Tirania Universitária
Publicado no Jornal do Commercio, 31.12.2016, Opiniões.
Alexis de Tocqueville
foi um dos importantes filósofos da política moderna a se preocupar em definir
o conceito de tirania. Para ele, tomadas de decisão de maioria, ou de minoria,
seriam ilegítimas quando estas afetassem direitos individuais de outros atores
sociais. Faz tempo que, nas universidades públicas do Brasil, decisões de
minorias travestidas de “democrática” atingem direitos da grande maioria
universitária. A depredação no CFCH e no CAC esta semana representa bem do que
é capaz a tirania universitária.
Faz anos que ser de
“direita” no ambiente universitário é mote para o sujeito ser perseguido e
patrulhado por estudantes e colegas de “esquerda”. A esquerda universitária se
tornou o policial ideológico dentro das universidades públicas. Além de
intolerantes com os alunos e professores que não militam em seus exércitos,
passaram, depois do impeachment, a um radicalismo escancarado.
As ditas “ocupações” das
universidades são resultado desse radicalismo. Em nome de uma distorcida
“justiça social”, grupos de estudantes formados sob bandeiras radicais passaram
a ditar as regras dentro dos campus universitários. Tudo sob o olhar perplexo
da maioria e negligenciado pela administração universitária que, de forma leniente,
apoiou o movimento. Em alguns casos, colegas nossos assinaram moções de apoio a
tais “ocupações”.
No lugar onde a
democracia moderna nasceu dificilmente um gestor universitário ficaria inerte a
uma situação na qual a liberdade de seus docentes estaria ameaçada. Mas, aqui é
o Brasil, lugar onde a democracia ainda está longe de sua consolidação, em que as
suas instituições universitárias cambaleiam em seus processos.
Precisamos ficar
atentos a certos movimentos sem legitimidade/legalidade nas universidades
públicas. Grupos não eleitos, não institucionalizados, não podem ditar regras,
sobretudo regras tiranas, dentro das instituições de ensino e pesquisa
superiores do país. Ainda mais com a conivência dos seus dirigentes.
O uso da força
coercitiva deve ser imediato em casos de tiranias universitárias. O direito da
maioria a ter o serviço público prestado é fundamental e deve ser premissa da
gestão universitária. Espero que, com o ocorrido na UFPE, tenhamos aprendido a
lição.
José
Maria Nóbrega Jr. é cientista político da Universidade Federal de Campina
Grande, PB.
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