Bolsonaro e a democracia
Democracia é um
conceito polissêmico. Há muitas versões e modelos de democracia na literatura. No
entanto, temos no mainstream da ciência política o modelo procedimental
minimalista como pano de fundo da definição contemporânea da democracia. Podemos
definir o regime democrático dentro de parâmetros mínimos, ou seja, critérios
objetivos que nos facilitem a comparação de regimes políticos.
A democracia é um regime político que: 1. promove eleições
livres, limpas, pluripartidárias, periódicas e com direito à alternância; 2. garante direitos civis e
políticos (vida, bens, liberdade de expressão, liberdade de imprensa, acesso à
justiça, resumindo: estado de direito); 3. tem sufrágio universal;
4. os eleitos pelo povo no processo eleitoral livre e justo, controla as forças
armadas.
Esta definição de regime político democrático
está baseada em cientista políticos renomados, como: Robert Dahl, Anthony
Downs, Guillermo O´Donnell, Scott Mainwaring, Leonardo Morlino, Jorge
Zaverucha, dentre outros.
Agora, me digam, qual ou quais dos quatro
critérios foi ou foram violados por Jair M. Bolsonaro? Respondo: NENHUM!
Em primeiro lugar, as eleições no Brasil se
deram dentro da definição; 2. as violações existentes contra os direitos civis
e políticos no Brasil não vêm da presidência da república, mas sim da falta de
eficiência, eficácia e efetividade de suas instituições coercitivas. Polícias
que não investigam crimes, homicídios em elevados índices, justiça lenta e corrupta,
cortes e tribunais oligárquicos e distantes da realidade social do país; 3. as
eleições se deram de forma tranquila e ampla. São milhões de eleitores-cidadãos
que rejeitaram os progressistas do PSDB e do PT; 4. as forças armadas
mantiveram as suas prerrogativas em todos os governos. FHC foi o diferencial
com a criação do Ministério da Defesa em lugar dos ministérios militares. Lula,
Dilma, Temer e Bolsonaro não mudaram nada dessas prerrogativas. Bolsonaro, como
um presidente conservador, dificilmente o fará.
Portanto, o governo de J. M. Bolsonaro não pode
ser classificado como não-democrático. Muito menos, fascista. Quem afirma isso,
deve voltar a estudar.
O que podemos afirmar sem erro, é que o STF
viola constantemente o 2º critério da nossa definição de democracia. Esta instituição
atenta contra a liberdade das pessoas sem o menor pudor. O atentado da prisão
fora da lei, inconstitucional, patrocinada pelo juiz ministro do STF, Alexandre
de Moraes, contra o jornalista Oswaldo Eustáquio é prova cabal dessa violação
ao critério de número dois de nossa definição de democracia.
Desde a redemocratização, ou volta da democracia eleitoral no Brasil, que o regime político não é uma democracia sólida, ou seja, não preenche todos os quatro critérios apontados na definição de democracia. Classifica-se como semidemocrático ou de democracia falha. E não é por causa de Bolsonaro.
Por José Maria Nóbrega Jr. cientista político
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