As facções e a Ciência Política
Publicado no Jornal do Commercio, Opiniões, em 17.01.2017.
Há décadas que o mainstream da Ciência Política só se
preocupa com a relação formal entre Legislativo e o Executivo. Faz pouco tempo
que a judicialização da política entrou na pauta dos estudos científicos na
área. Crime, violência e segurança pública continuam a margear os nossos
cientistas políticos.
Com a ordem do dia
mostrando o verdadeiro “estado de guerra hobbesiano” no sistema penal
brasileiro, a maior parte dos cientistas políticos ficou sem saber explicar
quais as reais causas de tanta carnificina. Afirmo que o “poder” está no centro
da questão. Mesmo com a lacuna proporcionada pelo estado, o que assistimos hoje
no sistema penitenciário nacional é uma luta pelo poder.
As principais facções
criminosas são o resultado dessa lacuna proporcionada pelo estado no sistema
penal. PCC e Comando Vermelho dominaram a cena da criminalidade violenta nas
duas primeiras décadas da nossa semidemocracia. Com o avanço tecnológico, o
crime também se aperfeiçoou e novas facções surgiram no norte e nordeste.
Os aprisionamentos se
tornaram mais frequentes, bem como o tráfico de drogas e as brigas pelo poder
nas comunidades das regiões metropolitanas. Os presídios, sempre deficitários
de vagas, se tornaram verdadeiras bases da criminalidade organizada. Com a
política de apreensão constante, mais adeptos entraram nas facções criminosas.
Sentindo o efeito do
crescimento do crime no norte/nordeste, o PCC e CV fizeram parcerias para
potencializar a engenharia do crime. O PCC se tornou muito forte em todas as
unidades federativas, com destaque para o norte/nordeste onde a fragilidade do
sistema é maior.
Com a ruptura entre PCC
e CV este último passou a se filiar às novas facções e a guerra se tornou
inevitável. Estamos assistindo a uma guerra dentro dos presídios e ficamos
perplexos por não enxergar ações incisivas do estado no intuito de controlar
esses conflitos. Na verdade, com a participação de alguns atores estatais na
facilitação do seu funcionamento.
A Ciência Política
precisa sair de sua redoma institucionalista e passar a ver nos conflitos gerados
pela criminalidade um campo importante de análise. A disputa pelo poder no
crime atinge diretamente a qualidade da nossa já frágil democracia.
José
Maria Nóbrega Jr. é cientista político da Universidade Federal de Campina
Grande, PB.
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