República e Crime
José Maria Nóbrega Júnior
A
engenharia criminosa no Brasil é muito complexa. Suas peças e mecanismos
apontam para a impossibilidade de sucesso de suas práticas, sem a presença de
atores estatais corruptos em suas engrenagens. A Operação Lava-Jato, as prisões
de políticos importantes e o recuo do STF em relação ao presidente do Senado
são dados empíricos que demonstram que o crime está na base de nossa República.
O republicanismo é um valor fundamental para
o funcionamento estável e liso das instituições de uma democracia consolidada.
Quando o sociólogo Michel Misse define o conceito de “mercadorias políticas”
como um dispositivo no qual o poder político só é exercido com trocas entre
atores estatais e criminosos, isso nos serve como aparato teórico-social para a
análise política do poder no Brasil.
A Operação Lava-Jato revelou a relação
espúria entre políticos e grandes empresários. Suas peças e engrenagens estão
trazendo a público como a corrupção é combustível para o endosso do poder
político.
Na calamidade do Rio de Janeiro, alguns
governadores foram verdadeiros ‘chefes de quadrilha’. Sérgio Cabral, por
exemplo, montou um esquema corrupto de complexa engenharia do qual resultou a
falência do estado.
Comando Vermelho, PCC e as milícias são organizações
que não sobreviveriam sem a relação criminosa com atores estatais corruptos. O
poder político se torna infiltrado por atores sociais financiados com o
dinheiro do tráfico de drogas, das máfias do jogo do bicho e do tráfico de
armas pesadas.
Os presídios são o reflexo da corrupção e da base
criminosa que alicerça a República brasileira. Os grupos criminosos mais
famosos, Comando Vermelho e PCC, nasceram da lacuna estatal e da fortíssima
corrupção de seus atores políticos institucionais. Isso resultou na dinamização
do crime organizado em todas as unidades da federação.
Hoje, o crime organizado intra e extra
estatal é uma realidade nacional. Dentro e fora dos presídios ele cobra o seu
preço (violência). Nossa semidemocracia tem como base uma estrutura
cleptocrática difícil de ser extinta. A base corrupta e criminosa do estado
brasileiro está exposta nas relações espúrias entre atores estatais e grupos
criminosos dentro e fora dos presídios, e, também, de dentro e de fora das grandes
empresas nacionais.
José Maria Nóbrega Júnior é cientista político da Universidade Federal
de Campina Grande, PB.
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