Analisando renda, violência, emprego e educação entre negros e brancos

José Maria Pereira da Nóbrega Júnior - pesquisador líder do NEVU.


A tabela abaixo apresenta os indicadores de renda domiciliar per capita nas regiões do Brasil, bem como as suas taxas de homicídios, anos de referência 2010, último censo do IBGE. Os cálculos das taxas de homicídios foram feitos pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade Federal de Campina Grande (NEVU), para o mesmo ano de referência. Na terceira coluna temos a correlação entre os dois conjuntos de dados. A correlação é um mecanismo que testa o nível de associação entre dois conjuntos de dados. Quanto mais perto de 1 ou – 1 maior a associação. O sinal negativo diz respeito ao sentido da correlação. Neste caso, temos a correlação alta (R=-0,843) com sinal negativo demonstrando que enquanto uma cresce a outra decresce, ou seja, maior renda, menor violência homicida.

Tabela 1. Renda per capita, taxas de homicídios e correlação dos dados
Regiões do Brasil
Renda
tx hom
correl
Região Norte
494,11
37,91
R=-0,843
Região Nordeste
458,63
35,55
Região Sudeste
943,34
20,58
Região Sul
919,9
23,6
Região Centro-Oeste
935,06
31,19
Fonte: IBGE Censo de 2010/NEVU.


Gráfico 1. Renda domiciliar per capita PB - cor da pele


Fonte: IBGE censo 2010.


Acima temos o gráfico que apresenta a distribuição da renda domiciliar per capita na Paraíba para o mesmo ano dos dados da tabela. Temos a distribuição desigual da renda conforme a cor da pele com destaque a diferença entre negros (soma de pardo com preto) e brancos, com quase o dobro de diferença na renda.

Em 2010, nas cidades mais populosas e mais violentas da Paraíba, foram perpetrados 936 assassinatos dos quais 891 vitimaram pessoas negras (soma de pardo com preto), ou o equivalente a 93,5% dos homicídios totais. (NÓBREGA JR., 2019: 82).

Portanto, há forte correlação entre renda domiciliar per capita, violência e cor da pele com as causas estando atreladas a aspectos sociais, culturais, econômicos e institucionais.
Por exemplo, o nível de desocupação é maior entre os pretos e pardos e as mulheres, como podemos averiguar na tabela abaixo.


Tabela 2.


Temos que a população desocupada é de 65,4% dos negros em relação a 33,7% dos brancos o que aponta para menor qualificação dos negros em relação a população branca que, como vimos na tabela da renda na Paraíba, tem renda superior aos negros o que faz com que tenha maiores oportunidades educacionais de formação e, por sua vez, melhor posicionamento no mercado de trabalho.

Isso casa bem com a teoria econômica de Becker (1968) na qual em ambiente de menores oportunidades educacionais a escolha para práticas criminosas por parte de quem tem menos recursos educacionais aumenta em sua probabilidade de uso. A visão utilitária é reforçada pelos dados.


Gráfico 2.


Fonte: Indicadores Sociais do IBGE (2017).


Contudo, o racismo é real. Veja que, em todos os níveis de instrução, os negros apresentam taxas superiores de desocupação em relação aos brancos. Ou seja, mesmo com o argumento de Becker (1968) – o que em parte é real, devido a discrepância da renda entre negros e brancos – o racismo cultural é reforçado nesse dado que apresenta uma desvantagem clara dos negros em relação aos brancos em todos os níveis de instrução educacional. Isto é, mesmo os negros com melhor formação têm dificuldades em se empregar em relação aos brancos, o que, de certa forma, coloca em xeque argumentos baseados apenas em dados de formação educacional.

Gráfico 3.

Fonte: IBGE. Indicadores Sociais 2018.

O rendimento médio é outro indicador do reforço da desigualdade racial, ao menos no mercado de trabalho. A discrepância de rendimentos entre cor ou raça (PP/B= 58,0%) é expressiva.

Referências:

NÓBREGA JR., J. M. P. da (2019). Democracia, Violência e Segurança Pública no Brasil. E-book. Ed. UFCG. Campina Grande, Paraíba. (https://editora.ufcg.edu.br/ebooks/151/view_bl/65/62/democracia-violencia-e-seguranca-publica-no-brasil.html).

Síntese de Indicadores Sociais 2018 Diretoria de Pesquisas Coordenação de População e Indicadores Sociais Gerência de Indicadores Sociais Uma análise das condições de vida da população brasileira.

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