Elites políticas e consolidação democrática
José Maria Pereira da
Nóbrega Júnior – Cientista Político, Professor Adjunto IV da UFCG.
A democracia
procedimental, ou democracia eleitoral, é definida como um regime político no
qual permite a formulação gratuita
de preferências políticas, através do uso de liberdades básicas de associação,
informação e comunicação, com a finalidade de livre concorrência entre líderes
para validar, a intervalos regulares, de forma não-violenta, sua reivindicação
a cargos eleitorais. Os teóricos da transição democrática, meio que esquecidos
pelos teóricos contemporâneos da democracia e pelos analistas políticos, foram
muito felizes quando afirmaram, em seus debates sobre consolidação democrática,
a importância das elites políticas no processo de transição das ditaduras para
as democracias e posterior consolidação do regime político democrático.
Esses teóricos, citando obras clássicas das variantes contemporâneas da
democracia, perceberam que, muito mais importante que a participação popular no
processo decisório, seria uma elite política – baseados na teoria das elites de
Pareto, Mosca e Michels -, responsiva às regras do jogo democrático e ao
império da lei. Nas palavras de três importantes teóricos da transição (BURTON,
GUNTHER AND HIGLEY, 1992):
“Clearly, a transition to procedural democracy does not
guarantee democratic stability. It is necessary to examine both the ways in
which democracies are created and the reasons that they do and do not survive. A
key to the stability and survival of democratic regimes is, in our view, the
establishment of substancial consensus among elites concerning rules of the
democratic political game and the worth of democratic institutions” (BURTON ET
AL, 1992: 3).
Para a sobrevivência das democracias pós-transitórias seria imperativo o consenso
entre as elites políticas – de direita, de esquerda e de centro – das regras do
jogo democrático e das instituições políticas democráticas pós-regime
autoritário.
Com a baixa qualidade de representação enfrentada pelos países
latino-americanos, as crises políticas nas novas democracias (ou poliarquias) foram
uma constante na realidade política da região.
A crise política recentemente enfrentada por Brasil e Venezuela, mostra
como os teóricos da transição estavam certos. Mesmo numa visão procedimental da
democracia, o comportamento das elites políticas é elemento básico para a
consolidação do regime. Alto nível de corrupção, infração às regras do jogo
democrático e agressão às instituições democráticas foram constantes na
realidade latino-americana. Implantar democracias procedurais é importante,
porém insuficiente para a consolidação da poliarquia.
Referência bibliográfica:
BURTON, Michael; GUNTHER, Richard; AND HIGLEY, John (1992). Introduction: elite transformations and democratic regimes. (In): Elites and Democratic Consolidation in Latin America and Southern Europe. Cambridge University Press.
Referência bibliográfica:
BURTON, Michael; GUNTHER, Richard; AND HIGLEY, John (1992). Introduction: elite transformations and democratic regimes. (In): Elites and Democratic Consolidation in Latin America and Southern Europe. Cambridge University Press.
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