Janot, um péssimo exemplo
Foto: Blog de Jamildo
Em um país com mais de 50 mil homicídios ao ano, com uma população na qual 77% tem baixa renda e 65% mal possui o ensino fundamental completo, um ex-procurador da República vir a público e afirmar que quase matou um ministro da suprema corte é de uma insensatez que beira a barbaridade!
País campeão de
homicídios no mundo, o Brasil tem um dos piores indicadores de impunidade do
planeta. O Global Impunity Index – organização acadêmica que faz
pesquisas de impunidade no mundo – criou um indicar para medir o nível de
impunidade nos países. A construção do índice teve como base às seguintes
categorias ou indicadores: (a) policial por cem mil habitantes; (b) magistrados
por cem mil habitantes; (c) capacidade prisional; (d) respeito aos Direitos
Humanos; e (e) prisão de homicidas por número total de homicídios perpetrados. Este
índice classifica os países entre aqueles de baixa impunidade, os de média
impunidade e os de alta impunidade, sendo o Brasil classificado entre os países
de alta impunidade, com um indicador de 66 pontos numa escala que vai de 0 a
100.
Com tal desvalor a vida
encontrado nos altos índices de violência do país – e lembrando que o principal
componente do conceito de propriedade privada é a vida – um discurso agressivo por
parte de um ente tão destacado da elite política nacional preocupa e, ao mesmo
tempo, serve de potencializador para motivação à prática de assassinatos.
Ora, se um “homem tão
distinto” pensa como um bárbaro – e aí podemos ver como a natureza humana é
dúbia e pode, mesmo naqueles indivíduos mais abastados e bem educados de uma
nação, se manifestar de forma violenta onde menos se espera – como exigir o
comportamento civilizado por parte daqueles que estão na base da pirâmide
social? Que, no caso do Brasil, essa base é bem extensa.
Entramos aí numa das discussões
mais prementes da Ciência Política contemporânea: a qualidade das elites políticas.
Esta aparece como aspecto fundamental, muito caro por assim dizer, para o
sucesso da própria democracia. Nela, mais que a vontade do povo, a qualidade de
suas elites é um termômetro fundamental para a sua consolidação.
Elites e accountability
horizontal estão altamente correlacionadas. Quando a accountability é
baixa – e este conceito está fortemente atrelado aos componentes republicanos e
liberais de uma dada sociedade (O´DONNELL, G. 1998: Accountability
horizontal e novas poliarquias. Lua Nova [online]. 1998, n.44, pp.27-54.
ISSN 0102-6445. Acesso digital: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0102-64451998000200003&lng=en&nrm=iso&tlng=pt)
– a impunidade e a violência são altas (NÓBREGA JR., 2019: Democracia, violência
e impunidade na América Latina. Paper a ser apresentado no 43º Encontro da
ANPOCS, a ser realizado entre os dias 21 e 25 de outubro do presente ano).
O comportamento das
elites é condição para o sucesso da democracia, já dizia o economista e
cientista político Joseph Schumpeter. A qualidade das elites está conectada a
compromissos republicanos e liberais que são requisitos básicos para o sucesso
da democracia. Janot é membro da elite política brasileira. Esta elite é unaccountable,
patrimonialista, antirrepublicana e mesquinha, características culturais abomináveis
que maculam decisivamente o avanço de nossa semidemocracia a um regime
democrático sólido e responsivo.
by JMN
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