Sonho de liberdade em forma de música

» RESSOCIALIZAÇÃO

Publicado em 07.11.2009

No próximo dia 18, detentos da Penitenciária Juiz Plácido de Souza, em Caruaru, Agreste, lançam o primeiro CD produzido em uma unidade prisional do Estado. Durante show, eles gravarão um DVDPedro Romero

promero@jc.com.br

CARUARU – Uma grande festa vai marcar, no dia 18, o lançamento do CD Tom da liberdade, o primeiro gravado por detentos de uma unidade prisional. O trabalho conta com 12 músicas no estilo balada pop e vem sendo desenvolvido há cerca de um ano na Penitenciária Juiz Plácido de Souza, nesta cidade do Agreste pernambucano. Durante o evento, que acontece no Baco’s Recepções, será gravado também o DVD. Tudo foi feito pelos presos, das músicas à capa do CD. As letras falam de esperança, liberdade e dos altos e baixos na vida de qualquer pessoa.
Com som apurado e melodias simples, as músicas parecem mais fortes na voz e nos acordes de quem vive atrás de muros e grades. Na faixa Fases, por exemplo, os seis integrantes do grupo entoam versos como: “Assim eu posso enxergar que essa fase ruim um dia vai terminar e a alegria virá/Quando amanhecer seremos felizes e a vitória poderemos desfrutar/Uma fase bem melhor virá/Num amanhã mais feliz, um sonho realizar”.
O CD foi gravado em um estúdio de Caruaru. Das 12 letras, seis foram feitas pelo tecladista Helton Mesquita, 27 anos, que dá aulas de música na penitenciária duas vezes por semana. “Eu já tocava em eventos e na igreja evangélica. Graças a Deus esse é um presídio-modelo e faz da música uma terapia. A gente ocupa a mente com coisas boas”, diz Helton. Ele conta que chegou à unidade há dois anos, acusado de homicídio, e ainda não foi julgado.
As outras letras foram compostas pelo vocalista Salim Vieira, 44, que era cantor profissional e foi preso por falsidade ideológica em 2007. “Sempre quis gravar um CD. Uma das minhas músicas é em homenagem a Cazuza, que foi um grande intérprete e também vítima das drogas”, destaca Salim, que espera ficar livre ainda este ano.
Os outros integrantes do grupo são Joseilson Alves Vieira (back vocal), 35, Natan Pereira (contrabaixo), 23, Gilmar Fagner (guitarra), 20, e o agente penitenciário Antônio Marcos, que toca bateria. Antônio substituiu um ex-baterista libertado no Mutirão Carcerário realizado pela Justiça. Gilmar Fagner também entrou no lugar de um detento que participou da gravação, mas não continuou na banda. Segundo eles, o grupo é permanente, mas os integrantes mudam por causa das circunstâncias.
Os ensaios eram feitos nos corredores. Agora acontecem em um pequeno quarto que serviria para o fabrico de confecções. A maioria dos instrumentos veio de doações. De acordo com a direção do presídio, o principal incentivador do grupo foi um ex-detento que passou 18 dias preso e resolveu apostar no trabalho, patrocinando a confecção de mil cópias do CD. A capa, os convites e a concepção para o lançamento foram desenvolvidos por Eduardo Araújo, 37, detento que já trabalhava com comunicação e eventos.
Na festa de lançamento, o grupo vai interpretar também outras canções. O padrinho da banda é José Júnior, presidente do grupo AfroReggae, com sede no Rio de Janeiro, que já visitou a penitenciária e incentivou os detentos. Durante o evento, eles vão homenagear João Evandro, um dos integrantes do AfroReggae, assassinado no dia 18 de outubro.

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