A associação entre as taxas de mortalidade por COVID19 e o nível percentual de isolamento social no Brasil
Por José Maria Pereira da Nóbrega Júnior, cientista político.
São muitos os estudos científicos
espalhados pelo mundo a respeito da letalidade do novo corona vírus, o COVID19,
vírus este que vem desesperando as pessoas desde os últimos meses do ano
passado. São estudos com exigência de níveis altos de compreensão, com
metodologias científicas muito diversas e complexas para o leitor médio. Neste pequeno
artigo, meu objetivo é muito simples: testar o nível de associação estatística
entre as taxas de mortalidade por COVID19 no Brasil com os percentuais de
isolamento social nas unidades federativas.
Primeiro,
fui atrás da definição de isolamento social (variável independente) e de taxa de
mortalidade por COVID19 (variável dependente). Isolamento social “é um
comportamento no qual o indivíduo deixa de participar - voluntariamente ou não
- de atividades sociais em grupo como trabalho e entretenimento. É um fenômeno
geralmente observado na população idosa, sem-teto ou grupos com pouca
mobilidade, entretanto não é limitado a estes podendo ser observado em outras
faixas etárias, grupos sociais e em grandes cidades, onde o contato social teoricamente
é maior. Fatores como doenças físicas, eremitismo, ideologias de preservação e
doenças psicológicas podem influenciar o surgimento do isolamento social” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Isolamento_social).
O isolamento
social foi implantado no Brasil de forma mais radical em muitos decretos de
governos subnacionais, se distanciando do pensamento do atual Presidente da
República, Jair Bolsonaro, que defende o isolamento social vertical, ou seja, focado
apenas em grupos de risco como idosos e pessoas com comorbidade. Não entrarei
neste debate aqui.
O
indicador utilizado foi retirado do Inloco – Geolocalização (https://mapabrasileirodacovid.inloco.com.br/pt/?hsCtaTracking=68943485-8e65-4d6f-8ac0-af7c3ce710a2%7C45448575-c1a6-42c8-86d9-c68a42fa3fcc)
em termos percentuais da população.
Os
dados de mortalidade por COVID19 foi retirado do site www.covid.saude.gov.br. O cálculo da
taxa é o número absoluto de mortes dividido pela população e multiplicado por 1
milhão (NAB/POPABx1.000.000).
O
mecanismo estatístico é a correlação de Pearson que mede o coeficiente de
correlação entre duas variáveis Y e X e que busca verificar o nível de associação
entre elas. Se a correlação for superior a 0.6 ou -0.6 consideramos a
correlação significante. Se há sinal negativo é porque enquanto uma cresce a
outra decresce e aí a correlação é inversa. No caso de sinal positivo, é porque
as duas variáveis crescem juntas, uma indicando o crescimento da outra.
No
gráfico abaixo temos os indicadores de mortes por COVID19 de taxas por um milhão.
Gráfico
01. Taxas de mortalidade por 1 milhão nas unidades federativas do Brasil
Fonte:
www.covid.saude.gov.br (dados de
29/04/2020)
O ranking
mostra Amazonas como a unidade federativa com mais mortes proporcionais. Manaus
é mostrado constantemente na mídia como o caso mais traumático, com corpos
empilhados em caminhões frigoríficos, caixões amontoados e famílias
desesperadas. Pernambuco é a segunda unidade federal com mais problemas, uma
taxa de mortalidade de 56/1 milhão. Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo, são os
outros mais problemáticos, com graves problemas de absorção em suas estruturas
públicas de saúde.
Na outra
ponta, temos os estados de Tocantins e Mato Grosso como os que apresentam os
menores índices de mortalidade. É visível no gráfico, expressivas diferenças
regionais. Segundo os dados do governo, as regiões sudeste e nordeste
concentram praticamente 80% dos casos de COVID19. Isso apresenta correlação com
a distribuição das taxas de mortalidade pelo país.
No
gráfico abaixo, temos a distribuição do ranking relacionado ao isolamento
social.
Gráfico
02. Isolamento social em termos percentuais nas unidades federativas do Brasil
Fonte:
https://www.inloco.com.br/pt/
(dados de 28/04/2020)
Conforme
podemos observar, estados com menores percentuais de confinamento, ou
isolamento social, são justamente aqueles que vem apresentando menores índices
de mortalidade por novo corona vírus. Vamos, abaixo, tentar esmiuçar e fazer o
teste de correlação, seguindo o nosso objetivo, que não é hipotético, ou seja,
não tenho a intenção de fazer um teste de hipótese causal, mas simplesmente
verificar o nível de associação entre os dois indicadores.
Tabela
1. Desvio padrão, média e mediana dos dados de mortes por COVID19
DESV. PA
|
MÉDIA
|
MEDIANA
|
21,60
|
19,92
|
11
|
Formatado pelo autor com base nos dados de
taxas de mortalidade por 1 milhão (cf. gráfico 01)
O desvio
padrão alto corresponde a disparidade dos dados de taxas de mortalidade. Amazonas
com 92/1milhão e Tocantins com 1/1milhão, são outliers. Procurei retirar os
dois outliers para averiguar como se comportariam os dados e os resultados não
foram expressivos, inclusive com a correlação ficando mais forte ainda.
Abaixo
temos a tabela com os dados de desvio padrão, média e mediana conforme os indicadores
de confinamento ou isolamento social.
Tabela
2. Desvio padrão, média e mediana indicadores de percentuais de isolamento
social
DESV. PAD
|
MÉDIA
|
MEDIANA
|
0,040
|
48,81%
|
48,99%
|
Formato pelo autor conforme dados
retirados da plataforma https://www.inloco.com.br/pt/
Nesses
dados a uniformidade é maior como podemos ver no baixo desvio padrão e nas médias
e medianas muito próximas. Ou seja, é um padrão o isolamento social nesses
tempos de pandemia. Contudo, vou cruzar os dados num modelo matricial de
correlação para testarmos o nível de associação entre os conjuntos de
indicadores.
Tabela
3. Correlação de Pearson entre taxas de mortalidade COVID19 e percentuais de
isolamento social nas unidades federativas
CORREL
TX MORT COVID vs. % CONFINAMENTO
|
R=0,788
|
Formatado
pelo autor conforme colunas de dados das taxas de mortes e dos percentuais de
isolamento social
A
resposta da correlação é alta (R=0,788), ou seja, há alta associação entre os
dois conjuntos de variáveis. O nosso objetivo foi este, de ver o nível de
associação que se mostrou alto e positivo, ou seja, os dois indicadores estão altamente
correlacionados na mesma direção.
Isso
pode nos fornecer duas hipóteses a serem testadas, aí sim, do ponto de vista inferencial-causal:
H1: o isolamento
social não está respondendo no controle das mortes pelo novo corona vírus;
Ou
H2:
quanto mais há mortes resultado da infecção por corona vírus, mais as pessoas
estão aderindo ao isolamento.
Comentários
Postar um comentário