Os extremos se beijam
Estamos no meio de vários
movimentos e manifestações no Brasil nas últimas semanas. Movimentos de apoio
ao presidente e outros contrários a ele. Nada mais normal em uma democracia.
Faz parte do ritual democrático a participação popular, seja defendendo o
governo, seja o criticando.
No entanto, não é afeito à
democracia movimentos extremistas. Percebemos nessas manifestações, de um lado
grupos pedindo intervenção militar, do outro grupos defendendo a ditadura do
proletariado. O primeiro grupo é um exemplo de extrema direita, o segundo, de
extrema esquerda. O que ambos têm em comum? Os dois defendem regimes
autoritários!
Os extremos se beijam!
Em democracias, esses grupos
infiltrados nas manifestações são efeitos colaterais. Presenciamos em países
europeus grupos de neonazistas que, inclusive, terminam por formatar partidos
políticos e disputarem eleições. Aqui, no Brasil, temos os partidos radicais de
esquerda, que pregam a revolução socialista que defendem a ditadura do
proletariado. Geralmente esses partidos não conseguem ocupar cadeiras nos
parlamentos. O eleitor médio não vota em extremos!
Portanto, o risco à democracia
não é iminente.
Tanto quem pede intervenção
militar, quanto aqueles que defendem a ditadura do proletariado são minorias
radicais, autoritárias, contrárias à democracia, que não conseguem formar
maiorias consistentes.
Os marxista-leninistas e os
militaristas vivem do passado. Estão estacionados na década de 1960.
O grupo antigoverno que tem a
alcunha de “antifas” que, aqui no Brasil, vem sendo representado por torcidas
de futebol organizadas, nada mais são que grupos radicais que promovem
arruaças. Nada tem a ver com a democracia. Eles confundem democracia com
tirania da maioria.
Inclusive, este conceito não é
trivial. É um dos principais conceitos discutidos há séculos pelos filósofos
mais ilustres da política. Dentre eles, Alexis de Tocqueville, Montesquieu,
John Stuart Mill e James Madison, este um dos pais fundadores da democracia
norte-americana.
Como evitar a tirania da
maioria, ou das minorias, já que esses movimentos não retratam a maioria, ou o
eleitor médio brasileiro? A resposta está nas instituições.
A democracia, na verdade, não
é a vontade do povo, ou da maioria. Democracia é um regime político no qual a
vontade do povo é exercida através de representantes, ou de forma direta, mas
que tem como limite as outras vontades (a vontade da aristocracia, por
exemplo). O limite do poder do povo é outro poder. Daí, a existência da
República na qual o poder é exercido por mecanismos de freios e contrapesos.
Por exemplo, o Poder
Legislativo é dividido em duas câmaras. Uma baixa, geralmente representada pela
câmara dos deputados. E uma alta, representada pelos senadores. O senado é a
casa do equilíbrio dos possíveis exageros que vem da câmara baixa, ou seja, o
limite da vontade da maioria.
No legislativo temos a criação
das leis que administrarão a execução das políticas públicas. O Poder Executivo
tem a prerrogativa de administrar e executar o que a lei determina e o Poder
Judiciário é o grande fiscal de se tudo está em ordem.
No Judiciário temos o poder de
julgar possíveis crimes do Executivo e do Legislativo. Portanto, é um poder
fiscalizador do exercício dos outros dois poderes. O Judiciário não pode
legislar e nem executar políticas públicas, restando o poder de julgar.
Esse é o princípio da divisão
dos poderes.
Voltando a falar dos
extremismos, eles, apesar de se agredirem, querem, no final, a mesma coisa, ou
seja, a ditadura. Podemos dizer que são grupos que não colocam em risco a
democracia por si só. São grupos inexpressivos e que só tem impacto na mídia e
quando fazem arruaças ou pedem, muitas das vezes em nome da democracia, o fim
dela.
Como disse Aristóteles, o
segredo do bom governo é o equilíbrio. Equilíbrio entre os grupos sociais,
aristocracia e povo, em que as suas decisões são tomadas levando em conta os
diversos interesses na sociedade buscando o bem-comum. O que Rousseau chamou de
substrato das vontades.
A democracia brasileira ainda
não se consolidou e não foi por causa dos extremistas, que, como vimos, são
minoritários. Nem porque Bolsonaro ganhou as eleições. Inclusive, ele não tomou
nenhuma decisão antidemocrática até aqui.
A democracia brasileira é
falha porque não conseguiu superar o legado autoritário em algumas de suas
instituições coercitivas, porque muitos brasileiros não são tratados de forma
equânime perante às leis, porque em
muitas regiões do país o que impera é o crime organizado e o monopólio da força
não está no Estado, porque a violência está em descontrole há trinta anos,
porque os poderes não se respeitam e passam por cima do equilíbrio madisoniano,
porque a corrupção é desenfreada, não obstante a bem-sucedida Operação
Lava-Jato, porque os direitos civis e políticos não funcionam para todos na
mesma proporção. E isso não foi cria de Jair Bolsonaro, estava aí quando ele
assumiu o cargo em 2019 depois de ter vencido às eleições como um produto
resultado da insatisfação do eleitor médio com o PT e com o PSDB que, como
vimos, são farinha do mesmo saco.
By JMNJR
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