Cuba, uma ditadura decadente
Por José Maria Nóbrega Jr.
Professor de Ciência Política da UFCG
Nos últimos dias
tivemos a impressionante notícia das manifestações na ilha comunista de Cuba.
Os manifestantes gritavam por liberdade. Ninguém mais aguenta a miséria e a tirania
daquele regime.
Cuba é um regime
autoritário desde a sua origem. Nas principais plataformas de mensuração de
regimes políticos, o país aparece como o pior regime político da América
Latina, atrás até da Venezuela.
Em três das
principais plataformas de mensuração de regimes políticos, Cuba aparece em
último lugar quando o assunto é qualidade do regime democrático. É a pior em
termos de liberdades civis pela plataforma do Democracy Index.
O regime comunista é
tirano e não permite aos indivíduos acesso as liberdades tão caras nas
democracias contemporâneas.
Adiante, exponho os
resultados da análise comparada dos países latino-americanos de acordo com a
plataforma de classificação e mensuração de regimes políticos ‘Democracy Index’
da revista inglesa The Economist. A análise foi feita em 2019, em projeto
de pesquisa de iniciação científica sob minha orientação, com dados referentes
ao ano de 2016, ou seja, o que ocorre em Cuba já era previsto.
O
Índice de Democracia do The Economist
Intelligence Unit (TE) é baseado em cinco categorias: 1. processo eleitoral
e pluralismo; 2. liberdades civis; 3. funcionamento do governo; 4. participação
política; e 5. cultura política. As cinco categorias se inter-relacionam e
constituem um todo conceitual coerente. A condição de realizar eleições
competitivas livres e justas e de satisfazer os aspectos que estão vinculados a
liberdade política é, para tanto, claramente a condição sine qua non de todas as definições. (DEMOCRACY INDEX, 2016)
A
democracia não se resume a soma de suas instituições, é mais do que isso. Uma
cultura política democrática também é decisiva para a legitimidade, o bom
funcionamento e, em último momento, a sustentabilidade da democracia. O
processo eleitoral separa periodicamente a população entre os vencedores e os
perdedores. Uma cultura política que seja democrática bem-sucedida, implica que
os partidos perdedores e aqueles que os integram aceitem o julgamento dos eleitores
e permite a
transferência pacífica de poder (DEMOCRACY
INDEX, 2016). Assim sendo, a The
Economist (TE) objetiva ir além da concepção puramente eleitoral e, também,
do Estado de Direito, isto é, da análise do conceito de democracia delimitado
até então, direcionando-se para a perspectiva deliberativa de democracia.
O
índice de democracia da TE (DEMOCRACY INDEX, 2016) segue uma escala
de 0 a 10, quanto mais próximo de 0 menos democrático, quanto mais perto de 10,
mais democrático. Baseia-se na classificação de 60 indicadores, agrupados em
cinco categorias: processo eleitoral e pluralismo; liberdades civis; o
funcionamento do governo; participação política e cultura política. Cada
categoria desta tem uma classificação na escala entre 0 e 10 e o índice geral é
o resultante de um média simples dos cinco índices. Ajustes para as pontuações
da categoria são feitos caso os países não pontuem 1 nas respectivas áreas
críticas para a democracia:
·
Se
as eleições nacionais são livres e justas.
·
A
segurança dos eleitores.
·
A
influência das potências estrangeiras no governo.
·
A
capacidade do serviço civil para implementar políticas.
Para
tanto, de acordo com o Democracy Index
(2016), as categorias foram construídas na seguinte ordem:
·
Democracias
plenas: pontuação de 8 a 10;
·
Democracias
falhas: pontuação de 6 a 7.9;
·
Regimes
híbridos: pontuação de 4 a 5.9;
·
Regimes
autoritários: pontuação abaixo de 4.
Abaixo,
segue a tabela 1 com os países classificados em seus escores médios de regime
político, e, também, pelas variáveis que compõem o escore médio.
Tabela 1. Classificação dos regimes
políticos Latino-Americanos por critérios e score médio
País |
Regime |
Score médio |
Processo
eleitoral e pluralismo |
Funcionamento
do governo |
Participação
política |
Cultura política |
Liberdades
civis |
1.
Uruguai |
Full democracy |
8.17 |
10.00 |
8.93 |
4.44 |
7.50 |
10.00 |
2.
Costa
Rica |
Flawed democracy |
7.88 |
9.58 |
7.14 |
6.11 |
6.88 |
9.71 |
3.
Chile |
Flawed democracy |
7.78 |
9.58 |
8.57 |
4.44 |
6.88 |
9.41 |
4.
Panamá |
Flawed
democracy |
7.13 |
9.58 |
6.43 |
6.11 |
5.00 |
8.53 |
5.
Trinidad
e Tobago |
Flawed democracy |
7.10 |
9.58 |
7.14 |
5.56 |
5.00 |
8.24 |
6.
Argentina |
Flawed
democracy |
6.96 |
9.17 |
5.00 |
6.11 |
6.88 |
7.65 |
7.
Brasil |
Flawed democracy |
6.90 |
9.58 |
6.79 |
5.56 |
3.75 |
8.82 |
8.
Suriname |
Flawed
democracy |
6.77 |
9.17 |
6.43 |
5.00 |
5.00 |
8.24 |
9.
República
Dominicana |
Flawed democracy |
6.67 |
8.75 |
5.71 |
5.00 |
6.25 |
7.65 |
10.
Colômbia |
Flawed
democracy |
6.67 |
9.17 |
7.14 |
4.44 |
4.38 |
8.24 |
11.
Perú |
Flawed democracy |
6.65 |
9.17 |
5.36 |
6.11 |
4.38 |
8.24 |
12.
El
Salvador |
Flawed
democracy |
6.64 |
9.17 |
6.07 |
4.44 |
5.00 |
8.53 |
13.
México |
Flawed democracy |
6.47 |
7.92 |
6.07 |
7.22 |
4.38 |
6.76 |
14.
Paraguai |
Flawed
democracy |
6.27 |
8.33 |
5.71 |
5.00 |
4.38 |
7.94 |
15.
Guiana |
Flawed democracy |
6.25 |
8.33 |
5.36 |
6.11 |
4.38 |
7.06 |
16.
Honduras |
Hybrid
regime |
5.92 |
9.17 |
5.71 |
3.89 |
4.38 |
6.47 |
17.
Guatemala |
Hybrid regime |
5.92 |
7.92 |
6.07 |
3.89 |
4.38 |
7.35 |
18.
Equador |
Hybrid
regime |
5.81 |
8.25 |
4.64 |
5.00 |
4.38 |
6.76 |
19.
Bolívia |
Hybrid regime |
5.63 |
7.00 |
5.36 |
5.00 |
3.75 |
7.06 |
20.
Nicarágua |
Hybrid
regime |
4.81 |
4.50 |
3.29 |
3.89 |
5.63 |
6.76 |
21.
Venezuela |
Hybrid regime |
4.68 |
5.67 |
2.50 |
5.56 |
4.38 |
5.29 |
22.
Haiti |
Hybrid
regime |
4.02 |
5.17 |
2.21 |
2.22 |
3.75 |
6.76 |
23.
Cuba |
Authoritarian |
3.46 |
1.75 |
4.64 |
3.89 |
4.38 |
2.65 |
Conforme
tabela 1, a maior parte dos países latino-americanos é formada por regimes de
democracias falhas ou regimes híbridos. Adotando a nomenclatura de regimes
semidemocráticos e/ou semiautoritários, a classificação seria: o Uruguai como
único regime democrático consolidado; da Costa Rica até a Guiana como regimes
semidemocráticos; de Honduras até Haiti como regimes semiautoritários; e Cuba
como o único regime autoritário da América Latina.
As
notas de Cuba são sufocantes para a sociedade cubana. Há décadas sofrendo com a
falta de liberdade e com a pobreza, parece que agora a pressão por liberdade e
democracia é uma realidade sem volta. Esperamos a instalação de uma democracia para o povo cubano com o fim do partido comunista.
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