Violência homicida e sua relação com a renda e o nível de desemprego na Paraíba, 1991 a 2010.
Por
José Maria Nóbrega Jr.[1]
Introdução
A
violência já virou rotina no Estado da Paraíba. O impacto percentual do
crescimento dos números de homicídios ultrapassou o limiar dos 200% em duas
décadas e os dados mais atualizados apontam para a continuidade da escalada do
crime violento. Parte da literatura sociológica aponta para uma forte relação
entre crime violento e os desníveis sociais e econômicos (NÓBREGA JR., 2014).
Esta tese pode ser encontrada no Estado da Paraíba?
Neste
artigo, vou analisar a relação (ou falta dela) entre os dados de homicídios com
a renda domiciliar per capita e o
nível de desemprego na Paraíba, estas últimas variáveis proxy de caráter socioeconômico para o teste da hipótese: “há
relação entre desigualdade de renda e taxa de desemprego com o aumento ou
diminuição dos homicídios. Ou seja, quando há melhoria da renda e diminuição
das taxas de desemprego, há menos violência, esta medida pelas taxas de
homicídios”.
Metodologia dos dados
Os
dados trabalhados aqui foram resgatados de plataformas oficiais. Os dados de
homicídios foram trazidos da plataforma DATASUS (Sistema de Dados do Sistema
Único de Saúde) do SIM (Subsistema de Informação de Mortalidade do mesmo
sistema de dados de saúde). Os homicídios são classificados como “mortes por
agressão” para os anos 2000 e 2010 e “homicídios” ou “mortes intencionais
provocadas por terceiros” para o ano de 1991.
Os
dados de Renda e Taxa de Desemprego foram resgatados da plataforma do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A proxy de renda foi a “renda média domiciliar per capita - %” e a proxy de desemprego foi a “taxa de desemprego - %”.
A
operacionalização dos dados se deu em cálculos percentuais medidos entre 1991 e
2000, entre 2000 e 2010 e entre 1991 e 2010 avaliando os níveis comparativos
ano a ano. Também foram feitos análises de correlação simples dos dados,
avaliando os níveis de relação estatística entre as variáveis independentes
(socioeconômicas) e a variável dependente (taxas de homicídios).
Avaliando os resultados dos
testes estatísticos
Tabela 1. Renda média
domiciliar per capita – R$
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1991
|
2000
|
2010
|
161,49
|
295,79
|
462,29
|
Fonte: IBGE
Entre
1991 e 2000 houve incremento percentual de 83% de crescimento da renda média
domiciliar per capita na Paraíba, que
passou de R$ 161,49 para R$ 295,79. De 2000 a 2010 o incremento se deu na ordem
de 56,2%, passando de R$ 295,79 para R$ 462,29. Se levarmos em consideração
todo o período, de 1991 a 2010, houve 186,2% de crescimento da renda entre os
paraibanos[2]. A melhoria da renda é
fundamental para a melhor performance
da qualidade de vida das pessoas. É uma das dimensões do desenvolvimento humano
(PNUD, 2013).
Tabela 2. Taxas de
desemprego - %
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||
1991
|
2000
|
2010
|
5%
|
14%
|
8,5%
|
Fonte:
IBGE
Avaliando
o nível de desemprego, não temos um comportamento linear como o encontrado na
variável de renda. O desemprego cresceu na década de noventa, não obstante a
melhoria da renda. A taxa de desemprego em 1991 era de 5% e cresceu 180% até
2000. De 2000 a 2010 decaiu para 8,5%, uma queda de 39%, o que foi estimulado
pela melhoria da economia e de outras variáveis, como educação[3] e a renda. Na variação
comparativa (1991/2010) houve crescimento do desemprego em 70%.
Tabela 3. Taxas de
Homicídios
|
||
1991
|
2000
|
2010
|
12,5
|
14,7
|
38,6
|
Fonte:
Banco de Dados do NEVU
No
que tange à violência, os dados demonstram crescimento contínuo. Entre 1991 e
2000, a variação comparativa foi de 17,6%. Entre 2000 e 2010, a variação foi de
162,5%, o que demonstra o período de maior desenvolvimento social e econômico
como o mais crítico do ponto de vista da violência. Em todo o período, 1991 a
2010, o incremento parcial na variação comparativa foi de 208,8%.
Tabela 4. Correlação das
variáveis
|
|
correl
renda/homicídio
|
0,926
|
correl
desemp/homicídio
|
-0,037
|
Fonte:
Banco de Dados do NEVU
Observando
a correlação entre as variáveis, conclui-se que a variável renda teve impacto
positivo. Ou seja, há correlação estatística entre renda e crescimento dos
homicídios na Paraíba. Do ponto de vista econômico, a melhoria da renda está
potencializando a violência no Estado. Do ponto de vista sociológico, a
melhoria da renda aumenta os espaços e alvos potenciais para a prática de
violência. No caso dos homicídios, melhoria da renda aumentou os espaços
criminogênicos numa realidade de baixa intensidade institucional (NÓBREGA JR.,
2011 e 2012; NÓBREGA JR. e ZAVERUCHA, 2013).
Na
questão do desemprego, o modelo de correlação não apresentou significância
estatística. Ou seja, o aumento da taxa de desemprego entre 1991 e 2000 e sua
posterior queda no período 2000/2010 em nada impactou na linha contínua de
crescimento da violência. O impacto do emprego formal na economia do crime é
insignificante na Paraíba. Isso quer dizer que o indivíduo potencialmente
motivado para a prática do homicídio não calcula a possibilidade de lucro no
mercado formal do emprego. Pratica o crime de homicídio sem levar em conta esse
cálculo. Estrategicamente, aumentar o nível de emprego formal na sociedade
paraibana não importa para a diminuição da criminalidade violenta.
Discussão sobre a análise
empírica dos dados
A
violência é um mal social que vem grassando a sociedade paraibana há tempos.
Principalmente a partir do início da década passada, os dados apontam para uma
verdadeira explosão da criminalidade violenta na Paraíba. Este artigo teve o
objetivo de testar a hipótese “há relação entre desigualdade de renda e taxa de
desemprego com o aumento ou diminuição dos homicídios. Ou seja, quando há
melhoria da renda e diminuição das taxas de desemprego, há menos violência,
esta medida pelas taxas de homicídios”.
A
resposta apontada pela análise dos dados estatísticos foi que há relação forte
entre melhoria da renda domiciliar per
capita e o crescimento dos homicídios na Paraíba. Desta forma, apesar da
relação apontada pela correlação impetrada na seção anterior, a hipótese é
refutada quanto ao controle dos homicídios, ou seja, quanto a sua diminuição
num contexto de melhor renda. Na Paraíba, a renda domiciliar per capita, conforme vimos na tabela 1,
teve incremento percentual de 186% entre 1991 e 2010 e os homicídios seguiram
na ascendente com 208% de aumento (tabela 3). A correlação alta entre essas variáveis
apontou para o crescimento da renda com aumento dos homicídios.
Já
no que tange ao nível de emprego, medido pela taxa de desemprego, a correlação entre
as variáveis (taxa de desemprego vs. Homicídios) se mostrou insignificante. Ou
seja, aumentar ou diminuir o nível de desemprego não importa. O criminoso
potencialmente motivado para a prática do delito não leva em consideração em
seu cálculo estratégico o emprego formal. Portanto, a hipótese na qual a
melhoria dos níveis de empregabilidade resultaria em menos violência foi
refutada.
Então,
renda em alta é igual a homicídios em alta. E desemprego em baixa/alta não
interfere na linha ascendente da violência na Paraíba.
Bibliografia
NÓBREGA
JR., José Maria Pereira da (2011). Os
homicídios no nordeste brasileiro. Segurança, Justiça e Cidadania /
Ministério da Justiça. – Ano 3, n. 6, (2011). --Brasília : Secretaria Nacional
de Segurança Pública (SENASP).
NÓBREGA
JR., José Maria Pereira da (2012). Os
homicídios no Nordeste. Dinâmica, relações causais e desmistificação da
violência homicida. ED. UFCG. Campina Grande. PB.
NÓBREGA
JR., José Maria Pereira da (2014). Políticas
públicas e segurança pública em Pernambuco: o case pernambucano e a redução da violência homicida. Latitude,
Vol. 8, nº 2, pp. 315-335.
NÓBREGA
JR., José Maria; ZAVERUCHA, Jorge (2013). Violência
Homicida em Campina Grande e João Pessoa: dinâmica, relações socioeconômicas e
correlação com o desempenho econômico. Revista Brasileira de Ciências
Criminais – IBCCRIM. Vol. 102. Editora Revista dos Tribunais.
PROGRAMA
DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (2013). O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal Brasileiro. Brasília:
PNUD, Ipea, FJP.
[1]
Doutor em Ciência Política pela UFPE. Professor Adjunto da UFCG. Coordenador do
Núcleo de Estudos da Violência da UFCG (NEVU). E-mail: jmnobrega@ufcg.edu.br
[2] Destacar
que o salário mínimo em 2000 foi de R$ 151,00 e em 2010 foi de R$ 510,00,
aumento de 238%. Portanto, em 2000 a renda per
capita estava acima do salário mínimo e em 2010 abaixo. Fundamental dizer
que o salário mínimo passou a ter aumentos percentuais mais expressivos a
partir de 2004. Em 1991, a moeda não era o Real, e a alta inflação do período
corroía o salário do trabalhador.
[3] O IDHM-E
(Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – Educação) das principais cidades
da Paraíba, João Pessoa e Campina Grande, melhoraram em níveis percentuais de
80,4% e 107% respectivamente, no período 1991 a 2010 (Atlas do Desenvolvimento
Humano do Brasil, 2013). A melhoria na Educação provoca melhores índices de
empregabilidade.
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