Existe eleitorado de esquerda?


Por Adriano Oliveira, professor adjunto de Ciência Política da UFPE


Quando alguns políticos não têm argumentos para justificar escolhas, afirmam que fulano será candidato em razão dele representar o espectro do eleitorado de esquerda. Considero esta afirmação estapafúrdia, já que não existe eleitorado tipicamente de esquerda.

O suposto eleitorado de esquerda existiu até a eleição de Lula, pois muitos eleitores declaravam ser de esquerda em razão de serem opositores a ditadura militar. Com a conquista de espaços no poder por parte do PT e o passar do tempo, este suposto eleitorado perdeu adeptos.

Digo suposto em razão de ter como hipótese de que os votos ao PT não eram (e não é) de esquerda. Eles eram motivados pela a expectativa de mudança de uma ordem ainda vigente – atores que apoiaram a ditadura ocupavam fatias do poder e existia a esperança de que um futuro governo do PT (“governo de esquerda”) poderia transformar economicamente e socialmente o Brasil.

A maioria do eleitorado se reconhece como de centro. Amaury de Souza e Bolívar Lamounier mostram isto em recente livro – A classe média brasileira: ambições, valores e projetos. De acordo com os autores, 59% dos eleitores brasileiros – independente do nível educacional – não diferenciam o que é ser de esquerda ou de direita. Destaco que 66% dos entrevistados com nível fundamental não sabem em qual espectro ideológico pertencem.

Partindo da óbvia constatação empírica de que no universo de 66% estão os entrevistados com menor renda, afirmo que o “povão não sabe o que é ser de esquerda ou de direita. Portanto, o “povão” não está nem ai para as supostas diferenças ideológicas entre os candidatos.

Segundo Souza e Lamounier, os eleitores que procuraram definir na pesquisa realizada para o livro o que é ser esquerda ou de direita não fizeram de modo sofisticado. Enfim, não souberam definir adequadamente o que era ser de esquerda ou de direita. Os autores concluem – diante de uma classificação proposta aos entrevistados – que independente do nível educacional, os eleitores brasileiros são majoritariamente de centro.

Em livro que será lançado em meados de março, mostro, com base em pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Mauricio de Nassau, que 40% do eleitorado pernambucano declaram não ter posição ideológica. 16% afirmam ser de esquerda. E 12% declaram ser de direita. Indago: os eleitores que afirmam ser de esquerda sabem o que é ser de esquerda? A obra de Souza e Lamounier mostra que não.

Na eleição deste ano não cabe o debate entre o que é ser de esquerda ou de direita. O eleitor não está interessado na posição ideológica do candidato. Mas no que o candidato poderá lhe ofertar. O candidato a reeleição para o cargo majoritário terá que mostrar o que fez, e se o que já feito atendeu a expectativa do eleitorado. O ator político que pleiteia o governo terá que dizer o que pode fazer, considerando os desejos do eleitor e as fraquezas do atual governo.

O eleitor vota conduzido pela emoção e empatia para com o candidato. O eleitor também vota racionalmente. Isto é: o eleitor deseja votar no candidato que possa lhe fazer melhorar de vida em todos os sentidos. Não importa para ele se este candidato seja de esquerda, de centro ou de direita.

Comentários

Postagens mais visitadas