Início de um debate relevante para a (semi)democracia brasileira: o crime realmente será vencido pelas forças do estado?

Vivemos momentos de incertezas e conflitos nunca dantes vistos no Rio de Janeiro. Traficantes/criminosos em retirada com as forças do estado dominando o espaço controlado pela força paralela ao estado político/civil.


A imprensa vem divulgando o esforço do estado em retomar o controle a muito tempo perdido nas comunidades cariocas. O crime organizado que domina as favelas do Rio surgiu na década de setenta de dentro dos presídios cariocas. Falta de garantias institucionais, corrupção de agentes do sistema, desorganização do estado em suas instituições coercitivas, foram alguns dos fatores que corroboraram para  surgimento dos grupos criminosos que perpassaram seu domínio sobre os muros das carcerárias.

Dessa forma, o crime entrou nas mais diversas instâncias institucionais, o que foi muito bem representado no filme "Tropa de Elite 2". Os criminosos estão muito além dos traficantes, encontramos esses nas figuras das milícias e dos políticos corruptos.

A revista Veja desta semana estampa em sua capa dizeres que afirmam o início do domínio do estado sob os criminosos. A questão a saber é: quais criminosos o estado está combatendo? O crime pode ser definido através de uma única variável, o tráfico?

Os criminosos não são apenas aqueles homens armados que organizam o tráfico de dentro das favelas do Rio de Janeiro, mas também grupos de atores políticos que estão dentro das instituições políticas facilitando o trabalho das gangues de criminosos, muitos desses atores são financiados pelo próprio tráfico. Quantos políticos eleitos com o dinheiro de traficantes estão, agora, sentados em suas cadeiras de parlamentares na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro?

Outro problema é a migração da criminalidade. Muitos criminosos já vêm migrando para o Nordeste desde o início deste século. São Paulo é o estado que parece ter contribuído mais com tal imigração. Muitos criminosos paulistas hoje ocupam vagas em presídios nordestinos. Com a diminuição das oportunidades no Sudeste os criminosos passam a procurar lugares mais seguros para refúgio ou mesmo novas atividades ilegais.

Outro ponto que deve ser dado destaque é a questão dos presídios brasileiros. O problema é muito grave e o controle do estado muito incipiente. Se um estado não consegue controlar o seus sistema prisional, dificilmente conseguirá controlar a criminalidade e a violência.


Por José Maria Nóbrega - cientista político

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