A explosão de violência na Venezuela

CORREIOBRAZILIENSE • Brasília, quinta-feira, 9 de setembro de 2010 • Opinião • 23


» GLÁUCIO ARY DILLON SOARES


Sociólogo, pesquisador da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj)
 
A violência na Venezuela, particularmente na área metropolitana de Caracas, continua chocando leigos e especialistas. É tão grande que virou matéria central do NewYork Times. O governo de Chávez tentou três tipos de justificativas: os dados estavam inflacionados; a violência cresceu antes; é alta, mas estamos conseguindo baixá-la.

Nenhuma é verdadeira. Briceño Leon, um criminólogo sério, nos informa que a taxa nacional de homicídios naVenezuela é de 75 por 100 mil habitantes. Há poucos anos era de 49. Embora muitas pessoas que se dizem de esquerda (mas será que são mesmo?) não gostem deUribe e gostam de Chávez, precisam saber que, quando Uribe começou o seu mandato, a taxa colombiana era claramente superior à da venezuelana; hoje é menos da metade.Ocrédito não deve ser dado exclusivamente a Uribe, a despeito das suas vitórias sobre o narcotráfico: o controle da polícia na Colômbia é municipal e foram bons prefeitos que implementaram políticas inteligentes que reduziram as taxas de homicídio em seus municípios. Os melhores
exemplos são as principais cidades, como Bogotá eMedellín.

O problema naVenezuela é a incompetência generalizada, com administradores escolhidos em função da sua devoção a Chávez e não em função da competência exigida para o cargo.No que concerne à afirmação de que a violência é antiga, os níveis anteriores, comparativamente, eram muito mais baixos. Além disso, eles não cresceram nos três anos anteriores a Chávez, (1995 a 1997), como reiterei repetidas vezes no meu blog. Evidentemente, o crescimento da violência sob Chávez não é novidade.

E a confiabilidade dos dados? Talvez a única fonte confiável de informações sobre a violência naVenezuela provenha de uma ONG. A guerra dos dados já foi pior,com fortes discrepâncias entre muitos levantamentos e estimativas e os dados oficiais.Mesmo assim, a situação pintada pelos dados oficiais era tão negativa que, durante alguns anos, tais dados não foramdivulgados.

Hoje, o próprio Instituto Nacional de Estatísticas (INE) reconhece que houve maisde 19 mil homicídios em 2009. Abemda verdade, diga-se que o relatório foi feito sob encomenda da vice-presidência e entregue a Chávez. Como no Brasil, as vítimas são predominantemente homens; pobres; e solteiros. Mortos com armas de fogo.

O New York Times, num requinte de perversidade comparativa, mostra que é mais arriscado viver em Caracas do que em Bagdá, com bombas, Al Qaeda e tudo. O preço de ter um país dirigido de maneira personalizada por uma figura narcisista é alto.Morrem mais cidadãos. Os homicídios são apenas um entre vários exemplos que mostramo desastre no qual aVenezuela se transformou.

A militarização da polícia provocou estacionamento na evolução técnica. Foi o queaconteceu em outras ditaduras militares.Majores, coronéis e generais assumiram postos importantes na segurança pública, com péssimos resultados. Em outras áreas violentas, aVenezuela também não se situa bem. Infelizmente, a Opas não usa taxas por quilômetro rodado, o que seria melhor, nem por 10 mil veículos, mas por 100 mil habitantes. Intuitivamente, quanto mais veículos, maior o risco de acidentes.

Nesse quesito, com essa medida (inadequada) o Uruguai está bem situado, com 4,3 mortes por 100 mil habitantes; do outro lado estão o México, o Peru e a Venezuela, com mais de 20. Entre os homens, as mortes por acidentes de trânsito superam asmortes por câncer. Chamar algo de bolivariano não encobre o resultado que os dados impõem: a Venezuela é um dos países da América Latina com níveismais baixos de
segurança cidadã.

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