Cientista Político da Nassau fala para a Revista Algo Mais

Até que as eleições nos separem

Por: Por Ivo Dantas

Juntos até que as eleições nos separem. Se no casamento a promessa é de união em todos os momentos, sejam eles felizes ou de dificuldade, na política o mesmo parece não valer. O índice de divórcio entre políticos antes aliados aumenta a cada novo pleito. Sejam por disputas internas no partido, discordâncias ideológicas, arranjo de forças para driblar o coeficiente eleitoral e conseguir uma vaga no quadro legislativo, ou até mesmo um cargo nas pastas do Executivo, parece que as alianças políticas estão cada vez mais frágeis.

Em Pernambuco, as mudanças são constantes. Normalmente, o lado que consegue vencer as eleições para o Governo do Estado arrecada o maior número de aliados. Se Jarbas Vasconcelos (PMDB), durante sua passagem pelo Palácio do Campo das Princesas, contava com o apoio maciço dos prefeitos de Pernambuco, agora eles estão com Eduardo Campos (PSB). Nas últimas eleições municipais o atual governador conseguiu fazer nada menos do que 144 dos 184 prefeitos, o que o credencia como forte candidato para a reeleição. “Número que com certeza já cresceu neste ano com a proximidade das eleições de 2010”, analisa o cientista político da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Túlio Velho Barreto.

Recentemente, importantes nomes da base de apoio da União Por Pernambuco anunciaram estar do lado de Eduardo Campos para as eleições de governador, somente apoiando candidatos da oposição para o Senado e Câmara. São os casos dos prefeitos de Carpina, Manoel Botafogo, Gislan Alencar (Buenos Aires), Judite Botafogo (Lagoa do Carro) e Ricardo Teobaldo (Limoeiro), todos do PSDB. “Temos um histórico de alianças moldadas de acordo com as perspectivas eleitorais, principalmente no Nordeste. A política partidária brasileira é extremamente fraca, consequência da jovem democracia e da legislação”, diz o cientista político do Instituto Maurício de Nassau José Maria Nóbrega.

Segundo o especialista, a política é um cálculo matemático que explica esses movimentos pelos elementos que compõem a disputa eleitoral. “O que acontece na cabeça dos candidatos é que eles acabam vendo o cenário atual e fazem as contas para ver o coeficiente que vão precisar e quantas vagas na estrutura futura irão existir para que ele se fortaleça”, analisa Nóbrega.

Para ele, um bom exemplo é o caso do deputado federal Inocêncio Oliveira (PR), que sempre esteve ao lado da direita histórica pernambucana. “No momento em que Eduardo Campos subiu no palanque ele foi atrás de fazer as alianças. No ano passado foi a vez do ex-governador Joaquim Francisco, que era do Democratas, ir para o PSB, partido de Eduardo Campos”, lembra o cientista do Instituto Maurício de Nassau.

Na assinatura da ficha de filiação ao novo partido, em setembro de 2009, Joaquim Francisco aproveitou para justificar a migração e adiantar os planos para o pleito deste ano. “Pretendo disputar um mandato de deputado federal. Não é esse o foco da minha nova caminhada, mas pretendo reconquistar o mandato e encontro no PSB uma alternativa sólida para levar adiante o processo de desenvolvimento de Pernambuco”, disse à época.

Todas essas trocas acabam revelando um movimento que não é de hoje, como ressalta Túlio Velho Barreto, e possui um valor histórico na construção das alianças em Pernambuco desde os anos de Arraes à frente do Governo de Pernambuco. Segundo o estudioso, em 1998, quando houve a histórica vitória de Jarbas Vasconcelos por mais de um milhão de votos, e o fortalecimento da União por Pernambuco, que levou o senador do PMDB à reeleição em 2002, começou a se desenhar um novo processo político no Estado, culminando com o crescimento do PT, representado na vitória de João Paulo no Recife, e o início do esfacelamento do grupo comandado por Jarbas ainda em 2003. “O objetivo principal da União por Pernambuco era derrotar Arraes. Passado isso não conseguiu redirecionar suas forças e consolidar o grupo de partidos. Logo após a reeleição de Jarbas nomes de grande densidade eleitoral como Armando Monteiro Neto, Joaquim Francisco, José Chaves e José Múcio deixaram a base governista e criaram um grupo independente. Hoje, a grande base que serviu para Jarbas derrotar Arraes está ao lado de Eduardo Campos, neto do ex-governador”, explica o cientista político da Fundaj.

Um dos que decidiram abandonar a União por Pernambuco ainda no início do segundo mandato do Pemedebista, o deputado federal Armando Monteiro Neto (PTB), é um dos nomes que encabeçaram a campanha de reeleição de Eduardo Campos, além de ser forte candidato para uma das vagas no Senado em 2010. Ele acredita que o movimento teve impacto nas últimas eleições e deve continuar seu caminho para este ano. “Nós inauguramos uma dissidência que foi representada pelo chamado grupo independente. Isso porque entendíamos que a aliança da época, embora ampla, era muito estreita, já que não havia espaço de participação, sobretudo no debate das questões que interessavam fundamentalmente ao Estado. Havia um governo que cada vez mais se fechava dentro de um pequeno grupo que não estimulava o debate interno e não promovia claramente um governo que pudesse ser de um espírito verdadeiramente aliancista”, justifica.

Mas se há uma coisa que a história ensina é que o jogo nunca termina antes do último voto ser apurado, e o pré-candidato para uma das cadeiras do Senado, apesar da confiança, parece saber do risco de uma reviravolta. “Temos um amplo leque de partidos sob a liderança do governador Eduardo Campos, fazendo uma coalizão de forças expressivas, PT, PSB, PTB, PC do B, PR, entre outros. Mas um elemento importante no processo eleitoral é que há eleições em que mesmo com a maioria de prefeitos, pode favorecer um candidato de outro conjunto. Em Pernambuco, isto indica uma tendência que reflete a opinião pública de um governo bem avaliado. Assim, as lideranças políticas tendem a acompanhar essa posição, reforçando a nossa convicção de que o palanque governista terá amplas chances de vitória no próximo pleito”, analisa Armando Monteiro.

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