Quem mata os negros no Brasil?
Em matéria publicada pela
extrema-esquerda brasileira (https://www.causaoperaria.org.br/quem-mata-os-negros-no-brasil/)
foi propagada a tese na qual quem mata negros no Brasil é a burguesia juntamente
com o seu braço armado, a polícia. Para a extrema-esquerda, é uma verdadeira
política de extermínio “que a burguesia, os latifundiários e a extrema-direita
estão colocando em prática no País. A tarefa é exigir que seja extinta as
polícias e que o povo tenha o direito de se defender desse genocídio”. A extrema
esquerda acredita que é a classe dominante, juntamente com os seus jagunços (a
polícia), a responsável pelas mortes violentas intencionais contra os negros no
Brasil. Os erros teóricos e empíricos são cabais. Uma pessoa bem formada não
aceita essa tese. É falsa desde o seu início.
Para começar, não existe
sociedade moderna sem a presença de uma guarda armada que faça as vezes de
garantidor da lei (direitos e deveres) e da ordem (pública e social). Sem instituições
coercitivas responsivas o que impera é o caos. O que a extrema-esquerda quer é substituir
as polícias por um exército vermelho pronto para eliminar o contraditório, só
isso!
A polícia também é responsável
pela investigação criminal, portanto, é através do trabalho técnico-científico dela
que temos acesso as informações necessárias para incriminar um assassino. O
problema é que a nossa polícia não é eficaz (accountable) e sofre em
produzir inquéritos policiais e investigações criminais que resultem em prisão
do algoz. Só para se ter uma ideia, a média de resolução de homicídios no
Brasil é inferior a 10% do total de mortes violentas intencionais no país que,
em 2017, foi de 63.895 homicídios dos quais menos de 10% foi em confronto com a
polícia. Isso mesmo! Foram 5.144 mortes decorrentes de intervenção policial no
Brasil (Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2019). Então, está longe de ser
uma política de extermínio provocada pela polícia brasileira, mesmo ela sendo
ineficaz.
Quanto aos números de homicídios/mortes
por agressão/mortes violentas intencionais no Brasil, no último ano de registro,
2017, como já dito, foram mais de 63 mil pessoas mortas, a maioria, em média 70%,
é negra (soma dos indicadores de preto e pardo pelos registros populacionais
segundo o IBGE). Alguns estados, como Paraíba e Bahia, supera-se os 80% de
registros. Jovens negros é a maioria assassinada. Mas, não é a burguesia e seu “plano
maligno” que está por trás desses números. No que tange ao crime patrimonial, a
burguesia termina sendo o principal alvo, já que foram mais de 1 milhão e 700
mil roubos e furtos registrados no Brasil em 2017. Uma polícia que mata e que
não investiga não é bom nem para os pobres, nem para os ricos!
A maioria que morre também é a
maioria que mata! O perfil socioeconômico – de base estatística – é formada por
jovens, negros e que residem na periferia, envolvidos na criminalidade. Na
verdade, é o conflito gerado pelo poder do crime que gera violência homicida. A
maioria morre por arma de fogo disparada por alguém conhecido e que
dificilmente será preso! No sistema carcerário, a maioria está presa por crimes
patrimoniais e por tráfico de drogas (https://www.justica.gov.br/news/ha-726-712-pessoas-presas-no-brasil).
O perfil socioeconômico da
população carcerária é o seguinte: 1. Jovens entre 18 e 29 anos de idade são a
maioria, 55%; 2. 64% da população carcerária é negra em relação a 53% do total
da população nacional, com destaque para o Acre, com 95% da população
carcerária negra, Amapá, com 91% e Bahia com 89%; 3. O nível de escolaridade é
baixíssimo, a maioria, 60%, não chegou a terminar o ensino fundamental; 4.
65.203 respondem por homicídio (qualificado e simples); 5. 278.809 por crimes
contra o patrimônio (furto, roubo, latrocínio, extorsão etc.); 6. 176.691 por
crimes de tráfico de drogas; 7. 26.082 respondem por crime sexual. A maioria
presa por homicídio é negra, é pobre, portanto, não pertence à classe
dominante!
O perfil socioeconômico da
população vítima de assassinato é o seguinte: 1. Jovens negros (85% pardo e
preto); 2. Sexo masculino; 3. Baixo nível de escolaridade; 4. Estado civil
solteiro. É só cruzar os dados e teremos o perfil de quem mata e de quem morre
(https://revistas.ufrj.br/index.php/dilemas/article/view/14563).
Infelizmente para a extrema
esquerda, a sua tese cai por terra quando se faz uma análise um pouco mais
específica. O problema não é a superestrutura capitalista. Se fosse assim,
países de grande desenvolvimento econômico teriam taxas de mortes de jovens
pobres na estratosfera e o que temos são taxas de violência abaixo de 5 mortes
por cem mil habitantes. Estados Unidos, país que tem milhões de armas de fogo
registradas nas mãos de civis, tem uma taxa de homicídios em média de 5 por cem
mil habitantes e é o país desenvolvido mais violento do mundo. Mesmo assim, as
suas taxas estão sob controle (menor que 10 por cem mil), demonstrando que o controle da criminalidade
violenta se dá com políticas públicas de segurança e gestão do crime, já que é impossível
zerá-lo.
No Brasil, há cidades com
taxas de homicídios europeias, como é a cidade de Valinhos, em São Paulo, que
possui forte atividade econômica, alta qualidade de vida medida pelo IDHM, uma
renda per capita alta e baixo nível de % de pobres na população com taxa de
1,64 homicídios por cem mil habitantes, a mais baixa do país. Do outro lado,
Queimados, cidade da Baixada Fluminense, de mesmo porte populacional que Valinhos,
no Rio de Janeiro, possui a maior taxa de homicídios do país, 117 por cem mil
habitantes, onde representantes da câmara municipal estão sendo acusados de
fazer parte de grupos de milicianos (https://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/cidade-alerta-rj/videos/operacao-prende-vereador-suspeito-de-chefiar-milicia-em-queimados-baixada-fluminense-18072019).
O que controla violência não é
luta de classes, pelo contrário, é o arrefecimento dos conflitos sociais sem derramamento
de sangue. Portanto, só se controlará as mortes de jovens negros no Brasil com
polícia responsiva e capaz de investigar e um sistema de justiça criminal que
seja capaz de administrar o sistema carcerário. E claro, somado a políticas
sociais alvissareiras como as de educação e saúde, incluindo o jovem negro
pobre da periferia em escolas capazes de diminuir a defasagem de aprendizado,
fomentando uma cultura de paz e não de conflito, como é a cultura propagada
pela luta de classes da extrema esquerda.
by JMN
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