O que importa na Ciência Política?
Por José Maria P. da Nóbrega Jr. Mestre e doutor em Ciência Política pela UFPE.
É difícil para o
estudante de Ciência Política ter a dimensão de quais teorias e metodologias
devem dominar. No quadro político nacional de hoje, repleto de achismos e
interpretações raivosas advindas de experientes cientistas sociais, termina por
piorar essa questão para o iniciante em Ciência Política. Cientistas sociais de
viés marxista tendem a neblinar a discussão política num ritmo alucinante. Alguns
renomados cientistas políticos internacionais rasgaram até as suas próprias
publicações, afirmando que há um risco à democracia no Brasil com a simples vitória
eleitoral de um candidato de direita. Nunca vi tamanha infantilidade.
Escrevo para o estudante
iniciante em sua trajetória na Ciência Política; para o seu sucesso como
analista político sério e imparcial. A análise deve ser institucional com base
em teorias que sejam capazes de levar o politólogo ao teste empírico.
Teorias estruturalistas,
como as marxistas por exemplo, são interessantes do ponto de vista histórico,
mas não conseguem explicar os fenômenos políticos e sociais contemporâneos.
Sofrem de graves limitações no campo empírico e metodológico, fragilizando
qualquer análise política que tenha tal teoria como base.
Teorias consistentes da
teoria política contemporânea conseguem ter muito mais alcance e o que temos é
a realidade social de desigualdade sendo muito mais o resultado de governos irresponsivos
(ineficazes, ineficientes, ímprobos e sem transparência), compostos por elites
predatórias dos recursos públicos e com parco republicanismo (respeito às
leis).
A pobreza e a
desigualdade social não são o resultado de hipotéticas contradições geradas
pela atividade de mercado (leia-se “capitalismo”). Isso é ingenuidade e/ou
desonestidade intelectual. Pobreza e desigualdade social são resultado de
falhas na gerência administrativa do Estado e da corrupção, sobretudo de suas
elites políticas.
Não podemos admitir
agressões aos mecanismos de liberdade econômica e civil em nome de uma
sociedade gentílica socialista. Isso é ilusão e leva à sociedade que segue esse
caminho para a miséria e/ou tirania (vide regimes socialistas atuais na
Venezuela, na Coréia do Norte, na China, em Cuba).
Quer entender o sistema
político de seu país e de outros países?
O caminho teórico é a
análise institucional comparada. Análise do funcionamento das instituições e do
comportamento de suas elites políticas, sobretudo aquelas eleitas no processo
da democracia eleitoral.
Entender o espectro
político é entender o funcionamento formal, e informal, de suas microestruturas
institucionais (com destaque aos três poderes de uma república democrática).
Portanto, o uso de teorias neo-institucionais, teorias pragmáticas da democracia
e de valores culturais baseados no neo-institucionalismo histórico e path
dependence são fundamentais. O estudante de Ciência Política deve investir
pesado nisso.
Para tal, é importante
uma formação clássica e moderna consistente com o entendimento de pensadores
fundamentais da base somado a uma consistente formação teórica contemporânea (de
Aristóteles a Robert Dahl). Evitando se dedicar a teorias estruturalistas de
parco poder de análise da realidade (leia-se: marxismos).
Estudos de teorias que
sejam capazes de entender o funcionamento das elites políticas como atores e
instituições reais e que são fundamentais para o sucesso do modelo de
democracia proposto por aquele determinado país.
Segue abaixo uma relação
de textos e livros fundamentais para o estudante de Ciência Política:
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