Armas e Hobbes
Publicado no Jornal do Commercio, Recife, em 26 de novembro de 2016, na Coluna Opinião.
José Maria Nóbrega Júnior
Desde
que o homem passou a viver em sociedade, guerras e conflitos fazem parte de sua
história. Todo homem é opaco aos olhos
de seu semelhante. Poder e riqueza são princípios pelos quais parte significativa
da História da Humanidade foi movida. Lanças, espadas, arcabuzes, escopeta, pistolas
e fuzis, dentre outros artefatos, foram e são usados com frequência. A nossa
natureza é conflituosa e a posse de armas é necessária para manter as relações
humanas sob respeito mútuo. Estado desarmado é estado vulnerável.
A base filosófica do mundo moderno é
hobbesiana. Thomas Hobbes, pensador contemporâneo da Guerra Civil Britânica,
expôs em ‘Leviatã’ o verdadeiro
fulcro natural do ser humano: a ganância, a ânsia pelo poder.
Sem um poder suficientemente forte para
manter todos em respeito, dificilmente a ‘paz’ seria sustentada por muito
tempo. A guerra e a carnificina, resultado da disputa pelo poder, se tornaram
mais sangrentas na modernidade. Apenas a diplomacia das instituições políticas não
daria cabo à guerra de todos contra todos. A corrida armamentista resultou do
recrudescimento de nossa natureza.
Contudo, passados mais de três séculos da
produção do ‘Leviatã’, e mesmo após a
catástrofe da Segunda Grande Guerra, parece pouco provável que declinaremos do
uso das armas.
As instituições internacionais de ativistas
dos Direitos Humanos rechaçam as indústrias das armas e denunciam o descaso das
grandes nações a respeito do (des)controle de tais indústrias em suas plagas. Porém,
esquecem da natureza humana que nos guia. Uma natureza competitiva e destrutiva
ao extremo. Resultando em Estados cada vez mais necessitados de armas e
munições.
Qual será a primeira grande nação
‘desenvolvida’ a largar as suas armas em nome de tratados e contratos sociais
feitos por atores políticos hobbesianamente
constituídos? Nenhuma!
Hobbes afirmava que a natureza dos homens
reflete em suas construções políticas e sociais. A desconfiança é forte no
conjunto da sociedade moderna, e isso pode ser visto nos constantes mecanismos
institucionais de controle que o homem edifica.
Como a natureza humana não vai mudar, as
armas continuarão a existir num mundo permanentemente em estado de guerra (real
ou velada).
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