As peças e as engrenagens do crime no Brasil


José Maria Pereira da Nóbrega Júnior

A criminalidade tem provocado debates intensos nas redes sociais e nos veículos de mídia. Em Pernambuco, governo e oposição se digladiam em conflitos abertos a respeito da (in)segurança pública do estado, o que tem provocado mais desespero na população. Falta ciência no debate, sobram chutes e pontapés. Contra isso, o cientista social deve focar nas peças e engrenagens do crime para classificá-lo buscando traduzir o seu modus operandi para traçar quais ações devem ser tomadas pela gestão da segurança pública.

Cada evento criminoso tem as suas características próprias. Resultado da observação (conhecimento teórico e empírico) da criminalidade classifiquei alguns tipos de crimes, sua engenharia (peças e engrenagens básicas) e o modo pelo qual o Estado deve agir:

1.  Assaltos a ônibus: é frequente este tipo de crime nas regiões metropolitanas do país. Geralmente, são praticados por pequenos marginais, jovens e pobres. Estes buscam lucro imediato e pequeno. A relação custo/benefício deste tipo de ação é muito desequilibrada, pois o risco é grande para o resultado diminuto da ação. Uma ação pontual do Estado nas linhas de maior risco – que passam por rodovias em horários noturnos, por exemplo – já diminui bastante o espaço desta prática criminosa.

2.   Homicídios: a maior parte das mortes vitima jovens entre 20 e 29 anos de idade, ou seja, em idade produtiva. Estes possuem baixo nível de escolaridade, facilmente recrutados para o crime de pequena e média organização. Requer controle através de diagnósticos estatísticos bem desenhados; ocupação dos espaços pela polícia (áreas quentes); ações preventivas de emprego e renda; prisões focalizadas em homicidas seriados.

3.  Assaltos a bancos/caixas/carros forte/transportadoras de valores: exige maior nível de sofisticação do crime. Os bandidos possuem alto nível de conhecimento técnico, buscam lucros altos. Requer maior sofisticação da Segurança Pública com inteligência. Perpassa a questão policial militar. É fundamental parcerias com ABIN, as Forças Armadas e Polícia Federal. 

     Segurança Pública é uma área setorial de políticas públicas que o Estado deve prover como direito civil e social. Para que esta área seja bem-sucedida, é extremamente importante o uso de pesquisa científica e, sobretudo, de frieza na análise da realidade da criminalidade violenta no estado o qual a política precisa ser exercida. Bons governos tomam boas decisões e para isso a ciência é imprescindível.


José Maria Nóbrega Jr. é cientista político e professor da UFCG.

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