Instituições do sistema de justiça criminal e níveis de democracia: seu alto nível de associação com base no coeficiente de correlação estatística

Instituições do sistema de justiça criminal e níveis de democracia: seu alto nível de associação com base no coeficiente de correlação estatística

(José Maria Nóbrega - Doutor em Ciência Política)

As instituições têm um papel determinante para o avanço democrático. Ordem e segurança, garantias institucionais a vida, aos bens e a liberdade de expressão, justiça equânime e igualdade perante às leis, tudo isso é fundamental para a garantia da democracia.

A democracia é um modelo de governo no qual há três dimensões básicas: a dimensão eleitoral, a dimensão institucional e a dimensão do accountability horizontal. É o método democrático que só se consolida com regras do jogo claras e respeitadas. Essas regras e códigos de conduta são a base da consolidação democrática. A inefetividade institucional ameaça a estabilidade democrática e isto pode ser visto nos modelos de regimes políticos híbridos.

Os regimes híbridos são classificados em zonas marrons semidemocráticas ou semiautoritárias (MAINWARING ET AL, 2001; OTTAWAY, 2003). Essas zonas híbrido-institucionais são caracterizadas por baixa accountability horizontal (O´DONNELL, 1998), o resultado são níveis baixos de efetividade das regras constituídas, altos níveis de corrupção e de criminalidade.

Tabela. Países selecionados por região no Globo - Sistema de Justiça Criminal - Democracia

FONTES: World Justice Project (2023) / Democracy Index (2023).

A tabela acima descreve os dados estatísticos da justiça criminal em alguns países distribuídos no Globo. A estatística foi produzida pelo World Justice Project (WJP23) em seu fator oito do Índice Global de Estado de Direito que corresponde a justiça criminal. Essa variável é multifatorial e corresponde: a capacidade da investigação criminal, a eficácia do sistema, se é capaz de reduzir o comportamento criminoso, se é imparcial, se é livre da corrupção, se está livre da influência dos governos e se respeita os direitos dos acusados.

O fator é medido entre 0 (nenhuma efetividade/capacidade) e 1 (total efetividade/capacidade). A média do Brasil, por exemplo, foi de 0,32, com o seu melhor índice sendo o indicador de corrupção (0,53) e o seu pior foi o da imparcialidade (0,11).

Há países com altos níveis, como a Finlândia (0,84), a Dinamarca (0,83) e a Bélgica (0,71); e há países com níveis baixíssimos, como a Bolívia (0,21) e El Salvador (0,25). Os Estados Unidos, com média de 0,66, são um país que apresenta problemas no quesito da imparcialidade do seu sistema de justiça criminal.

O coeficiente de correlação entre os países em seus sistemas de justiça criminal e os níveis de democracia é alto: R = 0,892; o que demonstra que a associação entre o fator oito de estado de direito (instituições de justiça criminal) e a qualidade das democracias é forte.

O índice de democracia do Democracy Index mede a variação entre 0 (nenhuma democracia) e 10 (total democracia) e aqui parametrizamos os dados entre 0 e 1 como o indicador de justiça criminal. O resultado do coeficiente de correlação corrobora a tese de Acemoglu e Robinson (2012) sobre a força institucional na condução da prosperidade das nações e a tese de North (1990) sobre a base institucional para o controle da economia de mercado, do crime e da violência. Reforçando a base teórica de nosso estudo publicado recentemente (NÓBREGA, 2022).

Gráfico. Distribuição dos dados do sistema de justiça criminal e do índice de democracia dos países selecionados


Fontes: World Justice Project (2023) / Democracy Index (2023).

 

O alinhamento do gráfico acima ilustra a associação entre as duas variáveis.

O sistema de justiça criminal efetivo está associado a uma democracia robusta.

 

Referências:

 

ACEMOGLU, D.; ROBINSON; J. (2012). Por que as Nações Fracassam. As origens do poder, da prosperidade e da pobreza. Ed. Campus. São Paulo.

MAINWARING, Scott; BRINKS, Daniel e PÉREZ-LIÑAN, Aníbal. “Classificando regimes políticos na América Latina” in DADOS – Revista de Ciências Sociais., vol. 44. n. 4, pp. 645-687, 2001

NÓBREGA, José Maria. (2022). DEMOCRACIA E JUSTIÇA CRIMINAL: O SEU ALTO NÍVEL DE ASSOCIAÇÃO. Direito, Processo e Cidadania. Recife, v. 1, n. 2, p. 145-166, maio/ago., 2022

NORTH, D. C. Instituições, Mudança Institucional e Desempenho Econômico. Ed. Três Estrelas. São Paulo, 2014. Primeira edição em inglês de 1990.

O´DONNELL , Guillermo. “Accountability Horizontal e Novas Poliarquias”. Lua Nova, nº 44, 1998

OTTAWAY, Marina. Democracy Challenged: The rise of Semi-authoritarianism. Washington, D.C, EUA: Carnegie Endowment for International Peace, 2003

World Justice Project, Rule of Law Index 2023. Washington, DC: World Justice Project, NW.

THE ECONOMIST INTELLIGENCE UNIT. Democracy Index, 2023.

 



Comentários

  1. Parabéns por esta objetiva correlação, entre nações com alta eficácia em elucidar crimes. Como os EUA com aproximadamente o dobro da capacidade do Brasil para elucidação criminal, mas demonstra semelhante baixa imparcialidade na dinâmica deste fluxo inquisitório até o processo penal! Em que se pode avançar na política de segurança pública para incrementar a imparcialidade neste processo?

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