CRIME ORGANIZADO INTERNACIONAL E PCC

PCC recruta membros das Farc na Colômbia para o tráfico de drogas

A maior organização criminosa brasileira está recrutando membros de um grupo rebelde colombiano que já foi poderoso em busca de armas pesadas e outras habilidades que ajudem a expandir seu controle sobre o comércio de drogas na América Latina, dizem investigadores e autoridades de ambos os países.
Autoridades dos ministérios de Defesa e das Relações Exteriores de ambos os países se reuniram nesta terça-feira em Manaus para compartilhar informações sobre como a organização criminosa brasileira, o Primeiro Comando da Capital, ou PCC, está agindo para contratar guerrilheiros na Colômbia, alguns dos quais optaram por não participar das negociações de paz com o governo colombiano. No ano passado, o governo da Colômbia assinou um pacto de paz com o grupo rebelde marxista, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), e a maioria de seus 6 mil combatentes agora se preparam para entregar suas armas.
“O PCC vem oferecendo empregos para as Farc”, disse o ministro da Defesa da Colômbia, Luis Carlos Villegas, acrescentando que uma investigação está em andamento. A previsão é que entre 5% e 10% dos membros das Farc não aceitem o acordo de paz, segundo autoridades colombianas.
As tentativas do PCC de cortejar rebeldes revelam o desafio do governo colombiano para desmobilizar combatentes envolvidos com o narcotráfico. Os esforços da organização criminosa brasileira para expandir sua influência na Colômbia ocorrem num momento em que a produção colombiana de coca, a planta usada para produzir cocaína, está aumentando. A produção potencial estimada de cocaína subiu 46% entre 2014 e 2015, último ano para o qual há dados relevantes disponíveis sobre a Colômbia compilados pela Organização das Nações Unidas.
O PCC está tentando tirar o controle de rotas de tráfico no Brasil de outros grupos criminosos, eliminar intermediários e trabalhar diretamente com fornecedores colombianos para distribuir cocaína no Brasil, diz Lincoln Gakiya, um promotor paulista que vem investigando as atividades do PCC ao longo de dez anos. Autoridades americanas de agências de combate aos narcóticos dizem que o Brasil é o segundo maior mercado do mundo para a droga depois dos Estados Unidos.
Criado em uma prisão paulista em 1993, o PCC se transformou em um grupo altamente organizado e disciplinado, com 21 mil membros em todo o Brasil, que conta também com uma presença no Paraguai, de acordo com promotores brasileiros. Os líderes do grupo estão presos, mas eles controlam subordinados em favelas urbanas que dirigem o que se tornou a organização mais poderosa no submundo do crime do Brasil.
O principal adversário do PCC, além de gangues rivais, é o aparato militar e federal da polícia brasileira equipada com helicópteros, veículos blindados e armamento moderno.
“O PCC está obcecado em obter treinamento militar”, diz Gakiya. A gangue está buscando metralhadoras de calibre ponto 50, que são capazes de derrubar helicópteros e perfurar carros à prova de bala, bem como alistar partes da rede de combatentes e fabricantes de bombas experientes das Farc, acrescenta o promotor. A correspondência por e-mails entre os membros do PCC em 2015 também mostrou que a gangue brasileira fez esforços para comprar drogas de membros das Farc, diz ele.
As Farc negam ter laços com grupos criminosos brasileiros e afirmam que agora estão dedicadas à paz.
Nos últimos meses, enquanto o PCC colocava a mira na Colômbia, a quadrilha entrou em batalha nos presídios do norte do Brasil, superlotados, com rivais como a fação carioca Comando Vermelho pelo controle das rotas de tráfico. O conflito sangrento causou a morte de cerca de 120 presidiários no início de janeiro em uma série de assassinatos brutais, com muitas vítimas sendo desmembradas e decapitadas.
Jorge Restrepo, diretor do Centro de Recursos de Análises de Conflitos, com sede na Colômbia, diz que qualquer ligação comprovada entre o PCC e as Farc deve ser motivo de preocupação para a Colômbia, onde o governo está batalhando para desarmar os rebeldes. “Seria a primeira vez em muitos anos que grupos criminosos externos estão trabalhando para recrutar as Farc”, diz Restrepo.
As Farc estão agora reunindo suas forças em duas dezenas de vilarejos, com a ONU supervisionando um processo de desarmamento que deve ser concluído em meados deste ano. Os ex-combatentes devem reintegrar-se à sociedade enquanto a liderança do grupo organiza um partido político de esquerda.
“O acordo de paz entre o governo da Colômbia e as Farc é fantástico”, diz Vladimir Aras, promotor que chefia a Secretaria de Cooperação Internacional da Procuradoria-Geral da República brasileira. “Mas ele gera um efeito colateral, que será a ociosidade de muitos membros das Farc.”
Alguns combatentes optaram por não participar do processo. Unidades de guerrilha nas selvas sem lei do sudeste da Colômbia, perto da fronteira com o Brasil, desertaram por causa do pacto de paz. A liderança das Farc expulsou recentemente cinco comandantes dissidentes, todos daquela região.
O ministro da Defesa colombiano, Villegas, diz que espera uma taxa de dissidência de cerca de 5%, mas a organização de monitoramento de crimes InSight Crime estima que o percentual poderia ser muito maior se os membros da base de apoio urbana das Farc forem incluídos, que atuavam em operações de coleta de informações e de provisões para os rebeldes.
As ligações das Farc com o Brasil foram evidenciadas pela primeira vez em 2001, quando militares colombianos prenderam Luiz Fernando da Costa, ou Fernandinho Beira-Mar, líder do Comando Vermelho, no sudeste da Colômbia. Mais tarde, ele admitiu comprar cocaína das Farc e ajudar o grupo a adquirir armas. Condenado por assassinato e narcotráfico, Costa continua preso.
“Há uma história comprovada entre os dois lados”, diz Jeremy McDermott, que monitora o comércio de drogas da Colômbia para a InSight Crime.
ROGERIO JELMAYER / KEJAL VYAS / SAMANTHA PEARSON
Foto: JOSEMAR GONCALVES/REUTERS – Um presidiário usa um escudo com as iniciais PCC durante uma rebelião no presídio de Alcacuz, em Natal, no Rio Grande do Norte.
Fonte: WSJ

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