Olhar “o nosso umbigo”

Por José Maria Nóbrega – doutor em ciência política pela UFPE e pesquisador do NICC-UFPE

Antes de olharmos para o que acontece externamente e acusar os EUA por negligência aos direitos humanos, devemos fazer o “nosso dever de casa” e olharmos para o “próprio umbigo”.

Em matéria publicada no Folha On Line, dia 23 de outubro de 2010, os EUA são acusados de “abuso e negligência” pois, segundo os documentos divulgados no polêmico site WikiLeaks, desde a invasão americana no Iraque, em 2003, morreram mais de 100 mil iraquianos, dos quais cerca de 70 mil civis. Ótima a divulgação e a estampa da matéria, milhares de pessoas sendo assassinadas pelos americanos sem direito algum!

Mas o que dizer que, segundo os dados do SIM (Subsistema de Informações de Mortalidade) do SUS (Sistema Único de Saúde) do Ministério da Saúde brasileiro, nada mais, nada menos que 292.457 pessoas foram assassinadas no Brasil entre 2003 e 2008 (não acrescentei os anos de 2009 e 2010, pois esses ainda não estão disponíveis!). Ou seja, três vezes mais do que se acusa os EUA terem matado desde a invasão do Iraque. Como se pode ver, aqui é pior que o Iraque! E o Brasil é mais negligente que os EUA!

Quantas dessas pessoas assassinadas no Brasil não tiveram garantidos os seus direitos civis? Quantas dessas mortes não foram nem sequer investigadas? A ONU deve incluir o Brasil no Tribunal Penal Internacional como um país que não respeita os direitos humanos e civis?

A média de mortes do Brasil é de mais de 48.000 assassinatos por ano! No Iraque a acusação é de 70.000 civis em sete anos, o que dá uma média de 10.000 homicídios/ano. No Brasil não há guerra civil ou qualquer outro tipo de guerra declarada. Mas, se mata mais por arma de fogo do que qualquer outro país em guerra no mundo! Quase 90% dos assassinatos são praticados com tais armas. Muitas delas disparadas por traficantes, policiais corruptos e milicianos.

Acusar os EUA é muito fácil, mas antes temos que olhar para “o nosso umbigo cara pálida”!

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