O cárcere alimentando o crime
Por José Maria Nóbrega Jr.
O crescimento da
criminalidade no Brasil tem forte correlação com o aumento de sua população
carcerária. Entre 1990 e 2014 houve incremento de 575% de pessoas sob a custódia
do estado. Isso foi fator decisivo para o surgimento de novas e violentas
facções criminosas, já que o estado não foi capaz de manter o controle dentro
das prisões.
As principais facções
criminosas do Brasil surgiram da lacuna estatal nos sistemas penitenciários do
Rio de Janeiro e São Paulo. Comando Vermelho (CV) no Rio e o Primeiro Comando
da Capital (PCC) em São Paulo se tornaram hegemônicos e se expandiram nos
demais estados. Até recentemente mantiveram um equilíbrio de poder nos
presídios. Mas, com a expansão no norte e nordeste e a ruptura entre as
principais facções, o equilíbrio de poder foi desfeito.
A lógica do crime das
facções é a seguinte: quanto mais sócios, mais força. Quanto mais pessoas
presas, mais poder. Seguindo esta lógica, o próprio estado foi responsável por
alimentar o poder das facções, estimulando a criação de novos grupos e, por sua
vez, dos conflitos por poder.
Com o equilíbrio de
poder desmontado entre as principais facções e o surgimento de novas facções, os
membros do PCC passaram a ser ameaçados pelos novos grupos – muitos deles se
associaram ao CV -, o que resultou na carnificina que estamos presenciando no
norte/nordeste.
O senso comum pressiona
o estado por mais rigor nas prisões. Mas, quanto mais presos no sistema, mais
indivíduos preenchem as trincheiras das organizações criminosas. As prisões
desenfreadas não garantem o controle do crime, pelo contrário, fortalece as
quadrilhas criminosas resultando em mais crimes (patrimonial e contra a vida).
Muitos indivíduos presos por crimes de menor potencial terminam sendo
recrutados pelas quadrilhas e se tornando criminosos violentos.
As medidas paliativas
adotadas pelos governos do norte/nordeste não sanarão o problema do conflito
entre as facções. Em algum momento a carnificina vai cessar, mas não devido ao
controle estatal, e sim ao reequilíbrio de poder entre as facções criminosas
dentro dos presídios. O descontrole estatal continuará em nossa rotina.
Excelente explicação, Professor.
ResponderExcluir