Cientista Político afirma que Dilma precisa se distanciar politicamente do presidente Lula

Opinião

A eleição de Dilma

POSTADO ÀS 14:50 EM 01 DE Novembro DE 2010 (blog de jamildo, Jc online)

Por Adriano Oliveira

A eleição de Dilma representa mais uma ruptura com as estruturas que inibem o progresso socioeconômico do Brasil. As ações de FHC, em particular as privatizações, enfraqueceram a prática patrimonialista no interior do estado brasileiro. A vitória de Lula mostrou simbolicamente que a mobilidade social existe no Brasil e que os “de baixo” podem chegar ao poder numa sociedade hierárquica. O sucesso eleitoral de Dilma contribui ainda mais para o enfraquecimento da hierarquia social. Neste caso, a hierarquia de gênero.

Os determinantes clássicos que elucidam a escolha eleitoral, apesar dela ter vencido no segundo turno, explicam o sucesso da petista. Dilma venceu em razão de ter Lula ao seu lado. Lula é um governante aprovado pela população brasileira, proporcionou bem-estar econômico aos brasileiros, e é do PT, partido admirado por parte dos eleitores.

Mas Dilma, ao contrário dos que muitos achavam antes da campanha, não é incompetente. E nem sofre de paralisia gerencial e intelectual. Dilma foi vendida pelo marketing como gestora competente. E o eleitor acreditou nesta promessa. Cabe a ela tornar o estado eficiente. O discurso de Dilma após eleita sugere que ela tem ideias próprias, algumas, inclusive, que contradizem com parte da “intelectualidade” do seu partido.

Dilma defendeu a liberdade de expressão, a gestão pública eficiente, o fortalecimento do mercado interno e a interação econômica com outros países. Estes temas foram abordados de modo tímido pela candidata na campanha. E a defesa intransigente da liberdade de expressão não estava no seu programa inicial de governo. Ao abordar estes temas após eleita, Dilma mostra que não depende exclusivamente do PT e do presidente Lula para governar.

Dilma tem dois desafios. O primeiro é saber lidar com os interesses patrimonialistas da sua ampla base partidária. Dilma não pode lotear o estado desconsiderando a competência e a conduta do ator nomeado. É infantil acreditar que Dilma ou qualquer outro presidente tenha condições de governar sem construir o presidencialismo de coalizão. Mas Dilma pode tentar fazer diferente. Neste caso, reconhecer o estado como organização em que os interesses privados não podem contaminá-lo.

O presidente Lula poderá ser um problema para Dilma. Lula sairá do governo nos braços do povo. Lula a elegeu. Diversos brasileiros atribuem as suas conquistas econômicas a ele. Portanto, Dilma, sempre que for ao espelho refletir sobre a eficiência do seu governo, poderá ver a sombra de Lula. Este, por sua vez, em razão de alguma insatisfação, poderá opinar sobre Dilma. Com isto, sem intenção ou não, desgastar a imagem da sua criatura.

Dilma deve assumir o governo pensando em ser reeleita. Com isto, ela descobrirá que precisa se distanciar politicamente do presidente Lula. Ele pode ser seu amigo e até conselheiro. Mas nunca um ator que atua em sua sombra. Dilma precisa mostrar aos brasileiros que tem autonomia em relação a Lula e sabe lidar com o PT ou com qualquer outro partido. Dilma, diante de uma forte oposição que sofrerá, precisará dialogar e respeitar as instituições. Dilma deve enxergar o Brasil como uma nação integrada por um só povo independente da preferência partidária

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