E A SOCIEDADE? NÃO TEM RESPONSABILIDADE ALGUMA?

[a polícia não pode estar em todos os lugares, a polícia sozinha não resolverá o problema da violência no país]

Folha sp
Polícia se exime, e promotor culpa lei


VIOLÊNCIA
Major afirma que corporação não pode deixar cidade descoberta para vigiar organizadas
DE SÃO PAULO
A polícia avalia que não houve falhas, mas seu serviço de inteligência não detectou o agendamento do confronto na internet. O Ministério Público diz que a legislação é antiga e frouxa.
Ambos pedem mudanças. Mas aparentemente ninguém sabe ao certo o que fazer para impedir mortes no futebol.
"Não podemos prejudicar o policiamento ordinário da cidade em detrimento a um evento esportivo", afirmou o major Marcel Soffner, porta-voz da Polícia Militar de São Paulo. "A coisa ali [a briga] não foi brincadeira, não. A coisa ali foi complicada."
Ontem, um policial declarou que estava próximo e que praticamente assistiu à briga. Soffner defendeu a corporação. "Ele [o policial] era um nas viaturas que estavam lá. Na hora, não havia condição de fazer muita coisa", disse.
Ele afirma que não houve falhas, mas declarou que mudanças podem ser feitas, como antecipar o início dos trabalhos de seu efetivo. O outro plano é mapear as redes sociais da internet. "Não podemos garantir que não possa voltar a acontecer. Mas vamos trabalhar ao máximo para evitar que aconteça."
E pede ajuda ao Ministério Público, que responde.
"As pessoas sempre atuam em massa, nunca sozinhas, e estamos falando de 200 pessoas brigando. Infelizmente a saída não decorre de acordo com nossa vontade, mas sim pela lei. E nosso código penal é brando", declarou o promotor Thales Cezar de Oliveira, coordenador do PAI (Plano de Atuação Integrada) do futebol, que reúne ao todo 11 promotores.
Ele afirma que a primeira medida do grupo será apurar o homicídio -um promotor será designado para acompanhar os trabalhos da polícia.
"Depois, é sentar e rever tudo isso. Não só entre promotores, mas também as polícias Civil e Militar, clubes, federações para definirmos o que fazer", disse Oliveira.
E também citou a internet.
"A partir deste evento [morte do torcedor], vai haver um incremento e um aumento no número de pessoal para que não ocorra este tipo de situação", disse. "É relativamente simples fazer uma monitoração na rede quando você tem dados. E a polícias Civil e Militar têm esses dados."
Há anos a Promotoria adota medidas para impedir a violência nos estádios. O promotor Fernando Capez acabou com o CNPJ das torcidas -na prática, pouco mudou.
Recentemente, Paulo Castilho, hoje no Ministério do Esporte, também atuou na área, e verificou-se uma queda de casos de violência nos estádios. Em clássicos, por exemplo, a torcida visitante passou a ter apenas 10% dos ingressos disponíveis.
Para Oliveira, o xis da questão é a legislação. "Nosso código penal é de 1944. Penas de até quatro anos podem ser substituídas por alternativas como doação de cestas básicas. O torcedor sente a fraqueza da lei, e a impunidade impera. Há, ainda, o problema da falta de provas, câmeras, testemunhas", disse.
A respeito da briga de anteontem, Oliveira diz que, por enquanto, pouca coisa foi esclarecida. "Tem muita gente falando muita coisa. Precisamos aguardar as investigações."(LUCAS REIS, MARCEL RIZZO E ROGÉRIO PAGNAN)

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