Prognóstico acertado
José
Maria Nóbrega Jr.
Em meados de 2016
afirmei que, se os homicídios em Pernambuco continuassem no ritmo de
crescimento de 2013 a 2015, teríamos, ao final do ano, 4.358 assassinatos. Com
os dados quase consolidados para o ano de 2016, na SDS-PE, os homicídios fecharam
o ano com a cifra de 4.380 mortes registradas pelo departamento de estatística
do órgão.
Em 2013 foram 3.102
homicídios perpetrados em Pernambuco, em 2014 foram 3.434 e em 2015 foram registrados
3.891. O crescimento percentual foi de 41% em três anos. Isso comprova a
falência do Pacto Pela Vida, programa que chegou a ser responsável pela redução
de 35% dos homicídios entre 2007 e 2013.
As causas para a volta
do crescimento dos homicídios em Pernambuco precisam ainda de estudos mais
acurados, porém, algumas hipóteses podem ser levantadas para que sejam traçadas
algumas linhas para possíveis testes causais.
A primeira hipótese
seria a mudança de governo que, de certa forma, rompeu com as tomadas de
decisão anteriores. O governo anterior tinha metas claras e um diálogo
permanente com as principais lideranças das polícias civil e militar. Pelo que
parece, esse diálogo foi rompido e o discurso de autoridade do governo se
tornou um óbice para o avanço na gerência com o pessoal da segurança pública.
Isso pode ter gerado queda na produção de inquéritos policiais, de
investigações bem-sucedidas e de denúncias com autoria no ministério público, além
da desarticulação entre as polícias civil e militar.
A segunda hipótese seria
o descontrole total do estado em seu sistema carcerário num momento de crise no
conflito entre as principais facções criminosas do país, com destaque para a
queda de poder do PCC. Os conflitos dentro dos presídios se tornaram mais
frequentes bem como os homicídios fora dele.
Essas duas hipóteses
necessitam de testes causais mais rigorosos. Contudo, tendo como base as nossas
análises no Núcleo de Estudos da Violência da UFCG, dificilmente o crime
violento tem relação com indicadores socioeconômicos e, quando tem alguma
relação, o nível de significância estatística é muito baixo.
Por isso, a retomada do
estado (governo) das rédeas da segurança pública começa com o diálogo bem-sucedido
com os principais atores do sistema e com a coragem do gestor público em controlar
o sistema carcerário pernambucano.
José
Maria Nóbrega Jr. é cientista político da Universidade Federal de Campina
Grande, PB.
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