Os determinantes da violência no Nordeste III
Drogas
potencializam os homicídios no Nordeste: testando a hipótese
José Maria Pereira da Nóbrega Júnior - Professor Adjunto IV da UFCG, Doutor em Ciência Política pela UFPE.
José Maria Pereira da Nóbrega Júnior - Professor Adjunto IV da UFCG, Doutor em Ciência Política pela UFPE.
Lendo muitos artigos
acadêmicos e na imprensa o leitor chega à conclusão na qual os homicídios como Proxy
da violência tem relação direta de causa e efeito com o consumo e o tráfico de
drogas. É só exterminar o tráfico e consumo de entorpecentes que os homicídios
cessarão. Partindo desta hipótese, vamos avaliar se há correlação entre Drogas –
medida pelas apreensões por tráfico efetuadas pela polícia – e homicídios –
medidos pelos números absolutos de mortes por agressão (SIM/DATASUS), ambos para os
nove estados da região Nordeste. E se esta correlação é suficiente para validar
a hipótese em tela.
Tabela
01. Dados homicídios 2000/2015 NORDESTE BRASILEIRO
Unidades
|
2000
|
2014
|
2015*
|
VAR % 00-15
|
VAR %14-15
|
nordeste
|
9.245
|
23.408
|
22.853
|
147,19%
|
-2,37%
|
Maranhão
|
351
|
2.457
|
2.191
|
524,22%
|
-10,83%
|
Piauí
|
230
|
716
|
667
|
190,00%
|
-6,84%
|
Ceará
|
1232
|
4.625
|
4.019
|
226,22%
|
-13,10%
|
Rio Grande do Norte
|
257
|
1.602
|
1.588
|
517,90%
|
-0,87%
|
Paraíba
|
507
|
1.551
|
1.502
|
196,25%
|
-3,16%
|
Pernambuco
|
4.290
|
3.358
|
3.888
|
-9,37%
|
15,78%
|
Alagoas
|
727
|
2.085
|
1.716
|
136,04%
|
-17,70%
|
Sergipe
|
409
|
1.097
|
1.243
|
203,91%
|
13,31%
|
Bahia
|
1.242
|
5.917
|
6.039
|
386,23%
|
2,06%
|
Fonte: SIM/DATASUS
até 2014. * 2015 FBSP (2016). Cálculos percentuais Nóbrega Jr. (2016).
Em 2000,
foram 9.245 pessoas assassinadas no Nordeste. Em 2015, esse dado foi de 22.853
óbitos por agressão/CVLI. Ou seja, sofreu incremento de 147% no período. Já na
comparação 2014/2015, pela primeira vez na série histórica, tivemos redução nos
dados. Foram menos 2,3% pontos percentuais depois de anos consecutivos de
crescimento linear e contínuo (Cf. Tabela 01).
Analisando
os dados dos estados, a variação de todo o período demonstra grande
crescimento, com destaque para o Maranhão e o Rio Grande do Norte que tiveram
mais de 500% de incremento percentual em seus números absolutos de assassinatos
em todo o período.
A redução
dos homicídios entre 2014 e 2015 é muito interessante, pois, dos nove estados
da região Nordeste, seis apresentaram queda nos dados, com destaque para
Alagoas que teve -18% de redução nos números absolutos de assassinatos.
Pernambuco, Sergipe e Bahia apresentaram crescimento nesta ordem: 16%, 13% e 2%
respectivamente, conforme podemos observar na tabela 01.
Nordeste/estados
|
Tráfico de drogas em taxas por 100 mil
|
|||||
Estado/ano
|
2009
|
2010
|
2011
|
2012
|
2013
|
variância %
|
Ceará
|
0,8
|
17,5
|
43,7
|
33,0
|
37,7
|
97,88%
|
Maranhão
|
11,5
|
6,9
|
7,9
|
12,1
|
15,1
|
23,84%
|
Paraíba
|
8,6
|
7,9
|
15,1
|
14,3
|
9,6
|
10,42%
|
Piauí
|
6,7
|
8,8
|
12,5
|
14,9
|
16,1
|
58,39%
|
Sergipe
|
0,6
|
2,3
|
0,7
|
7,9
|
23,1
|
97,40%
|
Alagoas
|
10,7
|
15,4
|
20,5
|
19,2
|
23,4
|
54,27%
|
Pernambuco
|
23,7
|
36,8
|
46,9
|
48,8
|
54,8
|
56,75%
|
Bahia
|
23,9
|
26,7
|
33,0
|
30,7
|
35,4
|
32,49%
|
RG Norte
|
15,6
|
18,7
|
7,4
|
10,4
|
8,5
|
-83,53%
|
Brasil
|
-
|
-
|
53,6
|
60,3
|
73,2
|
26,78%
|
Fonte: Sistema
Nacional de Estatísticas em Segurança Pública e Justiça Criminal (SINESP/JC)/Secretaria
Nacional de Segurança Pública (SENASP)/Ministério da Justiça; Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE; Fórum Brasileiro de Segurança
Pública. Cálculo da variância percentual do autor.
Já o crime de tráfico de drogas apresentou percentual crescente no
que tange a ação do Estado na prática de detenções, salvo Rio Grande do Norte
com redução de -83,5% entre 2009 e 2013. Os maiores incrementos percentuais se
deram no Ceará (97,8%) e Sergipe (97,4%). No que diz respeito ao ranking, em
2013, Pernambuco apresentou a maior taxa de ocorrência de apreensão por tráfico
de drogas, com 54,8/100 mil e o Rio Grande do Norte a menor taxa, 8,5/100mil.
Ao correlacionar os dados de ocorrências por tráfico de drogas com
os números de homicídios perpetrados na matriz ANO_2013 (Dados dos nove estados
da região Nordeste dos dois indicadores para o ano de 2013), o resultado da
correlação foi de R=-0,40, ou seja, há correlação, mas num patamar médio/moderado
do ponto de vista estatístico e com sinal negativo, i.e, com correlação inversa
das variáveis (cf. Tabela 03).
Tabela 03. Modelo de Correlação Bivariada
Simples Homicícios/Drogas no Nordeste – 2013
Dados
de homicídios 2013 (X)
|
Ocorrência
por Tráfico de Drogas 2013 (Y)
|
|||||||||
|
Maranhão = 15,1
Piauí = 16,1
Ceará = 37,7
Rio Grande do Norte = 8,5
Paraíba = 9,6
Pernambuco = 54,8
Alagoas = 23,4
Sergipe = 23,1
Bahia = 35,4
|
|||||||||
Correlação matricial [X; Y]
|
R=-0,40
|
Isto nos
revela que há um exagero em correlacionar, ou criar um nível de relação causal
muito alto, entre o tráfico de drogas e/ou ocorrências de tráfico de drogas com
o crescimento ou decréscimo dos homicídios. O Estado pode efetivar mais
apreensões por tráfico – como ocorreu na maioria dos estados do Nordeste - sem
o controle efetivo dos homicídios se não forem levados em considerações outros
fatores ou variáveis/indicadores (socioeconômicos e institucionais).
Repito o
que afirmo desde a minha Tese de Doutorado defendida em 2010 no Programa de
Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco, o
crime de homicídio é multicausal, para o seu controle é necessário o teste de
vários indicadores e o controle de vários aspectos socioeconômicos e
institucionais (NÓBREGA JR., 2010).= [http://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/1558]
Rio Grande do Norte dando show nesses dados. Se for considerado a situação precária em que se encontra a infraestrutura de Imóveis e Móveis (veículos) e a política salarial, a tendencia do RN é piorar ainda mais essa situação observada neste estudo, visto que, tem impacto direto sobre a motivação dos atores responsáveis ela aplicação operacional em segurança pública!
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