Sistema Penitenciário
José Maria Nóbrega Júnior
Na edição do Fantástico do dia 16
de outubro, assistimos a cenas deploráveis de homens, em situação de
selvageria, a se digladiarem em lutas sangrentas dentro do complexo
penitenciário do Curado. Todos sabem que o sistema penitenciário brasileiro é
falido, não resta dúvida. Mas, não podemos acreditar que essa falência seja
compatível com a democracia.
Baseado no levantamento nacional de informações penitenciárias, farei um
pequeno “raio x” da situação do quadro do sistema penitenciário nacional.
Observando os indicadores de encarceramento, a situação falimentar do
sistema é visível. Dados de 2014 demonstram que a população prisional
brasileira ultrapassa as 600 mil pessoas. A taxa de ocupação é de 161% e a taxa
populacional é de 299 presos por cem mil habitantes. O déficit do sistema
ultrapassa as 230 mil vagas. Há mais de vinte anos o encarceramento foi
incrementado em mais de 570%.
Pernambuco só perde para São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais em população
penitenciária. A taxa de presos no sistema pernambucano ultrapassa a média
nacional, sendo quase 340/100 mil. Um barril de pólvora que não está sob o jugo
estatal. Sendo terra de ninguém, pode ser comparado a um estado de natureza hobbesiano.
O que mais impressiona é o fracasso da lei de execução penal, pois mais
de 40% das pessoas detidas pelo estado brasileiro estão sem condenação, ou
seja, não passaram por um processo legal. São indivíduos punidos demais numa
realidade na qual a impunidade é uma de suas marcas.
Em Pernambuco, o dado é mais alarmante. Dos mais de 30 mil detidos pelo
sistema, quase 60% não foi julgado. O que alimenta ainda mais a probabilidade
de rebeliões e violência interna e externa aos muros do cárcere.
O presídio, como a escola, o hospital, a universidade ou qualquer outra
instituição pública, deve passar pelo mesmo principio de ordem e controle. Sem
o mínimo de gerência do sistema, o resultado inevitável é o crescimento da
criminalidade e da insegurança em sociedade. O sistema penitenciário nacional é
um bom termômetro para avaliarmos a qualidade da democracia. E, pelo que vimos,
este termômetro já explodiu há muito tempo!
José Maria Nóbrega Júnior é cientista político da Universidade Federal
de Campina Grande, PB.
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