A democracia como valor universal
Por José Maria Nóbrega Jr. – Professor
de Ciência Política da Universidade Federal de Campina Grande (PB).
O
que é democracia afinal?
Em
primeiro lugar, democracia é uma forma de governo na qual indivíduos livres e
iguais escolhem seus governantes e representantes para o Parlamento em eleições
limpas, pluripartidárias e periódicas num amplo sufrágio.
O
estado de direito é o ingrediente fundamental da democracia. Ou seja, além do
seu conteúdo eleitoral, a democracia é um regime político dotado de regras e
leis que buscam, no limite, garantir os direitos de cidadania, ou seja, os
direitos civis, políticos e sociais dos cidadãos dentro de seu território. As
bases da democracia moderna são a liberdade e os direitos humanos. Estes, além
de direitos universais, garantidos pelas diversas cartas internacionais
endossadas pelas Nações Unidas (ONU), são valores universais indiscutíveis e
inalienáveis.
A
base da democracia contemporânea é a liberdade. E o pai do liberalismo político
foi John Locke. Este, no seu Segundo
Tratado sobre o Governo Civil, instituiu a base da doutrina liberal que é o
alicerce para que a igualdade de oportunidades se dê em ambiente democrático,
sem tiranias de maiorias ou de minorias. A princípio, as liberdades individuais
estavam atreladas à burguesia, mas com o passar do tempo e das revoluções
socialistas, estas liberdades alcançaram os trabalhadores e pessoas mais
simples. A hierarquia social e as tiranias foram contidas e o povo se instruiu
e desenvolveu suas potências individuais, levando ao desenvolvimento de seus
países e culturas. Onde isto não aconteceu, a pobreza e a tirania ainda se
encontram como algo corriqueiro.
Apesar
do universalismo do conceito de democracia, ela é bastante ameaçada, tanto do
ponto de vista político, quanto do ponto de vista ideológico. Do ponto de vista
político, existem as ameaças dos poderosos que buscam passar por cima do “Império
da Lei”. Do ponto de vista ideológico, nas escolas e universidades professores
doutrinados nas ideias marxistas-leninistas buscam escamotear a verdade,
ludibriando os estudantes, ensinando-os que há uma luta de classes que não
permite o avanço da sociedade e que a saída é superar a democracia política por
um regime de cunho popular. Na verdade, este cunho popular não passa de uma
tirania travestida de democracia.
Por
isso, a democracia deve ser defendida, além do seu caráter político. Deve ser
defendida como um valor universal. Valor este atrelado à liberdade (de
expressão, religiosa, de imprensa, etc.) desde que o uso dessa liberdade não
ofenda a liberdade do outro. Ser católico, evangélico, judeu, islâmico, gay,
ateu, etc., é uma escolha do indivíduo e o estado democrático de direito deve
garantir isto. O valor à liberdade é o primeiro ingrediente de um regime
político democrático. Não há classe superior a outra. Não há luta de classes
que resulte em algo de bom, de justo e duradouro. Estimular a luta de classes
dentro de uma sociedade é querer destruí-la. Querer separar um país entre
brancos e negros, pobres e ricos, certos e errados, católicos e protestantes,
heterossexuais e homossexuais etc. é antidemocrático, para não dizer
autoritário.
Na
América Latina a maior parte dos países não tem um regime democrático
consolidado. Há lacunas, sobretudo no que tange ao seu estado de direito,
muitas das vezes violado pela corrupção, pela violência e pelo descaso das
elites políticas e econômicas. Mas, a superação desses problemas está atrelada
a capacidade de seus povos em exigir avanços nos seus regimes políticos.
Intolerância, qualquer que seja, deve ser rechaçada.
Eleições
devem produzir governos e representantes com compromisso com o povo, com a
cidadania e com a coisa pública. Se há eleições, mas o povo é excluído de sua
cidadania através do estado de direito, não temos democracia consolidada.
Então, para que se consolide, o valor cultural intrínseco em sua ossatura
teórica deve expandir-se para toda a sociedade latino americana, onde a
sociedade deve pressionar seus governos por maior liberdade, maior respeito com
a coisa pública e maior responsabilidade com os seus povos. Democracia é um
regime político que pressupõe liberdade. Onde a liberdade é colocada em xeque
por interesses subversivos de classe, a democracia está ameaçada e, portanto,
não se consolida.
Os
valores liberais devem ser o ponto de partida de uma democracia, sem os quais o
que resta é populismo, corrupção e tirania.
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