A interiorização dos homicídios no sertão paraibano e sua dinâmica peculiar
A
interiorização dos homicídios no sertão paraibano e sua dinâmica peculiar
José Maria Pereira da
Nóbrega Júnior – cientista
político, professor da UFCG e Coordenador do NEVU.
Na Paraíba, os resultados
das políticas públicas de segurança na redução dos homicídios são sentidos na
região metropolitana de João Pessoa, fora dela os efeitos são muito tênues e,
em algumas cidades, mesmo inexistente.
Analisando os dados de
mortes por agressão do SIM/DATASUS (que computa todas as mortes violentas
provocadas de forma intencional), percebemos uma dinâmica diferenciada.
Enquanto na Paraíba como um todo, há uma linha de tendência positiva linear, em
cidades do sertão paraibano a linha é excessivamente oscilante com um período
de explosão pós-2005.
Analisando uma série
temporal relativamente longa, de 1996 a 2014, observamos que os homicídios
cresceram exponencialmente como bem mostra a linha de tendência no gráfico 01.
Gráfico
01.
Fontes:
SIM/DATASUS/IBGE. Dados populacionais tem como base os censos e estimativas
produzidas pelo IBGE, os dois últimos anos (2013 e 2014) foram utilizados a
estimativa de 2012. Cálculos das taxas de homicídios/mortes por agressão por
cem mil habitantes do autor.
Analisando toda a série
histórica, percebe-se claramente que o período mais violento se estende entre
os anos de 2005 e 2014, em que, a partir de 2011, rompe-se com o crescimento acentuado.
Entre 1996 e 2005, o crescimento nas taxas é pequeno, 8,9%, a taxa cai até
1999, depois volta a crescer. De 2005 a 2011, quando há a explosão, o
percentual de incremento na taxa foi de 105,3%.
É justamente a partir de
2005/2006 que o Nordeste passa a ser mais violento que a região Sudeste. O
momento de inflexão demonstra que há uma clara migração e/ou deslocamento do
crime violento (Cf. gráfico 02).
Gráfico
02.
Fontes:
SIM/DATASUS/IBGE. Dados populacionais tem como base os censos e estimativas
produzidas pelo IBGE, os dois últimos anos (2013 e 2014) foram utilizados a
estimativa de 2012. Cálculos das taxas de homicídios/mortes por agressão por
cem mil habitantes do autor.
De 2005 a 2014 o Nordeste
teve um incremento de 70,5%, já o Sudeste apresentou redução de -21,6% com uma
leve tendência de crescimento no final da série histórica (Cf. gráfico 2).
Analisando os dados de
Bayeux e João Pessoa, representando a região metropolitana, é clara a tendência
de queda nos últimos anos em suas taxas de homicídios (Cf. gráfico 03).
Gráfico
03.
Fontes:
SIM/DATASUS/IBGE. Dados populacionais tem como base os censos e estimativas
produzidas pelo IBGE, os dois últimos anos (2013 e 2014) foram utilizados a
estimativa de 2012. Cálculos das taxas de homicídios/mortes por agressão por
cem mil habitantes do autor.
Observando a dinâmica,
mais uma vez os dados demonstram maior crescimento entre 2005 e 2008/2009.
Bayeux chegou a ter uma taxa de homicídios de 83/100 mil em 2009. Mas, entre
2009 e 2014 a queda nas taxas foi de -38%, com a taxa de 50,7. Mas, ainda, nada
parecido com as taxas anteriores ao ano de 2003, quando, em um ano, 1999, a
taxa foi menor que 10/100 mil.
João Pessoa apresenta dinâmica
parecida, onde os números apresentam queda a partir de 2011, mas que este ano
foi o pico com mais de 70/100 mil no cálculo da taxa. Entre 1999 e 2011 houve
126% de crescimento na taxa de homicídios e de 2011 a 2014 uma queda de -19%, e
a taxa de homicídio ainda é bastante alta, 60/100 mil em 2014 (Cf. gráficos 03).
Agora, vejamos a
intrigada dinâmica das taxas de homicídios da cidade de Patos, sertão
paraibano.
Gráfico
04.
Fontes:
SIM/DATASUS/IBGE. Dados populacionais tem como base os censos e estimativas
produzidas pelo IBGE, os dois últimos anos (2013 e 2014) foram utilizados a
estimativa de 2012. Cálculos das taxas de homicídios/mortes por agressão por
cem mil habitantes do autor.
Entre 1996 e 2005 os
dados apresentaram uma cadeia de subidas e descidas entre 9/100 mil e 30/100
mil. De 2005 a 2008 houve uma explosão radical dos dados, na qual a taxa chegou
ao pico de 58 homicídios/100 mil. É clara uma segunda fase de violência
homicida em Patos a partir de 2008 até o final da série histórica com oscilações
entre os 44 e 58 homicídios/100 mil.
Entre 1996 e 2014, o
crescimento dos homicídios foi na ordem de 140% nas taxas calculadas por cem
mil habitantes. De 1996 a 2005 houve grande oscilação nos dados os quais no ano
de 1999 foi de 9,6/100 mil e, em 2004 de 30/100 mil. A explosão se deu entre
2005 e 2008, na qual as taxas foram incrementadas em 286,6%, que em 2006 apresentou
a taxa de 12/100 mil e 2008 uma taxa de 58/100 mil (cf. gráfico 04).
Patos tem uma população
estimada em pouco mais de 100 mil habitantes, tem uma economia pujante e é o
sexto PIB[1] da Paraíba perdendo apenas
para a Região Metropolitana e a cidade Agrestina de Campina Grande. Patos é uma
“cidade rica em minério e centro de
comercialização da agricultura regional, (...) destaca-se como um
dos municípios de mais rápido desenvolvimento industrial do sertão paraibano” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Patos#Economia:
acesso em 2016).
Patos é a cidade mais
importante do Sertão paraibano e está sendo alvo de intenso tráfico de drogas e
de práticas regulares de crimes contra à
vida. É necessário fazer testes causais mais intensos para saber o que
implica mais no crescimento dos assassinatos, mas uma hipótese bastante
plausível é a imigração de criminosos e do próprio crime das grandes regiões
metropolitanas do país para cidades do interior onde a atividade econômica é
mais intensa e atraente. Afinal, o crime é uma questão de cálculo estratégico,
o criminoso tende a migrar para lugares onde a sua atividade criminal possa ser
bem-sucedida.
Os homicídios explodiram
na cidade de Patos a partir do ano de 2005 e nunca mais voltou a patamares anteriores
a este período. Comparando a dinâmica do Nordeste, da Paraíba e da cidade de
Patos através das comparações entre os gráficos, é perceptível que o processo
de interiorização da criminalidade precisa de uma maior atenção dos
especialistas da área da segurança pública.
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