Covid-19 e a violência
O
Covid-19 vem impondo ao mundo medidas drásticas de isolamento. Isolacionistas e
liberacionistas vêm protagonizando uma série de debates e contribuindo para a
manutenção da polarização política no Brasil. No entanto, quando o assunto é a
relação da crise de saúde pública com a violência, os meios de comunicação de
massa vêm dando pouco relevo o assunto e, quando se toca nele, fala-se apenas
nos riscos da violência doméstica. Neste espaço, irei iniciar um processo de
preenchimento dessa lacuna.
No
Brasil, a grande preocupação dos gestores públicos é a proliferação do vírus
nas comunidades pobres do país. Dados do IBGE para o ano de 2017 apontam que
37,6% dos brasileiros não tem acesso a saneamento básico. A ausência de
saneamento básico é uma das causas para a manifestação de epidemias das mais
diversas. A correlação entre vulnerabilidade social, violência e doenças é
grande.
O
Covid-19 vitimou 134 pessoas no Brasil (com dados atualizados até 29.03.2020).
Outras pandemias que o Brasil enfrentou na sua história, a exemplo da gripe
espanhola de inícios do século passado, gerou convulsão social com crescimento
da criminalidade e da violência urbana. Historicamente temos relatos a
respeito, apesar da ausência de dados.
Em
2018, foram 57.341 MVis (homicídios, latrocínios e agressões seguidas de morte
da vítima (FBSP); com 157 mortes ao dia, 4.778 ao mês e 6,5 a cada hora. Foram
1.475.978 roubos (a estabelecimento comercial, a residência, a transeunte, a
instituição financeira, de carga (FBSP); com 122.998 ao mês; 4.043 ao dia; 168
por hora; e 2,8 a cada segundo.
A
situação da criminalidade medida por essas duas variáveis mostra que o país
atravessa crise contínua de segurança pública. Ainda não temos dados
consolidados para o ano de 2019, mas será fundamental a comparação do período
da pandemia com indicadores de períodos semelhantes para saber se o Covid-19 gerou
mais violência em decorrência da calamidade social gerada pelas informações
propagadas na imprensa.
O
que sabemos é que a epidemia de violência no Brasil é frequente há duas
décadas, e que nunca houve preocupação da gestão com o saneamento dos mais pobres.
A pandemia do Covid-19 pode gerar mais convulsão social, sobretudo pela
defasagem de saneamento básico nas periferias das grandes cidades, defasagem esta
que contribui para a vulnerabilidade social que está associada ao fenômeno da
violência.
José
Maria Nóbrega é cientista político.
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