Análise em série temporal dos homicídios em Pernambuco: Tendências, Sazonalidade e Predição dos dados estatísticos
Análise
em série temporal dos homicídios em Pernambuco: Tendências, Sazonalidade e
Predição dos dados estatísticos
José
Maria Pereira da Nóbrega Júnior – Doutor em Ciência Política pela UFPE; Docente
do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFCG.
Resumo:
o
artigo tem como objetivo analisar a série temporal de homicídios em Pernambuco
entre os anos de 1990 a 2016, verificando as tendências dos números, possíveis out-liers, sazonalidade dos dados e
predição. A pesquisa é estatística com o uso de bancos de dados oficiais do
DATASUS/SIM (Subsistema de Informação de Mortalidade) e da SDS-PE (Secretaria
de Defesa Social de Pernambuco). É explicado o método de análise em séries
temporais e avaliado os números descritivamente. Os resultados apresentados
demonstram períodos de explosão dos dados em dois momentos na série histórica
(o primeiro entre 1995 e 1998 e o segundo entre 2013 e 2016); que os dados de
2016 apresentam sazonalidades durante os meses do ano, com meses de pico e
meses menos violentos; e que a média de crescimento percentual entre 2013 e
2016 nos leva à previsão de mais de 4.900 assassinatos em 2017, superando o ano
de 2001, o mais violento da série histórica.
Palavras-chave:
Série Temporal, Homicídios,
Tendências, Sazonalidade e Predição.
Introdução
Chama-se
de série temporal um conjunto de observações ordenadas no tempo (MORETTIN e TOLOI,
1986). Exemplo de séries temporais são os valores mensais do produto industrial
no Brasil. Os intervalos de dados no tempo podem ser medidos em dias, semanas,
meses, anos etc. O objetivo da análise de séries temporais é a observação dos
dados e a possibilidade de estabelecer inferências.
“A inferência estatística é uma das
etapas da Estatística. Esta é a parte da metodologia da ciência que visa tratar
da coleta, redução, análise e modelagem de dados e, daí, se fazer inferência
para uma ‘população’, da qual os dados foram obtidos” (MORETIN e TOLOI, 1986:
4).
A análise
estatística pode fornecer ao pesquisador, através da observação, possibilidades
de fornecer tendências e previsões a respeito dos dados em estudo. Os objetivos
da análise estatística partem do sumário dos dados, da observação do
comportamento dos números em dado tempo, da verificação da existência de
tendências, ciclos e variações sazonais. Para isso, a construção de gráficos,
histogramas e diagramas de dispersão são ferramentas extremamente úteis.
O que
pretendo fazer neste pequeno artigo é analisar os dados de homicídios do Estado
de Pernambuco em série temporal, de 1990 a 2016. Para isso, foram utilizados
dados resgatados do DATASUS[1]
e da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco. O objetivo da análise é avaliar
as tendências dos números no decorrer do tempo, os efeitos sazonais e predizer
os dados no futuro. A metodologia de análise está baseada no trabalho de MORETTIN
e TOLOI (1986).
Tratamento
dos dados
O
objetivo do tratamento de dados é excluir possíveis disparidades dos dados ao
longo do tempo na série temporal. A série temporal aqui analisada é de um tempo
razoavelmente longo o que pode ser mais fácil encontrar out-liers e medidas não-estacionárias.
Tabela
1. Dados de Homicídios em Pernambuco entre 1990 e 2016, população e taxas por
cem mil habitantes
ano
|
pop_tot
|
n_hom_tot
|
tx_hom_tot
|
1990
|
7.031.080
|
2746
|
39,1
|
1991
|
7.127.855
|
2755
|
38,7
|
1992
|
7.177.026
|
2534
|
35,3
|
1993
|
7.295.110
|
2746
|
37,6
|
1994
|
7.371.163
|
2569
|
34,9
|
1995
|
7.445.215
|
2710
|
36,4
|
1996
|
7.399.071
|
3015
|
40,7
|
1997
|
7.466.811
|
3710
|
49,7
|
1998
|
7.523.764
|
4428
|
58,9
|
1999
|
7.580.807
|
4200
|
55,4
|
2000
|
7.918.344
|
4276
|
54,0
|
2001
|
8.008.255
|
4697
|
58,7
|
2002
|
8.084.722
|
4431
|
54,8
|
2003
|
8.161.828
|
4512
|
55,3
|
2004
|
8.238.849
|
4173
|
50,7
|
2005
|
8.413.601
|
4307
|
51,2
|
2006
|
8.502.602
|
4470
|
52,6
|
2007
|
8.590.868
|
4556
|
53,0
|
2008
|
8.734.194
|
4345
|
49,7
|
2009
|
8.810.318
|
3961
|
44,96
|
2010
|
8.796.448
|
3470
|
39,45
|
2011
|
8.864.906
|
3.466
|
39,10
|
2012
|
8.931.028
|
3326
|
37,24
|
2013
|
9.208.550
|
3102
|
33,69
|
2014
|
9.277.727
|
3434
|
37,01
|
2015
|
9.345.173
|
3891
|
41,64
|
2016
|
9.345.173
|
4380
|
46,87
|
total
|
100.210
|
M=45
|
Fonte:
DATASUS/Sistema de Informação de Mortalidade (www.datasus.gov.br) Secretaria de Defesa
Social de Pernambuco. Elaborada pelo autor. Cálculo das taxas do autor.
O total de homicídios do
período foi de 100.210 mortes com média de 45 homicídios por cem mil
habitantes. Os dados podem ser melhor visualizados em formato de gráfico. O
gráfico abaixo demonstra a distribuição dos dados no decorrer do tempo.
Gráfico
1. Dados Absolutos de Homicídios entre 1990 e 2016
Fonte: DATASUS/Sistema
de Informação de Mortalidade (www.datasus.gov.br)
Secretaria de Defesa Social de Pernambuco. Elaborado pelo autor.
Os
dados demonstram ser não-estacionários com explosões entre 1995 e 2001; com
nova explosão entre 2013 e 2016. Entre 1990 e 1995 há certa tendência de
estabilidade, o que pode ser visto, também, entre 2001 e 2007.
Tendência
dos dados e sazonalidade
Entre
1995 e 1998 tivemos a primeira explosão da série. O incremento percentual foi
de 63,3%. O ano de pico foi 2001 com 4.697 homicídios. Até 2007 houve uma
tendência mais estacionária dos dados, com momentos de altos e baixos, mas num
patamar muito próximo. A partir de 2007 a tendência muda para baixo.
De 2007
a 2013 a tendência de queda foi efetivada com diminuição percentual nos números
absolutos de homicídios em -32%. Tal tendência teve como causa a melhoria na
política pública de segurança no Estado, com o implemento do Pacto Pela Vida[1]
e das tomadas de decisão do seu gestor mentor, o governador Eduardo Campos
(ZAVERUCHA e NÓBREGA JR. , 2015).
Entre
2013 e 2016, a tendência mudou novamente com o retorno do crescimento dos
homicídios, novamente apontando para o crescimento exponencial dos dados. O
incremento no período foi de 41%, revertendo o que foi alcançado pelo Pacto
Pela Vida entre 2007 e 2013.
Previsão
de futuro
Observando
o gráfico abaixo, percebe-se claramente o efeito sazonal durante o ano de 2016.
Gráfico
2. Números de homicídios mensal – 2016
Fonte:
SDS-PE. Elaborado pelo autor.
Os meses
de março, outubro e dezembro são os mais violentos. Fevereiro e maio os menos
violentos, com tendência crescente de junho a outubro.
Os
dados entre 2013 e 2016 mostraram crescimento de mais de 40%, o que dá uma
média de 13,3% ao ano. Mantendo a tendência percentual da média, teremos, em
2017, 4.928 homicídios no Estado de Pernambuco.
Conclusão
A análise
em série temporal é fundamental para analisar tendências, sazonalidades e
previsões que os dados apontam ao longo do tempo. A observação estatística é
fundamental para o controle do fenômeno que, neste caso, está relacionado à
violência em Pernambuco.
Demonstrou-se
um longo período de tempo, 1990 a 2016, e seus efeitos sazonais, tendências e
previsões ao longo do tempo. Segundo os dados, há mais efeitos
não-estacionários com duas explosões no período, uma entre 1995 e 1998 e outra,
mais recente, entre 2013 e 2016.
A
previsão que se tem, em curto prazo, é que os números aumentarão ainda mais,
podendo chegar a um patamar maior que o ano de 2001, que foi o pico de todo o
período analisado, com mais de 4.900 mortes por agressão em Pernambuco.
Bibliografia
MORETTIN, Pedro A. e TOLOI, Clélia M. (1986). Séries Temporais. Métodos Quantitativos. Atual
Editora Ltda. São Paulo.
ZAVERUCHA, Jorge e NÓBREGA JR., José Maria (2015). “O Pacto
pela Vida, os tomadores de decisão e a redução da violência homicida em
Pernambuco”. DILEMAS: Revista de Estudos
de Conflito e Controle Social - Vol. 8 - no 2 - ABR/MAI/JUN 2015 - pp.
235-252.
[1] Programa do Governo de
Pernambuco para a área da Segurança Pública. Teve início em maio de 2007, no
primeiro mandato de Eduardo Campos (PSB-PE).
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