestação de serviços públicos e, em especial, em relação à educação. Fazendo greve, os grevistas estão sendo involuntariamente coniventes com este descaso.
5. A greve, se implementada, consagrará uma decisão antidemocrática, porque decidida por um pequeno grupo de professores que não consultou o ânimo e a vontade da comunidade acadêmica concernida.
6. Por todas estas razões, permanecerei oferecendo meus cursos normalmente. Quem desejar fazer greve, que a faça. Mas que respeite o direito daqueles que não estão convencidos de sua oportunidade e adequação.

Daniel Aarão Reis
20 de maio de 2012

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