Homicídios em queda


Publicado em 17.12.2009 Editorial do Jornal do Commercio


Pernambuco conquistou a marca inédita de 12 meses consecutivos com redução na taxa de homicídios, conforme mostramos em reportagem especial recentemente. Uma marca que deve ser saudada principalmente porque representa o resultado de uma política de segurança e ter uma política pública em qualquer setor é fator determinante para chegarmos a algum ponto, seja ao reconhecimento do fracasso e busca de novos caminhos, seja – como se dá agora – à constatação de que o trabalho vem dando bons frutos.
A questão da segurança pública foi posta como prioridade durante a campanha que levou o neto de Miguel Arraes ao governo e continua sendo cobrada pela oposição, que reproduz o gesto simplista de todo agrupamento contrário – criticando posturas e resultados de que igualmente era vítima quando no poder. O fato, porém, de os números apontarem na direção contrária tira o argumento da crítica e nos leva ao reconhecimento de que é preciso acreditar e investir nesse caminho.
Nós, que temos sido críticos severos da violência no atual e em governos passados – seja do adversário do governador Eduardo Campos, o senador Jarbas Vasconcelos, seja, mesmo de Arraes e tantos outros que vêm lutando contra a maré da criminalidade que atinge a todo o Brasil – não temos como negar que o modelo adotado pelo governo, instituindo metas e fazendo o acompanhamento mensal e sistemático da atuação tem rendido frutos positivos e fazemos votos para que seja mantido e aprimorado esse modelo com a continuada redução de crimes em Pernambuco.
Mas da mesma forma não podemos cair na tentadora idéia de que os números em queda são suficientes para estabelecer tendências definitivas. Até porque, no mesmo período em que o governo orgulhosamente divulgava suas estatísticas, o site PEbodycount – que acompanha a criminalidade em Pernambuco – divulgava o estarrecedor número de 3.796 homicídios em nosso Estado, entre 1º de janeiro a 9 de dezembro deste ano. Um número que seria assustador, por exemplo, até mesmo se atribuído a mortes de soldados norte-americanos em guerra no Afeganistão ou no Iraque.
A comparação nos remete, assim, a um estado de guerra não declarado, onde a repetição da criminalidade banaliza a morte e nos faz tolerantes com o que deveria ser intolerável. Entretanto, temos que considerar a questão no conjunto de um gravíssimo problema social que não pode ser debitado ao atual governador. A perspectiva deverá ser invertida, considerando sempre o que pode ou é feito no sentido de mudar um cenário crônico que tem a ver com a estrutura social que temos e devemos transformar para, só assim, exigir números mais favoráveis, resultados mais positivos, seja qual for o governante.
O fundamental agora é reconhecer o que está dando certo, sem perder de vista que há ainda um caminho muito extenso a ser percorrido, até porque estamos envolvidos no mesmo processo de degradação da qualidade de vida numa relação circular de miséria que gera violência e violência que gera mais miséria. Donde a conclusão evidente de que não apenas Pernambuco mas todo o País terá que se conciliar com uma cultura de pacificação que passa pela qualidade de vida de seu povo, com a pedagogia da paz desde os primeiros passos na escola.
Isso implica em considerar o acerto da política que vem sendo adotada pelo governo de Pernambuco, a partir das declarações do governador Eduardo Campos, quando anunciou os números: “Temos muito o que fazer, mas a vitória é a da mudança qualitativa, na política de segurança, trocando a força pela inteligência, a repressão pela prevenção, com o governo presente, além da integração da Polícia Militar com a Civil e a sociedade”.


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