A Democracia brasileira: história recente
Por José Maria Pereira da Nóbrega Júnior –Professor de
Ciência Política da Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba, Brasil.
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Redemocratização e a questão da
consolidação democrática
A transição da ditadura militar
para a democracia se deu sob a tutela das Forças Armadas brasileiras. Zaverucha
(1994), em estudo comparativo, demonstrou que a tutela amistosa civil/militar
institucionalizou um tipo de regime político no qual muitas das prerrogativas
militares foram mantidas mesmo após o processo transitório. Na constituinte de
1987 os atores políticos pró-militares agiram como veto players na condução de uma constituição menos ligada ao
aparato militar do regime anterior. O resultado foi a manutenção de
dispositivos formais na Constituição Federal de 1988 que mantivera nas Forças
Armadas prerrogativas políticas na garantia da lei e da ordem internas
(Zaverucha, 1994 e 2000).
O processo de redemocratização
também veio com fortes complicadores do ponto de vista da participação política
do cidadão no processo de escolha de governantes. O primeiro presidente eleito
no novo regime democrático, Fernando Collor de Melo, foi impedido em seu
mandato dois anos após a sua assunção no cargo mais importante da República.
Os partidos políticos ainda eram
embrionários e a corrupção ainda era muito pouco combatida. Apesar disso, o
primeiro presidente eleito após a ditadura militar foi afastado do cargo por
corrupção.
A eleição do sociólogo Fernando
Henrique Cardoso (FHC), veio como uma evolução dentro do processo político
partidário brasileiro, em que este ator político teve papel importante na
recondução do país na economia internacional. Seu grande trunfo foi o Plano
Real, plano econômico que estabilizou a moeda e levou o país a um equilíbrio
fiscal, dando prerrogativas ao Brasil de se enquadrar no quadro político
internacional como um país em evolução econômico-institucional.
Depois de dois governos de FHC, o
país equilibrou suas finanças e, com a criação da Lei de Responsabilidade
Fiscal[1],
mostrou ao mundo desenvolvido a vontade do país em reforçar suas instituições e
de criar um quadro normativo adequado às exigências externas dos órgãos
internacionais.
Em seguida, e depois de três
disputas eleitorais, o ex-operário e líder do principal partido de massas do
país, o Partido dos Trabalhadores (PT), Luís Inácio Lula da Silva, ou
simplesmente o Lula, conseguiu alcançar o topo, no cargo mais importante do
país ao se tornar presidente da República. Pela primeira vez na história do
país, um indivíduo advindo das classes populares.
O governo do Lula foi responsável
por um amplo progresso social através de políticas sociais inclusivas e
redistributivas que foram capazes de arrefecer em quase 80% o nível de extrema
pobreza no país, tornando-o um grande líder popular.
Logo no primeiro mandato do governo
de Lula o escândalo do “mensalão” maculou pela primeira vez o líder popular
mais expressivo que a América Latina conheceu. Os escândalos de corrupção
continuaram no segundo mandato do Lula e prosseguiu nos mandatos da sua
sucessora pelo o mesmo partido, Dilma Rousseff[2].
Os escândalos de corrupção levaram
à tona a participação dos principais partidos políticos em esquemas de lavagem
de dinheiro e de propinas em troca de contratos fraudulentos com grandes
empresas brasileiras, principalmente as construtoras, mostrando que os partidos
políticos, em troca de benefícios contratuais com as empresas envolvidas no
esquema, levantavam grandes cifras para fazer seus candidatos vitoriosos nas
eleições.
O esquema de corrupção com a
utilização da principal empresa nacional, a Petrobrás, e os benefícios
contratuais das empresas em verdadeiras trocas de vantagens econômicas por
propina, demonstrou que o processo eleitoral brasileiro não funciona sem esses
dutos ilegais e criminosos com o dinheiro do contribuinte.
Isso reforçou o quadro de
desconfiança da população em seus políticos e, sobretudo, nos partidos
políticos. Pesquisas realizadas pelo Professor Doutor José Álvaro Moisés, da
Universidade de São Paulo, demonstram um total desprezo do brasileiro pelos
partidos políticos. Isso é bastante visível nas últimas manifestações de rua,
onde bandeiras de partidos políticos, de qualquer viés ideológico, não foram
vistas.
A democracia brasileira vive uma
crise de identidade. Já se passaram trinta anos da redemocratização e o que
vemos são partidos políticos pouco representativos e confiáveis, uma grande
gama dos eleitores insatisfeitos com o resultado proporcionado pela democracia política
e um nível de desconfiança nos partidos políticos e nas instituições políticas
muito alto.
Para concluir, a presidente Dilma
cometeu erros crassos em sua forma de se relacionar com o congresso e, com um
parlamento bem mais conservador, com impopularidade crescente, o seu governo
definha a cada dia. O que percebemos é o ocaso do governo da petista com o
advento de um governo liderado pelo PMDB o qual terá grandes dificuldades em
fazer o país voltar a crescer.
[1] Lei Complementar Nº 101, de 4 de
maio de 2000. Esta lei foi fundamental para a evolução da gestão pública do
país.
[2] “Mensalão” foi o termo cunhado
pela imprensa ao pagamento de mensalidades que o governo utilizava, através de
representantes do mesmo, para angariar maioria no parlamento.
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