Em defesa do Pacto Pela Vida
José Maria Nóbrega
Júnior – Cientista Político. Professor da Universidade Federal de Campina
Grande. Coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da UFCG (NEVU).
Em artigo publicado
recentemente no Blog de Jamildo (http://blogs.ne10.uol.com.br/jamildo/2015/02/10/por-que-o-pacto-pela-vida-fracassou/), meu colega, Plínio Nunes, afirmou que o Pacto
Pela Vida (PPV) – Programa do Governo de Pernambuco para a Segurança Pública -,
foi um fiasco, que teve como foco apenas a repressão policial, que foi uma
política pública mal sucedida. Afirmou, também, que prender não tem relação com
a queda da criminalidade, pois a prisão não reflete em menos crimes. Discordo
de suas palavras, primeiramente, por não estarem baseadas em comprovações
empíricas. O PPV foi bem sucedido em relação à queda dos homicídios entre 2007
e 2013 e os dados confirmam isso, e uma das principais causas para esta queda
foram, justamente, as prisões. Estas tiveram impacto na queda dos homicídios.
As taxas de homicídios em
Pernambuco passaram a apresentar redução contínua justamente quando do implemento
do PPV. Entre 2000 e 2008, as taxas de homicídios sempre estiveram acima dos
50/100 mil (cinquenta homicídios por grupo de cem mil habitantes). Após 2008,
os números começaram a cair e no último ano da série histórica, 2013, a taxa
por cem mil foi de 33/100 mil com redução de – 34,4% nas taxas por cem mil. Ou
seja, em sete anos houve redução de -5% ao ano, um dado importante, pois em
Bogotá, exemplo de cidade onde sua política pública de segurança foi
responsável por redução da violência, essa redução foi em média de 6% ao ano,
mostrando que decisões ao nível do governo foram importantes. E eu aponto uma
delas: as prisões importaram!
FONTE:
DATASUS/SIM. Cálculo das taxas do autor.
O PPV teve dificuldades
iniciais quando do comando de João Lyra, a época vice-governador, e de 2007
para 2008 a inflexão dos números se mostrou insuficiente em relação aos
investimentos feitos pelo estado nessa política. Dessa forma, Geraldo Júlio,
naquele momento era secretário de planejamento do governo, assumiu a pasta e as
coisas começaram a acontecer. O secretário pontuou algumas metas e uma delas
era justamente o aumento de prisões de homicidas, sobretudo os contumazes. Isso
surtiu um efeito importante na redução dos homicídios que, claro, tiveram
outros atenuantes, mas as prisões foram importantes.
Os dados nos mostram
isso. As prisões de homicidas acusados por homicídios simples e qualificado
teve incremento percentual expressivo. Quando cruzado o período das prisões com
as taxas de homicídios o efeito é inverso, ou seja, mais prisões e menos
homicídios. Como exemplo, os casos de prisões por homicídio simples cresceu
851% entre 2006 – que teve 407 registros de prisões por este tipo penal – e
2011 – que teve 3.864 prisões por homicídios simples -, mas é bom destacar que
entre 2006 e 2010 o aumento percentual foi de 1.300% já que neste ano foram
mais de cinco mil registros de pessoas presas por esse tipo penal (os dados
foram retirados do DEPEN/INFOPEN).
Essas prisões só foram
possíveis pela melhoria na produção dos inquéritos policiais dentro do DHPP
(Departamento de Homicídio e Proteção a Pessoa). O trabalho cooperativo entre
comandantes da Polícia Militar e de delegados especiais da Polícia Civil foi
outra tomada de decisão importante ao nível da política pública inserida no PPV
que mostrou ser eficaz. Contudo, toda política pública tem limitações e chega
ao seu ponto de desgaste. O PPV hoje pode ter chegado a este desgaste,
sobretudo pelo fracasso em relação aos estabelecimentos penitenciários, que,
como estamos a ver no presente, foi totalmente esquecido pela gestão da
segurança pública do PPV. Daí a necessidade de se rever essa estrutura que, a
nível de América Latina, é uma das grandes lacunas a ser preenchida pela
política pública de segurança.
De toda a forma, não
podemos deixar de salientar o sucesso do PPV na redução dos homicídios que foi
expressiva nos anos de 2008 a 2013. Os dados de homicídios no principal banco
de dados de violência, o DATASUS/SIM, ainda não consolidou o ano de 2014 para
avaliação dos números de homicídios. Dessa forma, afirmar com veemência um
fracasso de um projeto ou programa de política pública sem embasamento
científico é um risco que se corre e que precisa ser destacado.
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