Venezuela: explosão dos homicídios e sua relação com o governo de Hugo Chavéz
A
democracia é um regime político que, além do mecanismo de escolha dos
governantes, foca na qualidade do estado de direito em sua eficácia
(burocracia) e eficiência (sistema legal), sobretudo no que tange as garantias
dos direitos fundamentais, dos quais a vida é um deles (O´DONNELL, 2000). Na
Venezuela, em dez anos do governo de Hugo Chavéz, a democracia perdeu, além do
caráter alternativo no âmbito do poder, a capacidade de promover o estado de
direito democrático. Os números absolutos de homicídios aumentaram de 4.550
assassinatos, em 1998, para 13.156 em 2007 (gráfico 1). O impacto percentual
foi de 189% de aumento no período. As taxas de homicídios por cem mil
habitantes saltaram de 20 para 49/100 mil.
A
Venezuela é o único País da América do Sul a ser classificado, entre 2006 e
2015, como Nação Não-Livre (Not Free) pela importante agência de pesquisa
Freedom House (FREEDOM HOUSE, 2016).
Gráfico
1. Homicídios em Venezuela – N. Absolutos – 1998/2010
Fonte:
Observatorio Venezoelano de Violencia y del Centro para la Paz, Universidad
Central de Venezuela; Ministerio del Poder Popular para las Relaciones de
Interiores y Justicia, Instituto Nacional de Estadística (INE) para Venezuela
(montado pelo autor tendo como base a tabela 1.8 in BRICEÑO-LÉON & CAMARDIEL [2009: p. 31]
Briceño-León
et al (2008) aferiram como a população venezuelana avaliou a gestão do
Presidente da República na área da segurança pública e quanto de confiança
tinha em relação à capacidade do governo em dar uma resposta rápida e
satisfatória na situação da violência. Na pesquisa de opinião apontada no
trabalho daqueles autores foram aplicadas algumas perguntas.
Uma
das perguntas era se o cidadão estava de acordo com a maneira pela qual o
governo nacional estava afrontando a situação de insegurança no país. 54% dos
entrevistados se mostraram insatisfeitos com a política de enfrentamento ao
crime adotada pelo governo. Quanto ao nível socioeconômico, as classes mais
abastadas se mostraram menos satisfeitas ainda. Como exemplo, os cidadãos de
classe A considerados na pesquisa responderam estar insatisfeitos com o governo
nesta área a um nível de 77% de rejeição daquela política de segurança
(BRICEÑO-LÉON et al, 2008: 165-6).
Numa
análise que levou em consideração os doze meses do ano de 2007, os
pesquisadores mediram a (in)satisfação do cidadão venezuelano em relação à
gestão pública da segurança do governo nacional. Os resultados da mensuração mostraram
que 24% das pessoas consideraram que a gestão do governo foi positiva nesta
pasta, ou seja, muito boa. Já 34% apontaram como regular e 42% consideraram
muito ruim a forma que o governo nacional enfrentou o problema da insegurança
pública (BRICENO-LEON ET AL, 2008: 168). [cf. gráfico 02].
Fonte: Observatório da Violência na
Venezuela (OVV-LACSO; 2008)
Além
da mensuração em torno da gestão em segurança pública, Briceño-Léon et al
(2008) procuraram avaliar qual o nível de confiança da população venezuelana em
seu governo nessa mesma perspectiva de políticas públicas. A pergunta utilizada
pelos pesquisadores foi incisiva quanto ao papel do governo de Hugo Chavez na
pasta da segurança: Quanta confiança
você tem no governo de Hugo Chavez na sua capacidade de controlar a violência e
de solucionar o problema da segurança?
Numa
escala de quatro respostas – muita confiança, alguma confiança, pouca confiança
e nenhuma confiança -, 54,6% dos entrevistados disseram ter nenhuma (25,8%) ou
pouca confiança (28,8%) no governo de Hugo Chavez na pasta da segurança
pública, superando os 50% de insatisfação.
Dessa
forma, a gestão do governo bolivariano apresentou pouca eficácia/eficiência
para a maioria do povo daquele país. No período da gestão Hugo Chavez o aumento
da violência homicida indicou o termômetro da insegurança pública encontrada na
Venezuela.
Em
uma regressão linear o nível de significância estatística foi elevado para o
teste temporal do governo de Chavez em relação aos homicídios (tabela 01).
Tabela 01. Modelo Sumarizado da Regressão
Linear
Anos (ind) x taxas hom (dep) – Venezuela
(1998-2010)
|
|||||||
Dependent
Variable:taxa hom
|
|||||||
Equation
|
Model Summary
|
Parameter Estimates
|
|||||
R Square
|
F
|
df1
|
df2
|
Sig.
|
Constant
|
b1
|
|
Linear
|
,820
|
36,435
|
1
|
8
|
,000
|
-5328,273
|
2,679
|
The independent variable is ano.
|
O
R Square de 0,820 indica o nível elevado do período (governo Chávez) sobre as
taxas de homicídios, com 100% de significância estatística. Ou seja, em mais de
80% a violência foi potencializada justamente no período do governo chavizta.
Gráfico
03. Taxas de Homicídios na Venezuela x Governo Chavéz – Modelo de Regressão –
Representação Gráfica (eixo X = Anos (período do governo Chavéz); eixo Y =
Taxas de homicídios)
O
modelo estatístico aponta para a relação entre o governo de Chavéz e a incapacidade
estatal de se controlar os homicídios, estes sendo utilizados como proxy para os direitos fundamentais os
quais o estado democrático de direito deve ser eficaz e eficiente (efetivo) na
sua garantia. Na Venezuela de Chavez, a carnificina imperou, o que se repete
de forma mais drástica na atual conjuntura social venezuelana.
Bibliografia
BRICEÑO-LÉON, ÁVILA
& CAMARDIEL (2009), Inseguridad y
Violencia en Venezuela. LACSO.
Venezuela.
FREEDOM
HOUSE IN THE WORLD (2016), Anxious
Dictators, Wavering Democracies: Global Freedom under Pressure. Highlights
from Freedom House’s annual report on political rights and civil liberties.
O´DONNELL,
Guillermo (2000), “Poliarquias e a (in)efetividade da lei na América Latina:
uma conclusão parcial”. Democracia,
Violência e Injustiça. O
não-estado de direito na América Latina. Juan E. Méndez, Guillermo O´Donnell e
Paulo Sérgio Pinheiro (orgs.). Paz e Terra. São Paulo.
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