As dez cidades mais violentas do Brasil

 As dez cidades mais violentas do Brasil

 


José Maria Nóbrega - Doutor em Ciência Política pela UFPE

Das cinquenta cidades mais violentas do Brasil com populações superiores aos cem mil habitantes, segundo os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2023), vinte e seis delas são nordestinas, com destaque a Bahia que teve 12 cidades entre as cinquenta, ou das 26 nordestinas. 24% das cidades mais violentas do país, são baianas. O cálculo foi feito em cima das taxas por cada grupo de cem mil habitantes. As quatro cidades topo desse ranking são baianas conforme tabela número um abaixo:

 Tabela 1. Ranking das 50 cidades mais violentas do Brasil pelas Mortes Violentas Intencionais (2022)

No.

Município

UF

Taxa de Mortes Violentas Intencionais (2022)

1

Jequié

BA

88,8

2

Santo Antônio de Jesus

BA

88,3

3

Simões Filho

BA

87,4

4

Camaçari

BA

82,1

5

Cabo de Santo Agostinho

PE

81,2

6

Sorriso

MT

70,5

7

Altamira

PA

70,5

8

Macapá

AP

70,0

9

Feira de Santana

BA

68,5

10

Juazeiro

BA

68,3

11

Teixeira de Freitas

BA

66,8

12

Salvador

BA

66,0

13

Mossoró

RN

63,5

14

Ilhéus

BA

62,1

15

Itaituba

PA

61,6

16

Itaguaí

RJ

61,6

17

Queimados

RJ

61,2

18

Luís Eduardo Magalhães

BA

56,5

19

Eunápolis

BA

56,3

20

Santa Rita

PB

56,0

21

Maracanaú

CE

55,9

22

Angra dos Reis

RJ

55,5

23

Manaus

AM

53,4

24

Rio Grande

RS

53,2

25

Alagoinhas

BA

53,0

26

Marabá

PA

51,8

27

Vitória de Santo Antão

PE

51,5

28

Itabaiana

SE

51,2

29

Caucaia

CE

51,2

30

São Lourenço da Mata

PE

50,3

31

Santana

AP

49,4

32

Paragominas

PA

49,3

33

Patos

PB

47,5

34

Paranaguá

PR

47,3

35

Parauapebas

PA

46,9

36

Macaé

RJ

46,7

37

Caxias

MA

46,5

38

Parnaíba

PI

46,3

39

Garanhuns

PE

44,9

40

São Gonçalo do Amarante

RN

44,9

41

Alvorada

RS

44,8

42

Jaboatão dos Guararapes

PE

44,6

43

Duque de Caxias

RJ

44,3

44

Almirante Tamandaré

PR

44,2

45

Castanhal

PA

44,2

46

Campo Largo

PR

43,3

47

Porto Velho

RO

42,1

48

Ji-Paraná

RO

41,8

49

Belford Roxo

RJ

41,8

50

Marituba

PA

41,6

 

 

 

 

Fonte: Secretarias Estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa Social; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Somando as regiões Norte e Nordeste, temos 38 cidades entre as cinquenta, ou seja, 76% da violência registrada está concentrada no Norte/Nordeste. A cidade mais violenta, por sua vez, foi Jequié (BA), com taxa de 88,8 MVI por cem mil habitantes.

O que ocorre na Bahia?

Na Bahia há forte conflito entre facções criminosas e entre estas e o Estado. A Bahia é líder nacional em violência policial com 1.464 mortes decorrentes de intervenção policial em 2022. Há praticamente um clima de guerra civil nas periferias das grandes cidades. Salvador é a capital mais violenta dos estados nordestinos.

As 10 cidades mais violentas e seus principais indicadores de criminalidade e de segurança pública:

 Tabela 2. Ranking das 10 cidades mais violentas do Brasil por suas taxas por cem mil (2022)

No.

Município

UF

Taxa de Mortes Violentas Intencionais (2022)

1

Jequié

BA

88,8

2

Santo Antônio de Jesus

BA

88,3

3

Simões Filho

BA

87,4

4

Camaçari

BA

82,1

5

Cabo de Santo Agostinho

PE

81,2

6

Sorriso

MT

70,5

7

Altamira

PA

70,5

8

Macapá

AP

70,0

9

Feira de Santana

BA

68,5

10

Juazeiro

BA

68,3

 Fonte: Secretarias Estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa Social; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Nesse ranking mais específico, 60% das cidades são baianas.

Os indicadores não são desagregados por município, dessa forma, vamos averiguar os indicadores dos Estados nos quais essas cidades se encontram.

Tabela 3. Roubo (roubo a instituição financeira, roubo de carga, roubo e furto de celulares, roubo a estabelecimento comercial, a residência e a transeuntes) - 2022

 

Unidades

Total

Taxa

Brasil

926.423

456,2

Bahia

71.463

505,5

Pernambuco

51.003

575,9

Mato Grosso

6.123

167,3

Pará

55.036

678,1

Amapá

10.090

1.375,6

Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2023)

Destacar que o maior número de roubos vitima principalmente os transeuntes. Os roubos de celulares são os mais frequentes nos dados.  A taxa do Amapá é absurdamente alta, com mais de mil e trezentos roubos por cada grupo de cem mil pessoas, um estado falimentar da segurança patrimonial.

Tabela 4. Registros de apreensão de entorpecentes - 2022

 

Unidades

Total

Taxa

Brasil

221.308

123,3

Bahia

9.675

68,4

Pernambuco

-

-

Mato Grosso

4.255

116,3

Pará

5.121

63,1

Amapá

-

-

Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2023)

A maior apreensão de drogas em números absolutos se deu na Bahia, mas o maior indicador proporcional indica Mato Grosso com maior impacto. Pernambuco e Amapá não disponibilizaram dados para o período. A apreensão de drogas tem um efeito persuasivo importante no controle social da violência.

Tabela 5. Estrupro e Estupro de vulnerável - 2022

Unidades

Total

Taxa

Brasil

74.930

36,9

Bahia

4.558

32,2

Pernambuco

2.705

29,9

Mato Grosso

1.889

51,6

Pará

4.557

56,1

Amapá

628

85,6

Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2023)

Este indicador é preocupante. As taxas indicam um problema de segurança pública de descontrole da criminalidade. O destaque foi o Amapá, com maior taxa entre os estados das principais cidades mais violentas do país. Pernambuco, apresentou o indicador menos problemático, mas muito acima do tolerável, já que o estupro é um indicador que precisa ter o mesmo tratamento de controle das MVI. 

Tabela 6. Registros de armas de fogo ativos no SINARM/Polícia Federal - 2022

 

Unidades

Total

Brasil

1.558.416

Bahia

50.870

Pernambuco

51.574

Mato Grosso

63.337

Pará

43.560

Amapá

4.989

Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2023) 

Entre 2017 e 2022, o Brasil apresentou aumento de 144,3% na variação em novos registros de armas de fogo no sistema nacional, saltando de 637.972 novos registros em 2017, para mais de um milhão e quinhentos mil armas registradas no sistema em 2022. A Bahia teve crescimento de 135,8% no mesmo período, com 21.577 registros em 2017 passando para 50.870 em 2022. Pernambuco apresentou 187,7% de crescimento. Mato Grosso, 217%. Pará, 212,4% e Amapá, 101,9%.

Nesse mesmo período, houve redução dos MVI o que nos alerta para a relação espúria entre mais armas e mais violência como fator causal.

 

Tabela 7. Total de armas de fogo apreendidas - 2022 

Unidades

Total

Brasil

105.953

Bahia

5.476

Pernambuco

6.185

Mato Grosso

2.251

Pará

3.598

Amapá

403

Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2023)

 

Nesse indicador importante de política pública em segurança, percebe-se que o estado com maior empenho em retirar armas de fogo de circulação, em termos de números absolutos, foi Pernambuco. No entanto, o número de um ano não é suficiente para fazermos conclusões em termos de impacto, mas nos alerta para o fato no qual a política de segurança pública não deve se deter tanto no objeto que mais perpetra MVI, mas no foco ao crime organizado que gera muito conflito direto e indireto conforme nos aponta a literatura.

O mercado de drogas ilícitas gera muitos assassinatos, tanto diretamente, ligado a própria dinâmica do tráfico de drogas, como, também, indiretamente, quando muitos dos líderes das facções criminosas usam de seu poder bélico para dirimir conflitos sociais em suas comunidades, não ligados ao tráfico.

 

Tabela 8. Gastos em Segurança Pública - 2022 

Unidades

Total

Brasil

R$ 124.873.407.235,28

Bahia

R$ 5.277.119.893,03

Pernambuco

R$ 3.320.671.005,89

Mato Grosso

R$ 3.645.305.970,67

Pará

R$ 4.103.685.252,74

Amapá

R$ 907.088.653,91

Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2023)

O que podemos observar neste importante indicador, é que há muito recurso sendo investido na pasta da segurança pública com parco retorno à sociedade. O país gastou mais de 124 bilhões de reais em segurança pública. Os estados com as 10 cidades mais violentas do país gastaram com segurança pública o equivalente a R$ 17.253.870.776,24 de recursos do contribuinte sem o devido controle da violência e, pior, com alto descontrole da criminalidade.

Isso denota falta clara de accountability horizontal das organizações e instituições que compõem o sistema de justiça criminal nacional.

 

Tabela 9. Pessoas privadas de liberdade no Sistema Penitenciário e Sob Custódia das Polícias - 2022

Unidades

Total

Taxa

Brasil

832.295

409,9

Bahia

17.117

121,1

Pernambuco

50.075

552,8

Mato Grosso

19.925

544,6

Pará

19.757

243,4

Amapá

2.977

405,9

Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2023)

Prender, punir, diminuir os espaços para a prática de crimes é importante, mas mais do que isto é fundamental a gerência adequada e científica do cárcere. O que sabemos em nossas investigações é que há muita gente presa no sistema, mas 1/3 dela apenas no sistema de regime fechado. As saídas temporárias é um problema, mas que não temos como avaliar adequadamente por falta de dados confiáveis.

Contudo, há mais de 832 mil pessoas sob custódia do estado nos três regimes e sob os cuidados das polícias, mas o crime simplesmente não é controlado. Mesmo observando um recuo nas taxas de MVI nos últimos cinco anos (de 2017 a 2022 este recuo foi na ordem de mais ou menos 30%), os dados indicam um problema gigantesco para a gestão do Estado.

O cárcere no Brasil foi responsável pelo surgimento de grupos criminosos como o Comando Vermelho, nas décadas de setenta e oitenta, e do Primeiro Comando da Capital, em 1993. Esses grupos se espalharam pelos presídios e cadeias públicas do país e se aprofundaram nas regiões Norte e Nordeste, regiões essas que concentram a maior parte das cidades mais violentas destacadas em nossa primeira tabela.

Ricardo Lewandowski assumiu recentemente o assento no Ministério da Justiça e da Segurança Pública e uma de suas primeiras tomadas de decisão, acertada em minha ótica, foi a condução de um promotor de justiça do Ministério Público de São Paulo, especialista em Crime Organizado, para conduzir a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP).

Isso nos sinaliza a importância de focar no sistema carcerário e em suas vicissitudes tão dramáticas e de difícil solução.

A título de conclusão, é  importante gerenciarmos esses dados fundamentais de criminalidade e de segurança pública para podermos fazer diagnósticos mais precisos e pontuais para que os principais policymakers da segurança pública e do sistema de justiça criminal brasileiro avancem para um cenário mais alvissareiro no controle social do crime e da violência.

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