Corona vírus e democracia
“Desde a época em que a democracia urbana foi concebida e praticada pela primeira vez na Grécia antiga, a humanidade levou mais de dois mil anos para inventar e estabelecer uma democracia viável em larga escala”. (Giovanni Sartori)
Estamos vivenciando um
período delicado no mundo. O Corona vírus (COVID19) veio e deixou a todos perplexos
pela sua capacidade letal. As populações mundo afora passaram a viver debaixo
de ameaças de contágio e o pavor proporcionado pela grande mídia, pavor este corroborado
pelas imagens de caixões empilhados. Deixou os governos, nacionais e subnacionais,
sem saber muito o que fazer. Passado o tempo, as medidas de confinamento e
decretos governamentais impedindo o acesso da população a certos espaços, fechamento
do comércio “não essencial”, sem nem sequer explicar o que isso significa,
passou a ordem do dia. Pior ainda, a opinião fora da “caixa de certezas” dos “especialistas”
e da grande mídia foi ameaçada.
O que é democracia? Por
muito tempo, a democracia foi vista como um valor universal, um dever ser, que
deve conduzir os governos eleitos pelo povo. O povo, este conceito que cabe
tudo, deveria ser o comandante das tomadas de decisão governamentais. Sabemos
que isso não ocorre, que a democracia real é a democracia das elites eleitas e
que o povo, muitas das vezes, não decide coisa alguma! Equilibrar a democracia
como valor, do dever ser, com a democracia real, é algo muito difícil, mas que
devemos exercitar.
O povo, como dito, é um
conceito político-social complexo. Nele cabe as classes trabalhadoras, os
empresários (pequenos e grandes), os autônomos, trabalhadores liberais, dentre
outros. São as massas no sentido político do termo. As massas decidem eleições,
mas não decide o que os políticos vão decidir no parlamento e nos gabinetes do
poder executivo.
O COVID19 abriu espaço
para decisões complicadas do ponto de vista da democracia liberal. Pois, nesse
espaço decisões cerceadoras da liberdade individual suplantaram a racionalidade
por sua radicalidade. Ora, não posso sair às ruas? Posso ser surpreendido por
um agente do Estado me dando voz de prisão? Será mesmo que isso é democrático?
Na outra ponta, a opinião
dos que criticam as medidas radicais de confinamento sem discussão mais
esmerada com o povo (ou seja, a sociedade das massas). Com agressões verbais e
físicas aqueles que ousam contestar as decisões dos governos (sempre tendentes
a tirania, seja lá onde for), e as opiniões dos “cientistas” que agora arrogam
a superioridade “racial” da fórmula mágica do controle social.
Giovanni Sartori,
renomado cientista político liberal italiano, afirmou: “desde a época em que a
democracia urbana foi concebida e praticada pela primeira vez na Grécia antiga,
a humanidade levou mais de dois mil anos para inventar e estabelecer uma
democracia viável em larga escala”. Portanto, não vamos deixar um vírus, por
mais letal que ele seja, acabar com ela, pois decisões draconianas de
governantes ávidos por poder e opiniões cerceadas pela tirania da maioria, ou
das minorias científicas, podem vir a sepultá-la.
Fiquemos vigilantes!
José Maria Nóbrega é
cientista político.
Ótima análise!
ResponderExcluirgrato!
ExcluirParabéns pela honestidade e perspicácia!
ResponderExcluirgrato!
Excluir