Os números do Pacto pela Vida: uma política que se perdeu
Por
José Maria P. da Nóbrega Júnior – Professor de Ciência Política da UFCG e
Coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da UFCG (NEVU).
No último Altas da
Violência publicado pela parceria entre o IPEA e o Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, os resultados da criminalidade medida pelos números de
assassinatos colocou o Nordeste como o “campeão” regional do país. O dado
relevante da pesquisa, já propagado pelas nossas pesquisas no âmbito do Núcleo
de Estudos da Violência da UFCG (NEVU), foi o fato de que o único estado desta
região a apresentar redução nos números de assassinatos ter sido Pernambuco. A
pesquisa analisou o período 2004/2014, e Pernambuco apresentou -25% de redução
nos homicídios segundo a pesquisa, e, com os dados do NEVU, -17,7% de redução
no mesmo período. Os pesquisadores alegaram a política de segurança pública bem-sucedida
do estado de Pernambuco como o principal fator redutor desses números, dentre,
é claro, outras variáveis importantes.
Minha pretensão aqui será
avaliar um pouco mais detalhadamente os números de homicídios em Pernambuco no
período de implante do Pacto Pela Vida (PPV) até os últimos anos de dados
disponíveis. É bom destacar que os dados de 2007 a 2013 são do Subistema de Informação
de Mortalidade do Sistema Único de Saúde (SIM/SUS) e os dados de 2014 e 2015 são
frutos dos registros catalogados pela Secretaria de Defesa Social de Pernambuco
(SDS-PE). Também destaco a qualidade na prestação de contas dos dados desta
Secretaria que estão disponíveis no site do governo do estado.
A principal meta do PPV
era(é) reduzir em -12% ao ano os números de assassinatos em Pernambuco. Isto
consta no relatório do PPV de maio de 2007, com ampla divulgação na imprensa e
nos meios eletrônicos. O interessante, é que não houve uma explicação
metodológica da escolha deste número. Por que não -6%, ou -10%? O fato é que, o
único ano do qual esta meta foi alcançada foi o ano de 2010, quando houve -491
mortes registradas em relação ao ano de 2009. Todos os outros anos a meta não
foi alcançada, em que a média anual 2007/2013 foi de -5,3%. Ou seja, a meta
ficou distante!
Outro fator relevante
está nos dados dos últimos dois anos, 2014 e 2015. Segundo os dados disponíveis
no Site da SDS-PE, o crescimento de 2013 a 2015 foi de 25,4% nos números de
homicídios, com uma média anual de 8,4% a mais ao ano. Em 2013 foram
registrados 3.102 assassinatos, o menor desde 2007, contudo este dado cresceu
em 2014 em mais 10,7% em relação a 2013, com registros de 3.434 mortes, e mais
13,3% na relação 2014/2015, no qual foram registrados mais 3.891 óbitos. Mantida
a média, ceteris paribus, o ano de
2016 poderá registrar mais de 4.200 homicídios, fazendo com que todo o esforço do
estado na contenção da violência – gastos públicos e capital humano - tenha
sido em vão.
Outrossim, os dados de
roubos de veículos, furtos de veículos, roubo de carga e tráfico de drogas
também apresentaram registros de crescimento, não obstante, os crimes de
estupro, porte ilegal de arma de fogo e roubo a instituição financeira
apresentaram dados redutores em seus registros, segundo os dados do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública.
Pelo que parece, depois
de anos de queda da violência – na maior parte das vezes abaixo da meta – o PPV
se perdeu como política pública. Com 25,4% de crescimento dos homicídios entre
2013 e 2015, não nos parece plausível que o ano de 2016 apresente queda nos
números e, mantendo a tendência, voltaremos aos dados terríveis de antes do
implemento do PPV.
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