A dinâmica crescente dos homicídios no Brasil
A violência é hoje o maior problema público a ser enfrentado pelos gestores públicos brasileiros. Além de um problema de segurança pública, é um problema de estabilidade democrática, já que a maioria das semidemocracias tem na falta de segurança pública efetiva uma característica comum a elas. O Brasil desde 1989 apresenta uma tendência de crescimento da violência vis a vis o processo de redemocratização. Ou seja, a instalação formal de instituições de representação e garantias de direitos básicos de cidadania não foi suficiente para superar o legado autoritário nas instituições e na própria sociedade, esta desprovida de ethos democrático.
Os homicídios, dessa forma, aparecem como um indicador importante de violência, senão o mais importante por ser a principal proxy de violência utilizada pelas organizações internacionais, e, portanto, no Brasil, aparecem como o grande problema público de difícil solução. Como afirmo desde a minha Tese de Doutorado defendida em 2010 no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/1558), os homicídios são um fenômeno multicausal, ou seja, a explicação de sua dinâmica depende de uma série de explicações teóricas e empíricas por parte das Ciências Sociais. Como lá demonstrei, essa multicausalidade pode ser testada empiricamente e descobri que, no caso do Nordeste e Pernambuco em específico, a pobreza e a desigualdade tiveram relação inversa com o crescimento da violência homicida, isto é, os indicadores clássicos de pobreza e de desigualdade não explicaram a explosão dos homicídios na região entre os anos 1998 e 2008.
Analisando os dados do IPEA DATA com base em bancos de dados secundários (Ministério da Saúde, Ministério da Justiça e secretarias estaduais), entre 1989 e 2021, foram registradas 1.546.467 mortes por agressão no sistema de informação do Ipea. O crescimento da violência homicida veio acompanhado da redemocratização, quanto mais eleições livres e limpas, mais homicídios, uma contradição aos defensores da Constituição Cidadã que não foi suficiente para consolidar a democracia, pois democracia não se consolida sem estado de direito e este depende de instituições de controle da violência e da criminalidade (https://www1.unicap.br/ojs/index.php/dpc/article/view/2181).
O mapa do país, no comparativo 1989 (mapa à esquerda) 2021 (mapa à direita), é a imagem clara de como a violência homicida se tornou o maior problema público e uma grave "doença" social, atingindo a qualidade da democracia brasileira, colocando-a sob risco de retrocesso. Dados do Latinobarómetro demonstram que a maioria da população brasileira não confia nas instituições da democracia (congresso e partidos políticos, por exemplo) e não estão preocupadas se um governo autoritário administre o país, desde que resolva os seus problemas econômicos e sociais (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-41780226).
O impacto percentual com o ano pico, 2017, quando houve 28.302 homicídios de jovens, foi de incríveis 276,7%. O tráfico de drogas, o maior acesso as armas de fogo, as disputas crescentes entre as facções criminosas prisionais, com destaque ao Primeiro Comando da Capital, somado a fragilidade institucional das instituições coercitivas (polícias, promotorias, sistema de justiça e sistema carcerário), explicam boa parte da explosão dos homicídios no Brasil, justamente após a sua redemocratização.
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