Capítulo de livro editado pela EDUFCG tem como tema a Democracia e os Direitos Humanos na América Latina
O
professor José Maria Pereira da Nóbrega Júnior da UFCG, campi de Sumé, acaba de
publicar um capítulo de livro na obra “Tecituras da Democracia: uma visão
plural dos Direitos Humanos e Políticas Públicas” (EDUFCG, 2015). Trata-se de
uma análise teórica da democracia e dos direitos humanos no contexto
latino-americano. Intitulado “Democracia e Direitos Humanos na América Latina”
o capítulo faz uma abordagem teórica da democracia e dos direitos humanos como
conceitos imbricados, ou seja, para que haja garantia dos direitos humanos são
necessárias instituições políticas democráticas para tal.
José
Maria inicia o capítulo do livro argumentando em cima dos diversos conceitos e
definições que a democracia tem na Ciência Política Contemporânea, afirmando
que esta forma de governo tem caráter polissêmico nas diversas análises sobre
regime político. Liberais e socialistas fazem o uso do conceito de acordo com
suas conveniências ideológicas. Para Nóbrega, todas as vertentes tem sua
importância para o debate contemporâneo da democracia e dos direitos humanos,
contudo, é fundamental definir minimamente um conceito para que a análise possa
ser iniciada de forma satisfatória.
Na
sua primeira seção, a democracia como conceito de regime político é confrontada
entre a visão meramente eleitoral com a perspectiva mais abrangente do
minimalismo que reporta a alguns trabalhos que criticaram de forma construtiva
o individualismo metodológico schumpeteriano. Nesta perspectiva, além das
instituições que passam pelo crivo eleitoral, é fundamental observar se os
direitos civis e políticos e a efetividade do governo eleito estão garantidos
institucionalmente. Ou seja, se os direitos básicos de cidadania estão
consolidados e se, de fato, o governo governa sem impedimentos de outros atores
não democráticos (como as forças armadas, por exemplo).
Partindo
de uma definição de democracia mínima, mas não tão restritiva como a encontrada
nas teorias de Schumpeter e Przeworski, Nóbrega Júnior elabora uma teoria da
democracia que tem como pano de fundo o estado de direito democrático, um
estado usável pela maioria e que garanta direitos básicos de cidadania. Para um
conjunto de autores, não há consolidação da democracia sem um estado de direito
com qualidade – o conceito de qualidade está na garantia daqueles direitos,
observados de forma empírica, ou seja, pela experiência dos cidadãos
latino-americanos. O que pode ser feito através de surveys e pesquisas de
opinião pública.
Numa
outra seção do capítulo, o autor demonstra aquela imbricação dos conceitos de
democracia e direitos humanos com a Declaração Universal dos Direitos do Homem
e do Cidadão. Reforça o caráter de qualidade do regime político democrático
quando em bases sólidas do estado de direito que tem como principal norteador
os direitos de primeira geração (direito à vida, aos bens, ao trabalho, ao
tratamento digno e igualitário).
Avalia
a preocupação das Nações Unidas (ONU) em reforçar, nos países, instituições que
se preocupam com os direitos humanos ao instituir um documento para a criação
de órgãos não estatais dentro das instituições de representação, no intuito de
fazer um esforço para que as leis defensoras de direitos civis e políticos não
fiquem apenas no papel. Para a ONU “o fato de existir uma lei que protege
determinados direitos não é suficiente, caso a mesma não preveja também todas
as competências legais e instituições necessárias para garantir a efetiva realização
desses direitos” (ONU, 1995; p. 4).
No
contexto latino-americano as violações aos direitos humanos são constantes e
avassaladoras. A maioria dos países encontra-se em regimes políticos que
garantem eleições com todas as características que a teoria preserva, mas, e aí
segundo termo cunhado pelo cientista político Guillermo O´Donnell, mantém
espaços fora do alcance estatal – as chamadas “zonas marrons” -, onde o que
prevalece é a violência e o crime como regras sociais, levando muitos cidadãos
a encararem o estado de forma muito reticente.
Na
conclusão de seu trabalho, José Maria afirma que “violações aos direitos
humanos é praticamente a regra nos países latino-americanos. Narcotráfico e
milícias no Rio de Janeiro tiram do estado o monopólio da violência instalando
verdadeiros tribunais do crime, onde quem tem poder de decisão é o tirano
corrupto com armas de fogo nas mãos. Grupos de narcotraficantes ditam as regras
do jogo em cidades fronteiriças com os Estados Unidos, no México. Violações do
estado, beirando o autoritarismo propriamente dito, aos seus cidadãos são uma
constante na Venezuela. No Nordeste brasileiro as altíssimas taxas de
homicídios é um reflexo da baixa produtividade do aparato de justiça que não
chega a investigar dez por cento dos homicídios perpetrados na região. A
situação das prisões nos mais diversos países latino-americanos comprova a
falta de gestão e administração dos governos, onde o morticínio intrínseco ao
sistema é constante”.
O
professor José Maria Pereira da Nóbrega Júnior é Doutor em Ciência Política
pela UFPE, professor Adjunto III da UFCG/CDSA (Sumé) e coordenador do Núcleo de
Estudos da Violência da UFCG (NEVU). O livro foi organizado pelos professores
da Universidade Federal de Campina Grande, José Irivaldo Alves Oliveira Silva e
José Marciano Monteiro, do campi de Sumé. Editado pela EDUFCG, o lançamento
será logo após o término da greve dos professores.
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